A Semana - Opiniões
Reavaliar para mudar
É preciso ter coragem e muita força
“Toda e qualquer mudança passa por uma reavaliação de nossos parâmetros, de nossos comportamentos e, em muitos casos, a reformulação de nossa filosofia e ética de vida”.
Escrevi as linhas acima há algum tempo atrás para um de meus artigos da coluna Cinema na Escola. Não me referia somente ao trabalho desenvolvido pelos professores, tampouco ao universo educacional especificamente. A abordagem era mais ampla. A intenção era falar a todas as pessoas, tentando incutir idéias que refletissem em sua prática profissional tanto quanto em suas vidas pessoais.
Estive há alguns dias atrás apresentando uma de minhas palestras em uma cidade do interior paulista e, a despeito do horário (esse trabalho foi realizado à noite), o que nos leva a pensar que os participantes poderiam estar cansados depois de uma árdua jornada de trabalho, esperava mais participação, dúvidas e entusiasmo por parte dos inscritos.
Sei que posso não ter sido suficientemente empolgante naquele encontro, isso poderia isentar os participantes de qualquer indisposição a uma maior participação na palestra. De qualquer forma, imagino que ao trazer idéias e propor discussões e debates, queremos acreditar que entre educadores teremos uma propensão ao crescimento da atividade.
É o que se espera. Na verdade é o que os próprios professores esperam quando entram em sala de aula e iniciam seu trabalho. Todo e qualquer educador engajado imagina que sua sala de aula deve ser um ambiente proporcionador de possibilidades para seus educandos. Acreditamos que devemos incentivar a busca do conhecimento, a participação ativa dos alunos, a inserção social dos estudantes, o exercício da cidadania e a definição dos valores e da ética que irão nortear o caminho de nossos pupilos.
Queremos que nossos alunos participem, perguntem, construam o conhecimento.
Temos que ser coerentes e também realizar essas ações...
Essa é sempre a minha perspectiva ao entrar em sala de aula. É o mesmo sentimento que tenho quando inicio um encontro com professores, quando tento socializar com colegas de profissão alguns resultados de pesquisas e trabalhos que venho desenvolvendo. Talvez por isso tenha sempre uma perspectiva otimista das palestras e oficinas que apresento.
A frase do início desse editorial marca um dos pontos decisivos da palestra que realizei na semana passada. É muito mais que um simples pensamento expresso em palavras. Trata-se de uma alternativa entre os vários caminhos que se encontram disponíveis para qualquer pessoa. Mas, certamente, não é o caminho mais simples e mais fácil de se trilhar...
Talvez por isso mesmo as pessoas até entendam o seu óbvio significado e percebam sua importância. Até mesmo por isso, os professores prefiram se acomodar e se reservar o direito de manter as coisas como estão, preservando o cotidiano de qualquer mudança realmente significativa.
Para mudar é necessária muita coragem e força. Mudanças demandam reavaliação de valores, práticas, conceitos, filosofia e ética.
Para realizarmos essas revoluções pessoais temos que ter preparo. É como imaginarmos atletas em preparação para as Olimpíadas. Significa que eles têm que ter muita disciplina pessoal, capacidade de superação, treinamento, vontade de vencer e uma clara compreensão de seus objetivos e das conseqüências de seus atos.
Participar de congressos, seminários, palestras e oficinas é fundamental
para manter
os conhecimentos atualizados. Os professores têm que estar
atentos
as oportunidades na área e devem atuar ativamente nesses encontros.
Para nós, educadores, quando pretendemos modificar nossos conceitos e rever nossa prática profissional o caminho também não é rodeado de flores, não é um autêntico “mar de almirante”. Isso demanda de nossa parte a capacidade de vencer nossas próprias barreiras. Os obstáculos que criamos são muito mais difíceis de superar do que aqueles que são colocados em nossos caminhos por outras pessoas ou mesmo pelo contexto em que vivemos.
Somos muito conservadores e imaginamos muitas vezes que as fórmulas e os mapas que traçamos compreendem tudo aquilo que podemos fazer de melhor. Não, não é assim. Há novas rotas a se trilhar, assim como há caminhos que devem ser sempre relembrados. Não podemos abandonar aquilo que já fizemos de autêntico, vitorioso. Realizações relembradas por nós e pelos nossos alunos com satisfação devem fazer parte do nosso cabedal de informações.
O que não podemos fazer é nos apoiar para sempre nessas lembranças e dormir nos “louros da glória”. Amanhã é um novo dia, novas vitórias devem ser conquistadas. Não se trata de ser genial a cada manhã. Não queremos criar “teorias da relatividade” em todas as nossas aulas. Temos que ter os pés no chão ao mesmo tempo em que sonhamos...
Isso me faz lembrar dos resultados de pesquisas divulgadas pela Unicamp e pela Universidade Estadual do Rio de Janeiro a respeito do desempenho de seus alunos. Diferentemente do que pensa a maioria dos brasileiros, os melhores aproveitamentos nos cursos superiores têm sido obtidos por alunos egressos de escolas públicas e não das escolas particulares.
As condições adversas do universo educacional brasileiro público têm sido superadas em virtude da disposição, da vontade, da garra e da disciplina pessoal dos estudantes mais humildes. Jovens que vem de substratos sociais superiores, que tem melhores condições de vida, também podem ter ótimos desempenhos na universidade. Isso não acontece por que muitos deles se acomodam diante da perspectiva de viver a sombra dos negócios ou do patrimônio de suas famílias.
A lenda da cigarra e da formiga é ilustrativa quanto à necessidade que
temos de investir
em novos conhecimentos para compor um melhor
futuro
pessoal e
profissional enquanto educadores.
Eles já se sentem ricos pelo que seus pais ou avós constituíram e não percebem a necessidade de se prepararem para gerir o seu futuro e, mesmo, as empresas e bens que lhes pertencerão futuramente. É um imenso desperdício de potencial.
Nós, professores não temos os bens que esses jovens abastados e suas famílias puderam construir ao longo de algumas décadas. E mesmo que tivéssemos teríamos que nos preocupar em melhorar o nosso rendimento afim de preservar e aumentar essa riqueza.
O exemplo que nos cabe nessa constatação da pesquisa universitária é o do estudante humilde, que aos poucos vai realizando seu trabalho, discretamente, e obtém seus expressivos resultados.
É como na lenda da cigarra e da formiga, em que a primeira se preocupa apenas em curtir a vida e cantar ao longo de seus dias de existência, sem se preocupar com o inverno que irá chegar em breve; enquanto isso, a formiga levanta cedo, vasculha as redondezas, carrega seu alimento, armazena o que obteve a partir de seu trabalho e cria as reservas que irão permitir que seu inverno seja bem vivido...
O professorado tem que investir mais em sua educação, preparação e especialização. Isso significa que ele tem que ler, aprender a pesquisar na Internet, fazer cursos que o habilitem em outra língua, participar de extensões universitárias, ir a seminários e congressos, freqüentar cinemas e teatros,...
E o mais importante de tudo, aproveitar as ocasiões, viver intensamente cada uma dessas oportunidades. Não basta estar presente em palestras ou oficinas, temos que perguntar e participar ativamente. Temos que ter aquela curiosidade de criança, que vive a questionar os porquês, comos, quandos,...
Temos que ser coerentes na relação entre nossa prática e nosso pensamento. Disse isso algumas vezes na palestra da semana passada. Repito agora pensando na cobrança que fazemos em relação à participação dos nossos alunos em aula e daquilo que fazemos quando nós somos os aprendizes...