A Semana - Opiniões
Quais são as melhores escolas?
Sobre as escolas que mais aprovam no vestibular da USP
Na última sexta-feira, dia 29 de abril, a Folha de São Paulo divulgou pesquisa em que foram levantados dados acerca das escolas de origem dos aprovados no mais importante e disputado vestibular do Brasil, da Universidade de São Paulo (USP). Do ponto de vista dos resultados, não há grandes novidades, mesmo porque se confirmaram as instituições particulares (como os cursos pré-vestibulares) e as mais tradicionais escolas paulistanas como aquelas que mais aprovações obtém.
Isso dá, com certeza, a cada uma das mencionadas escolas, munição para abastecer seu arsenal de argumentos e investir pesadamente em publicidade destacando suas qualidades e, principalmente, as estatísticas e números favoráveis (em termos quantitativos).
Reverenciar essas escolas como centros de excelência no Ensino Médio seria, no mínimo, atitude precipitada. Há méritos indiscutíveis no trabalho executado por cada uma delas, sem qualquer sombra de dúvidas. Não dá para negar, por exemplo, que possuem professores qualificados em suas respectivas áreas de atuação e que primam por suas habilidades comunicativas.
O investimento em recursos materiais também é destaque nessas instituições de ensino, tanto nas privadas quanto nas poucas públicas (como as Escolas Técnicas Estaduais e o Centro Federal de Educação Tecnológica de São Paulo). Computadores, internet, boas bibliotecas, quadras, escolinhas de esporte, laboratórios, materiais específicos para aulas de línguas, aulas de filosofia ou de artes e alguns outros caminhos são oferecidos como alternativas que reforçam a base curricular e estimulam os estudantes a melhorar ainda mais a sua performance.
O acompanhamento de profissionais especializados como orientadores educacionais,
psicólogos, psicopedagogos ou coordenadores de ensino garante ao estudante maior
sintonia e melhor aproveitamento em relação aos estudos. Esse é um importante
diferencial dos melhores estabelecimentos de ensino.
Boas instalações e atendimento extra-classe especializado por parte de profissionais como coordenadores de ensino, psicólogos, orientadores educacionais, bibliotecários e psicopedagogos permitem que os alunos consigam direcionar melhor os seus esforços e reduzir o desgaste acadêmico, físico e emocional. A maior parte das escolas que se garante no topo da lista da USP (e de outras importantes instituições universitárias) investem nesses serviços e profissionais, diferenciando-se das concorrentes apesar dos evidentes custos que implicam na contratação desses especialistas.
São diferenciais poderosos na luta por um lugar ao sol nas melhores universidades do país. Afinal de contas, concluir a graduação na USP, na Fundação Getúlio Vargas, na Universidade de Campinas (Unicamp) ou no ITA (Instituto Tecnológico Aeroespacial), para citar apenas alguns exemplos de excelência do 3º grau, pode garantir melhores oportunidades para quem irá ingressar no mercado de trabalho nos próximos anos. Mercado esse que é cada vez mais competitivo e exigente...
Entretanto, vale relembrar que nas linhas iniciais desse artigo mencionei como precipitada a atitude daqueles que porventura tenham em mente definir essas instituições de ensino médio como centros de excelência em educação.
Muitas dessas escolas, especialmente aquelas que surgiram como cursinhos pré-vestibulares, ainda andam na contramão das reformas educacionais que se definem em nosso país e em várias partes do mundo e que preconizam o estabelecimento de escolas que orientem suas atividades a partir do sócio-construtivismo.
A tecnologia veio para ficar e para diferenciar escolas e estudantes. Não basta
ter bons recursos, o mais importante é utilizar de forma inteligente todos os
recursos disponíveis em sua escola, dos computadores aos videocassetes,
dos livros aos laboratórios de ciências...
São estabelecimentos de ensino que investem com grande força no conteudismo, dando especial ênfase a aulas em que a memorização das fórmulas, conceitos, fatos históricos ou dados geográficos ainda prevaleçam. É lógico que isso não é uma regra e que dentre as campeãs do vestibular da USP há escolas que já fizeram uma necessária e adequada revisão de seus princípios pedagógicos.
A revisão da proposta pedagógica por parte desses colégios exige muita coragem e ousadia por parte dos mantenedores, afinal de contas, a fórmula por eles utilizada constitui uma “galinha dos ovos de ouro” que lhes garante (graças a investimentos consideráveis em marketing e propaganda) fatias generosas dos mercados em que atuam. Matar a galinha para descobrir como surgem os ovos de ouro parece ação pouco recomendada, assim como sugere a fábula...
Vale lembrar, porém, que está em curso no país, há alguns anos, uma série de estudos que visam modificar os exames vestibulares. Essas modificações podem ser percebidas, por exemplo, com o Exame Nacional do Ensino Médio (ENEM), que permite uma análise gradual do desenvolvimento do aluno durante o ensino médio e que exige do estudante uma postura muito mais reflexiva no que tange a avaliação a qual é submetido.
Outra alteração perceptível ocorreu em alguns exames vestibulares como o da Unicamp, cuja prova anual tem uma proposta muito mais analítica, exigindo comparações, bagagem cultural, capacidade de reflexão e atualização.
É lógico que isso não significa, na prática, que iremos abandonar por completo as aulas expositivas ou mesmo a necessidade de alguma memorização a partir de nossas atividades escolares. A adoção de novos parâmetros na educação não significa o abandono de práticas que continuam sendo interessantes ou significativas para nosso trabalho.
Os melhores alunos do ensino médios obtêm resultados expressivos no vestibular
a partir do momento em que sua formação tenha se consolidado de forma
expressiva desde os anos iniciais de sua experiência escolar. Os maiores êxitos
pessoais e profissionais são obtidos a partir de uma jornada segura, qualificada e
emocionalmente estável pela educação infantil e pelo ensino fundamental.
Pensar em substituição total ou mudança radical dos procedimentos pedagógicos com o esquecimento e até mesmo a marginalização dos professores que mantenham certa fidelidade aos antigos recursos e formas de trabalho é a mesma coisa que agir como políticos que não concluem a construção de uma ponte por ter sido iniciada pelo antecessor de outra filiação política...
Por outro lado, temos que destacar que, além desses problemas, o maior mérito pelo êxito dos alunos aprovados no vestibular não é o das escolas de ensino médio. O olhar de alcance limitado da maior parte das pessoas não permite que elas enxerguem um pouco além do imediato. Em virtude disso os pais, os jornalistas, muitos professores e a comunidade em geral não percebem que o trabalho de base, aquele desenvolvido da educação infantil ao ensino fundamental de 1ª a 4ª série (e que depois vai aos poucos sendo lapidado nas séries posteriores, inclusive no ensino médio), é que realmente faz a diferença na formação de nossas crianças.
É tão importante que define inclusive os rumos na universidade e na vida profissional futura. Não apenas pelo fato de que aprendemos a ler, escrever ou raciocinar matematicamente nessa primeira etapa de nossas vidas escolares, mas principalmente porque é nessa etapa que definimos nossas preferências, nossos gostos, nossa atitude perante o mundo...
As primeiras professoras podem não ter a dimensão precisa da importância de seu trabalho, que reafirmo nesse espaço como sendo primordial e especial para cada uma das crianças com quem trabalham. Se esses primeiros passos na vida escolar forem bem feitos, instigantes, incentivadores e criativos, os estudantes irão ter uma formação verdadeiramente consolidada que os diferenciará e que lhes permitirá muitas vitórias futuras, inclusive nos vestibulares da vida...