Planeta Educação

A Semana - Opiniões

João Luís de Almeida Machado é consultor em Educação e Inovação, Doutor e Mestre em Educação, historiador, pesquisador e escritor.

Família e Escola
Relação decisiva para o sucesso da Educação

Parceria
Parceria é o que se espera na relação entre escola e família.

Ao escolher os serviços educacionais de uma determinada instituição os pais assinam não apenas um contrato de matrícula, assumem um compromisso muito maior e concedem a escola uma carga de responsabilidade muito grande. Formar uma criança, um adolescente ou um jovem demanda muito conhecimento, capacidade de adaptação, atualização constante e estabilidade emocional (para fomentar bons relacionamentos).

Contrato educacional assinado, a escola passa a ter o aval da família para definir os pormenores relativos a forma como esse estudante irá ser educado. Metodologia de ensino, normas disciplinares, profissionais contratados, instalações da escola, recursos materiais oferecidos, grades curriculares, cursos extras e tantas outras peculiaridades do trabalho educacional passam a ser decididos a partir dos mantenedores, diretores, coordenadores, orientadores, professores e demais funcionários desse estabelecimento educacional selecionado pelos pais.

É assim que funciona? Deveria ser. Em muitos casos não é. A interferência dos pais no cotidiano das escolas tem sido uma constante. Intrusiva e abusiva, prejudica a ação de profissionais que estudaram muito e que continuam se atualizando para prestar o melhor serviço possível.

Isso não quer dizer que a família não possa se prestar a considerações, queixas ou críticas. Muito pelo contrário, é salutar e necessária a inserção da família na vida escolar de seus filhos. Acompanhar de perto o que está acontecendo, verificar o rendimento, perguntar sobre as aulas, questionar sobre trabalhos e tarefas, freqüentar as reuniões programadas pela escola e conhecer os membros do corpo docente são requisitos elementares para os pais que querem estar realmente atualizados quanto ao aproveitamento de seus filhos na escola.

construindo-uma-escola
Para construir a escola dos nossos sonhos é necessário que os pais sintam confiança
nos educadores. São eles os arquitetos, engenheiros e construtores da educação. São eles que
se prepararam para realizar esse trabalho, essa função tão primordial para a sociedade.

Estando verdadeiramente “por dentro” daquilo que acontece na escola, fica muito mais fácil para os pais cobrar da escola as medidas necessárias para melhorar a condição de seus filhos nos estudos. Cabe lembrar, porém, que ao definir uma escola para seus filhos, os pais estão confiando no projeto educacional e retrospecto (histórico) desse estabelecimento. Supõe-se que já tenham se preocupado em visitar as dependências e procurado se informar a respeito da proposta pedagógica, dos professores, dos laboratórios, da biblioteca,...

Quanto ao pensar e repensar os processos internos da escola a partir do momento em que o estudante entra na escola no início do período até o momento em que ele termina suas aulas do dia (e do ano), isso é atribuição dos profissionais que trabalham nessa instituição.

E, espera-se, que as decisões gerais e importantes sejam consensuadas, ou seja, que sejam referendos de decisões coletivas e não individualizadas. Menos ainda que qualquer mudança importante seja tomada a partir da pressão dos pais sobre a escola (o que acontece com grande freqüência especialmente em escolas particulares).

Os especialistas são aqueles que trabalham na escola e não os pais. A visão de escola dos familiares é muito influenciada pela vida escolar que eles mesmos tiveram. Eram outros tempos, diferentes contextos e propostas de trabalho, realidades muito díspares em relação ao presente da educação.

Diálogo-entre-professores
O ideal é que as dificuldades dos estudantes sejam resolvidas a partir do diálogo entre
a escola e a família. E é imprescindível que os pais não tentem impor os desejos de seus
filhos e que estejam dispostos a escutar aquilo que os profissionais da educação tem a lhes dizer.

Os pais não estão acompanhando a evolução da pedagogia. Não sabem das novas propostas de ensino. Ouvem falar de algumas novidades pelas revistas de informação ou pelos grandes jornais, mas não tem qualquer aprofundamento no assunto. É como se fôssemos ao consultório de um médico e decidíssemos interpelar seus diagnósticos com base em artigos lidos ou programas assistidos na televisão.

Nenhum pai ou mãe ficaria contente se tivesse seu escritório, consultório ou setor de trabalho criticado por pessoas que não sabem verdadeiramente como é o trabalho que deve ser ali executado. A mesma situação ocorre em relação as escolas. Os professores, por exemplo, tomam uma série de decisões necessárias, complexas ou simples, para tornar o cotidiano da sala de aula mais agradável e o rendimento ainda melhor em suas devidas disciplinas (matérias).

O problema é que as mudanças nem sempre agradam aos alunos. A insatisfação dos estudantes os motiva a reclamar seus problemas para os familiares. Os pais se encaminham então a escola e, em muitos casos, pressionam muito por mudanças sem saber exatamente qual o contexto e os motivos que levaram os profissionais da escola a promover tal modificação. Querem somente atender a uma demanda de seus filhos.

Desrespeitam então algumas normas básicas do relacionamento que estabelecem com a escola. Passam por cima da autoridade dos professores, agem de forma autoritária, ameaçam apelar a outras instâncias, chegam mesmo a telefonar para professores e funcionários fora do horário de aula e, assim agindo, jogam por terra toda e qualquer confiança que depositaram na escola ao assinar a matrícula do filho.

O pior é que, tendo ciência dessa situação, os estudantes percebem que a escola pode ceder sempre que se sentir pressionada pelos pais. O caso de um aluno pode servir de modelo para a ação de outros. As pressões podem aumentar ainda mais.

Mãe-e-filho
Mesmo quando o remédio é amargo a dosagem prescrita pelo médico
tem que ser dada ao paciente, quer ele queira ou não queira. Por que os pais
muitas vezes não confiam nos diagnósticos e remédios dados pelos educadores?

Quando, na verdade, o caminho certo a ser feito nessa complexa teia de relações começaria com o diálogo aberto, franco e inteligente. Sem ameaças ou agressividade. Com o agendamento de um encontro entre diretores, coordenadores, orientadores ou professores com os pais para que pudessem ser esclarecidas as circunstâncias da situação e as medidas tomadas.

Os argumentos e a discussão (de alto nível) são esperados. O que não pode acontecer é a imposição de vontades dos filhos a partir da ação de seus pais. Assume-se que a relação entre pais e escola é baseada na parceria. O objetivo de ambos é a consecução de uma escolaridade de bom nível para os estudantes. Pais e escola não estão em trincheiras distintas, possuem apenas atribuições diferentes...

Ao agir de forma intempestiva, os pais corroboram um comportamento que irá influenciar seus filhos a agirem da mesma forma quando quiserem alguma coisa. A escola tem que ser firme sempre. O compromisso de qualquer estabelecimento educacional supera sempre a mera aprendizagem dos conteúdos e se estabelece, também, no patamar dos princípios, da ética, da legalidade e do profissionalismo. Ao se debruçar perante os pais e aceitar suas imposições, a escola perde legitimidade e autoridade perante toda a comunidade escolar.

Altivez é um dos ensinamentos que se espera que a escola possa dar a seus estudantes. Se ela se submete e abre mão de seus princípios e decisões, ela abdica dessa altivez e se torna refém dos interesses mais mesquinhos de seus alunos, corroborados por seus pais.

Li um depoimento interessantíssimo nas páginas amarelas da revista Veja, dado pela mãe de um jovem brasileiro que está preso na Ásia e que está sendo condenado à morte por tráfico de drogas. Ela dizia que seu grande arrependimento era ter sempre acreditado em tudo que seu filho dizia e ter fechado os olhos às orientações de amigos ou familiares que a haviam alertado dos problemas de seu filho.

Que essa dura declaração possa ser compreendida pelos pais como o reconhecimento, no caso de sua relação com a escola, que por parte dos mantenedores, professores e demais profissionais sempre vai haver um intenso esforço pelo melhor trabalho para seus filhos. Mesmo quando as medidas se parecem mais com um remédio amargo e duro de engolir, é melhor verificar as prescrições com quem receitou do que simplesmente deixar os filhos refutarem a medida prescrita...

Obs. Não quero dizer com esse artigo que os educadores sempre tem razão. O erro acontece em qualquer profissão (e serve de referência fundamental para novos aprendizados). Nem tampouco tenho a intenção de afirmar que os filhos sempre estão errados. Há crianças e jovens notáveis, a grande maioria dos alunos com os quais trabalhei se encaixa nessa condição, mas temos que convir que em várias situações as pressões desses estudantes têm que ser analisadas a luz de discussões mais arejadas e adultas, onde não apenas suas requisições sejam escutadas...

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