A Semana - Opiniões
Em busca do cálice sagrado da Criatividade
Nossas aulas precisam de novas idéias
As perguntas mais freqüentes que são feitas nas oficinas e palestras que conduzo normalmente são aquelas relacionadas a criatividade. Os professores têm grande curiosidade quanto a fonte na qual devem beber para conseguir inovar sua prática pedagógica. Imaginam existir um caminho mais curto, um atalho pelo qual possam atingir esse “cálice sagrado” e tão ansiosamente perseguido.
Esse interesse, por si só é representativo de uma mudança importante no contexto da educação brasileira. Significa que os educadores já se deram conta da necessidade de revisão das práticas tradicionais de trabalho em sala de aula. Perceberam que as aulas expositivas já não conseguem atender a demanda de nossos alunos. Parecem saber que a mera retransmissão de informações pode ser conseguida de muitas outras formas e que esses outros canais de comunicação de dados são, na opinião dos próprios estudantes, mais interessantes que suas aulas...
A percepção da presença e influência das outras mídias informativas e da força das mesmas sobre nossos alunos também é deveras importante. Primeiramente no sentido de nos debruçarmos sobre esses fenômenos, como a Internet, para que possamos estudá-los a fundo, entendendo seus funcionamentos, percebendo suas vantagens e desvantagens, se apropriando dessas ferramentas para o nosso trabalho e orientando os estudantes para o uso racional e inteligente desses recursos.
Num segundo momento para que consigamos pensar em nosso trabalho em sala de aula e reinventar a roda. E o que quero dizer com isso? Que as mídias eletrônicas e os grandes impérios da comunicação que controlam jornais, revistas, canais de televisão (aberta ou paga), gravadoras, produtoras de cinema ou de teatro têm produzido elementos e idéias que podem e devem ser reaproveitadas pela educação.
O cotidiano era a principal matéria-prima para a criação de idéias por parte de Charles Chaplin,
um dos maiores cineastas de todos os tempos. Por que não podemos fazer o mesmo em educação?
Não se trata de simplesmente copiar aquilo que faz sucesso no mundo editorial ou no universo televisivo. A idéia é entender os mecanismos que tornam esses meios interessantes aos olhos da garotada e adaptá-los para o trabalho nas escolas.
Simular programas de televisão, estimular o surgimento de rádios dentro da escola, fomentar o surgimento dos jornais escolares, repensar e reaplicar o uso da dramatização como técnica de trabalho, fazer com que a fotografia e a filmagem se tornem ferramentas, estimular o surgimento de estúdios de produção artística (gravuras, cartuns, quadrinhos, charges,...), criar grupos de estudo da música e bandas, motivar os estudantes para o surgimento de clubes de leitura e produção escrita, sugerir que sejam montadas equipes de exploração da geografia e da história do município e da região onde vivem,...
São tantas idéias que nos são dadas pelas modernas mídias eletrônicas que temos que necessariamente aproveitá-las. Não dá para desperdiçar o talento e a criatividade de tantos e tantos profissionais que recebem regiamente para levar adiante essa função nas redes de televisão, na internet, nos jornais, no cinema, no teatro, na música, nas artes plásticas, na pesquisa científica ou nas revistas.
Pesquisa de campo é uma das melhores alternativas de trabalho para promover
o
interesse e o gosto pelo conhecimento, pela cultura e pela educação. Os estudantes vibram e
aprendem, aprofundam seus conhecimentos e se interessam mais pelo que é trabalhado em aula.
A questão, para os profissionais da educação, passa a ser observar mais atentamente o que está sendo feito ao seu redor. Olhar para aprender e reaproveitar. Nesse ponto reside a chance do professor se tornar mais produtivo e criativo.
Ao perceber possibilidades pedagógicas num programa de televisão ou nos quadrinhos dos jornais diários, os educadores têm que ser capazes de criar sinapses que coloquem esses recursos em comunicação com o seu espaço de trabalho, com as suas necessidades e carências profissionais. A ponte a ser erguida pode ser difícil de executar em termos de engenharia inicial, mas tem que sempre ser entendida como possível e tangível.
Não há atalhos para a plena confecção de novas alternativas pedagógicas. Fórmulas prontas e receitas fáceis podem enriquecer alguns gurus e mestres da auto-ajuda, mas se revelam frágeis em termos do cotidiano do trabalho em sala de aula, pois carecem de maior estudo, aprofundamento e reflexão por parte daqueles que irão executá-las, ou sejam, os professores.
Cobramos exaustivamente de nossos alunos que se mostrem sempre atentos, que prestem atenção aos detalhes e dados trabalhados em aula, que se prontifiquem a realizar tarefas e exercícios sem que tenham sua concentração atrapalhada por nada ou ninguém. E nós, professores, será que estamos dedicando toda essa energia e capacidade de estudo e pesquisa ao nosso trabalho, a implementação de nossas atividades?
Costumo dizer que pedimos aos estudantes que realizem atividades sem que estejam totalmente informados a respeito da forma como devem proceder. Pedimos painéis, fichamentos, colagens, pesquisas de campo, entrevistas e tantos outros formatos de trabalho e ação sem que nos preocupemos em dar-lhes as necessárias orientações e dicas de como isso deve ser feito. E porque fazemos isso?
Oriente seus estudantes. Dê-lhes diretrizes. Ensine-os quanto aos caminhos que
podem ser trilhados. Não espere e não deseje que somente as rotas definidas por você
sejam aquelas pelas quais os alunos irão andar. É importante que eles criem novas respostas.
Em muitos casos pelo simples fato de que não realizamos essas atividades previamente para saber exatamente como devem ser feitas. Os professores têm que andar nas trilhas que pretendem abrir para seus alunos antes de enviá-los por esses caminhos. Criar seus próprios mapas antes de colocar os estudantes no meio de uma clareira e pedir-lhes que encontrem o caminho de volta ou de saída é uma forma um tanto quanto irresponsável de agir...
Além disso, o que se espera é que dos nossos alunos surjam novas rotas e mapas. É claro que muitos irão sair pelos caminhos que descobrimos, entretanto a diversidade é uma das principais metas a se perseguir nessa nova educação.
A percepção dessa diversidade e a aplicação de técnicas de sucesso adaptadas de outras mídias dependem da orientação bem realizada, da escolha de novos caminhos ou rotas e do acompanhamento por parte dos educadores (o mais próximo possível).
Ademais vale sempre lembrar que não são só as novas tecnologias que nos permitem revitalizar a educação. Há recursos simples, tradicionalíssimos e ao alcance de todos (o que muitas vezes não acontece com a tecnologia de ponta) que podem virar a sala de aula de ponta cabeça.
O primeiro e mais essencial de todos eles é, sem qualquer dúvida, a leitura. O uso de livros e de histórias é básico e propicia muitas atividades interessantes. Para que isso aconteça é necessário que o professor pergunte, leia, pesquise na internet e converse sobre trabalhos diferenciados com literatura.
Há também o trabalho com sucata, com letras de música, com palavras cruzadas, com jogos de tabuleiro, com marionetes e fantoches, as entrevistas de rua, os trabalhos com imagens recortadas de jornais, a análise e uso de obras de arte,...
Chega de reclamar. O momento é de pesquisa. A escola pede renovação. Os estudantes clamam por uma nova escola. Cabe ao professor atender esse chamado. Para isso, mãos a obra. Alguns dos mais notórios pesquisadores e cientistas costumam afirmar que a fórmula das grandes realizações demanda 90% de suor e 10% de inspiração, que tal botar o cérebro para criar e o corpo para executar?