A Semana - Opiniões
A Volta às aulas
Aprender tem que ser o maior estímulo nesse retorno
Entre hoje e amanhã a maior parte das escolas de nosso país volta a funcionar. Milhões de alunos retornam ao cotidiano da sala de aula, esperançosos e ansiosos. Trazem consigo a vontade de estar novamente nesse ambiente tão peculiar que é a escola. Querem reencontrar seus amigos, saber quem são seus professores, descobrir em que salas terão suas aulas, tomar o primeiro contato com seus novos materiais. Aprender? Talvez...
Estranha essa afirmação? Com certeza não, tendo-se em vista a forma como a escola está estruturada na maior parte de nosso país. E o problema que poderia ser identificado como sendo de ordem estritamente material não é exatamente esse...
É certo que carecemos, em diversas escolas localizadas em vários (senão todos) os estados brasileiros, de uma série de artifícios e recursos, dos mais básicos e elementares como carteiras ou cadernos, até os mais sofisticados, como computadores ou vídeos.
Mas, não é exatamente esse o fator primordial para explicar os motivos que levam a vontade e disposição de aprender a se tornar objetivo secundário nessa volta as aulas. E não podemos restringir esse raciocínio apenas ao ano de 2005. Ele se aplica a esse ano como valeu também para o ano anterior e a todos aqueles que vieram antes...
A dramatização pode ser uma estratégia interessante para o trabalho em sala de aula.
O que temos proposto aos nossos estudantes em sala de aula não condiz com seus interesses, não parece ter nenhuma relação com o mundo em que eles vivem. Isso é muito representativo para entendermos que a escola necessita de uma transformação que opere verdadeiros milagres em curto prazo. Não podemos exigir que nossos estudantes demonstrem interesse se aquilo que trabalhamos em nossas aulas é distanciado de sua realidade, de suas necessidades.
A escola tem que abrir seus olhos e se relacionar de forma mais estreita com o que acontece fora de seus muros. Nesse aspecto não há nada mais atual que uma imagem disponível no livro “Cuidado, Escola!”, organizado pelo mestre Paulo Freire, ainda na década de 1980. Entre outras valiosas contribuições em termos de textos e imagens havia uma em que aparecia uma escola protegida por uma redoma de vidro, isolada da comunidade a qual pertencia, vivendo uma existência totalmente à parte.
Uma das atitudes básicas dos professores tem que ser aguçar a sua capacidade de escutar, de ouvir aquilo que seus alunos trazem como experiência de vida. Há muito que aprender com esses depoimentos e relatos. Pode-se aproveitar uma grande quantidade de informações provenientes dessas contribuições para melhorar a comunicação dentro da sala de aula e, principalmente, o processo de ensino-aprendizagem.
Relacionar esse conhecimento de mundo, ainda que gema bruta, carecendo de lapidação por parte de um mestre joalheiro para se tornar uma pedra admirada por todos, é uma das mais prementes habilidades e tarefas de todo e qualquer professor que queira fazer suas aulas ficarem ainda melhores.
Projetos e trabalhos que envolvam a utilização de sucata também despertam enorme interesse entre os estudantes, elevando a motivação e o interesse pela escola.
Além disso, nos planejamentos desse novo ano, não se esqueçam de programar visitas e saídas da escola. Nem que seja para conhecer melhor a comunidade em que vivem (esse, a princípio, deve ser o primeiro grande passo a ser dado nesse trabalho importantíssimo). Os alunos têm ainda um olhar detido em determinados aspectos, precisam aprender a expandir a sua capacidade de percepção do mundo em que estão inseridos, e isso vale também para realidades tão próximas como o próprio bairro em que vivem.
Depois dessas primeiras andanças, todas dentro de projetos pensados por alguns professores e não por um herói isolado, que tente fazer tudo sem o auxílio dos demais colegas, pode-se pensar em levá-los para visitas a museus, teatros, mercados, hospitais, universidades,...
Tudo na hora certa. Tudo muito pensado. Tudo processado de comum acordo entre direção, professores (plural) e com a colaboração dos maiores interessados, os próprios alunos.
Outro item decisivo para que façamos da aprendizagem um dos motivos pelos quais os alunos se interessem realmente a voltar as aulas é a valorização de múltiplos recursos em nossas aulas. Chega de dar aulas apenas utilizando quadro-negro, giz, saliva e o livro didático selecionado para seu curso. Vá além, faça campanhas entre os estudantes para coletar jornais e revistas e, dessa forma, constituir acervo que possa ser lido por muitas pessoas.
A tecnologia de ponta também deve ser aliada dos professores em seu trabalho cotidiano. Utilize os equipamentos disponíveis em sua escola como televisores e vídeos ou computadores e internet para realizar projetos e trabalhos com seus estudantes.
Utilize equipamentos como vídeo e televisão de forma mais freqüente, programando a apresentação de trechos de filmes ou ainda de documentários para elucidar determinadas idéias trabalhadas em seus planos de aula. Grave filmes e programas da televisão para discutir com os estudantes questões gramaticais, a flora e a fauna do Brasil, a construção da ferrovia Madeira-Mamoré ou ainda as eleições no Iraque...
Se sua escola já dispõe de computadores e de internet, promova pesquisas e trabalhos que utilizem essas ferramentas. Tenha sempre em mente que nesses casos é aconselhável sugerir sites seguros, onde os temas pesquisados sejam trabalhados por especialistas, garantidos por um árduo trabalho de composição e coleta de dados, como é, por exemplo, o caso do portal Planeta Educação (onde temos, inclusive, uma série de sites sugeridos na coluna Dicas de Navegação).
Utilize sucata. Realize trabalhos em que seja valorizada a arte e/ou a música. Promova pesquisas de campo. Ensine seus estudantes a fazer entrevistas. Se puder utilize a fotografia ou a filmagem como técnicas de trabalho. Ressalto sempre que esse trabalho todo tem que ser feito a partir de projetos bem delineados, pensados coletivamente e para os quais os estudantes sejam devidamente preparados. Não adianta nada propor dramatização ou estudo de caso se seus alunos não sabem como fazer isso. Se você também nunca tiver trabalhado dessa forma procure referências em livros ou na internet e peça o apoio de quem já realizou projetos dessa natureza.
O mais importante é deixar que a criatividade aflore e que, em virtude disso, seus alunos se sintam cada vez mais dispostos a estar em suas aulas. Essa satisfação e contentamento com a aprendizagem devem ser a tônica e também o objetivo de cada um de nós nesse retorno ao trabalho. Só assim valerá a pena, para nós e também para os estudantes. Bom retorno a todos!