Planeta Educação

A Semana - Opiniões

João Luís de Almeida Machado é consultor em Educação e Inovação, Doutor e Mestre em Educação, historiador, pesquisador e escritor.

Os pequenos vendedores de pinhão
Os compromissos sociais de todos nós

O abandono e o descaso para com as crianças, perdidas pelas ruas, leva a exploração
de seu trabalho, a violências e brutalidades, a evasão escolar e repetência
(quando essas crianças chegam as escolas) e a perpetuação do ciclo de pobreza...

É claro que não estamos sugerindo que cada turista que freqüenta as cidades da Serra da Mantiqueira, como Campos do Jordão, se disponha a adotar essas crianças e responder pelas necessidades das mesmas. O que se espera é que a sociedade jordanense e também os visitantes que prestigiam o clima agradável da montanha possam se mobilizar e cobrar das autoridades locais ou mesmo das estaduais o surgimento de programas de apoio a essas famílias e também de redirecionamento dessas crianças, tirando-as das ruas e estradas e colocando-as em projetos que lhes dêem a oportunidade de ter acesso à cidadania.

A respeito desse tema estive conversando com os alunos que freqüentam minhas aulas de História da Gastronomia e Metodologia de Pesquisa no Senac de Campos do Jordão e tentei lhes mostrar que apesar das responsabilidades inerentes ao setor público em questões como essa, também a sociedade civil poderia tentar se organizar para agir de forma solidária e socialmente responsável.

Uma das idéias mais importantes diz respeito, justamente, a necessidade de engajamento das próprias universidades em projetos de cunho social. Isso não significaria o abandono ou a despreocupação por parte dessas instituições de 3° grau em relação à produção acadêmica, aos estudos e a formação de novos profissionais. Pelo contrário, significaria, na prática, a incorporação de uma série de experiências que dariam muito mais representatividade e sentido para esses universitários em formação.

Atuar de forma consciente e com grande energia em prol de pessoas que necessitam de algum tipo de auxílio (idosos, crianças carentes, deficientes físicos ou mentais,...), humaniza e consolida em todos os envolvidos os sentimentos necessários para que no amanhã possamos fazer o mundo muito mais justo e harmonioso.

estudantes-unidos
Quando os estudantes se mobilizam os resultados são sempre surpreendentes. Projetos de
alfabetização, alimentação, saúde, atendimento odontológico, orientações sobre higiene,
proteção do meio ambiente e tantos outros em que grupos de universitários se
empenharam obtém ganhos notáveis para as comunidades onde são aplicados.

Há ganhos não apenas nesse sentido, pode-se afirmar, por exemplo, que os conhecimentos adquiridos no campo de batalha tornam os soldados muito mais maduros, eficientes, atentos e profissionais. E estamos falando justamente de frentes de guerra nesse momento em que abordamos as deficiências sociais de nosso país...

A quantidade de pessoas que vivem em situação de pobreza, o enorme número de desempregados nas grandes cidades, a situação calamitosa das periferias, os hospitais em frangalhos, as persistentes taxas de evasão escolar, a qualidade deficiente da educação em muitas de nossas escolas, a criminalidade, o abandono dos idosos, a violência que mata nossos jovens e tantos outros problemas sérios persistem nos noticiários e também fora deles há um tempo prolongado demais...

Nossos universitários constituem um grupo significativo de pessoas que possuem formação e que pode se tornar elemento básico para a orientação dessas comunidades carentes, principalmente para a melhoria de suas vidas. E não se trata de um sonho distante aquilo que escrevo nesse momento.

As soluções são muito mais simples do que parecem. Já há um bom número de brasileiros envolvidos em ações de solidariedade por todo o país. E os jovens constituem a principal mão de obra dessa enorme ação solidária. São eles que auxiliam no reparo e manutenção de hospitais e escolas, que dão aulas para alunos de comunidades pobres, que se esforçam para que crianças de favelas possam conhecer o mundo dos computadores, que se dedicam a preservar monumentos e museus, que se prontificam a salvar espécies em extinção ou que disponibilizam tempo para dar palavras de esperança as pessoas que moram em asilos.

Vários-pinhãos
Projetos com o pinhão em cidades da Serra da Mantiqueira ou com matérias primas
típicas de cada região podem instruir as pessoas quanto as possibilidades desses
alimentos, ajudar na organização de cooperativas de trabalho, orientar no desenvolvimento
e valorização de receitas tradicionais, estimular o turismo gastronômico,...

Apesar dessa constatação, certificada pelas pesquisas realizadas por vários institutos especializados, sabemos que é possível fazer mais, muito mais.

O que me leva a pensar nisso são justamente os meninos e meninas que vendem pinhão nas estradas e ruas da região da Serra da Mantiqueira paulista. Pensando nisso, propus aos estudantes a idéia da criação de um projeto de cooperativa para que as famílias pudessem ter um rendimento com essa matéria prima e pudessem, desse jeito, desobrigar as crianças da obrigação de vender o pinhão.

Imaginamos também a possibilidade de ensinar essas famílias a produzir a partir do pinhão um farináceo que pudesse servir de base para o feitio de bolos, pães, tortas, bolachas ou outras iguarias gastronômicas que pudessem ser vendidas (pelos maiores de idade, não pelas crianças) nas cidades da região com lucros maiores para as famílias.

Uma outra boa alternativa seria a utilização dessa farinha derivada do pinhão ser utilizada em compostos alimentares que reforçam a dieta de asilos, creches, escolas,...

Alguns alunos então propuseram que fossem criadas cartilhas através das quais se divulgassem métodos e formas de trabalho e produção relacionadas ao pinhão. Esses livretos seriam distribuídos entre as famílias carentes que lidam com esse recurso alimentar para que elas alterassem o seu modo de trabalho com o pinhão. Além disso, de acordo com esses alunos, também poderiam ser dados cursos para facilitar a compreensão e estimular o uso das cartilhas.

Para tanto, além da força e disposição dos estudantes, seria necessário que também as instituições de ensino, as associações comerciais e industriais, as autoridades públicas e a comunidade em geral se mobilizassem em favor dessas idéias e projetos. O essencial para que tudo isso aconteça é não ficar de braços cruzados...

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