Planeta Educação

De Olho na História

João Luís de Almeida Machado é consultor em Educação e Inovação, Doutor e Mestre em Educação, historiador, pesquisador e escritor.

A Solução Final
Os nazistas criam os campos de extermínio

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Humor negro. “Por que será que eles não gostam da gente, Heinrich?” (David Low, em “Território Ocupado”, 1942).

Ao longo dos primeiros anos da guerra, como era de se esperar, Hitler passou a ter um grande problema para resolver, a quantidade de prisioneiros judeus amontoados em campos de concentração nazistas aumentava consideravelmente a cada dia. A invasão da Polônia em 1939 e o posterior avanço sobre a União Soviética em 1942 elevaram o número de judeus presos pelos alemães aos milhões. O que fazer com tão grandioso número de prisioneiros passou a ser um novo dilema a ser resolvido pelas tropas comandadas pelo führer nazista. O ódio que motivava essa perseguição podia ser facilmente percebido a partir de afirmações como a de Heinrich Himmler em palestra aos oficiais da SS:

“Eu me refiro à evacuação dos judeus, ao extermínio da raça dos judeus. É uma das coisas a respeito das quais é fácil falar, ‘a raça judaica está sendo exterminada, diz um dos membros do partido, ‘isso é muito claro, isso está em nosso programa de eliminação de judeus e nós estamos fazendo isso, exterminando-os e então eles vêm para mim, oitenta milhões de valorosos alemães, cada um deles com seu judeu decente. É certo que os outros são vermes, mas esse é um judeu extraordinário. Nenhum desses que fala desse jeito assistiu isso, nenhum passou por isso. A maioria de vocês tem que saber o que eu quero dizer quando cem corpos estão deitados, lado a lado, ou quinhentos, ou mil. Ter que agüentar isso e ao mesmo tempo – a não ser no caso das exceções causadas pelas fraquezas humanas – continuar sendo cidadãos decentes, é isso que nos faz mais fortes. Isso é uma página gloriosa de nossa história que nunca foi escrita e que nunca o será, por que nós sabemos como é difícil o que temos feito para nós mesmos, com os bombardeios aéreos, os incêndios e as privações da guerra, (mesmo assim) nós continuamos tendo judeus hoje em cada cidade como sabotadores secretos, agitadores e criadores de problemas. Nós provavelmente ainda estaríamos no estágio de 1916-1917 quando os judeus ainda viviam na Alemanha”.

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Treblinka foi um dos maiores campos de extermínio criados pelos nazistas, tinha capacidade para matar até 25 mil prisioneiros por dia.

Mais de 5 milhões de judeus viviam na Polônia e nas áreas soviéticas conquistadas pelos alemães. Por esse motivo, os nazistas articularam a criação de áreas específicas do território polonês onde esses prisioneiros poderiam ficar confinados ou ainda pensaram numa provável deportação para a ilha de Madagascar, no continente africano.

Nenhuma dessas sugestões foi aceita em virtude de um plano ainda mais audacioso criado pela SS, a tropa de elite do exército nazista, a Solução Final.

De acordo com anotações (de 1942) de Joseph Goebbels, um dos mais influentes líderes nazistas, que tinha grande proximidade com Adolf Hitler: “O führer expressou sua determinação de exterminar os judeus da Europa... Não sobrarão muitos judeus. Aproximadamente sessenta por cento deles será liquidada; somente quarenta por cento deles será aproveitada como trabalho escravo”.

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Carregados como gado, em precárias condições, os prisioneiros dos nazistas eram divididos em dois grupos, aqueles que iriam prestar trabalho escravo e os que iriam ser executados nos campos de extermínio.

A princípio ficou a cargo da SS, utilizando uma prática bastante simples, a execução à bala, a responsabilidade pelo extermínio desse enorme contingente de prisioneiros judeus. Até o início do ano de 1942, a matança promovida pela SS já havia atingido o patamar de incríveis 500 mil vítimas (principalmente judeus poloneses e russos). Essa prática fica mais clara a partir do depoimento dado por um motorista de caminhão que assistiu a um desses morticínios promovidos pela SS:

“Um dia eu fui instruído a dirigir meu caminhão para fora da cidade. Eu fui acompanhado por um ucraniano. Deviam ser umas dez horas da manhã. No caminho nós ultrapassamos judeus carregando bagagens que marchavam a pé na mesma direção que estávamos indo. Havia famílias inteiras. Quanto mais nos distanciávamos da cidade, maiores ficavam as filas. Pilhas de roupas jaziam num grande campo aberto. Essas roupas eram o meu destino. O ucraniano me mostrou como chegar lá.

Depois que paramos na área próxima as pilhas de roupas o caminhão começou a ser imediatamente carregado com as vestimentas. O carregamento era feito pelos ucranianos. Eu acompanhava o acontecia com os judeus – homens, mulheres e crianças chegavam. Os ucranianos faziam com que passassem por um número diferente de lugares aonde os judeus deixavam suas bagagens e depois os seus casacos, sapatos, camisas, calças e até mesmo suas roupas de baixo. Eles também tinham que deixar seus objetos de valor num local específico. Havia pilhas de cada item de vestuário. Tudo acontecia muito depressa e qualquer um que hesitasse era chutado ou empurrado pelos ucranianos para se manter em movimento.

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Depois de mortos nas câmaras de gás, os corpos dos prisioneiros nazistas eram, em grande parte, destruídos em fornos crematórios para que não sobrassem evidências dos bárbaros crimes cometidos durante a 2ª Guerra.

Eu acredito que não se passava nem um minuto entre o tempo em que os judeus tiravam seus casacos até o momento em que ficavam completamente nus. Não eram feitas distinções entre homens, mulheres e crianças. Podia-se pensar que os judeus que chegavam mais tarde teriam a chance de voltar quando viam que os outros estavam se despindo. Ainda fico surpreso em saber que isso não acontecia.

Uma vez despidos, os judeus eram levados para um barranco que tinha aproximadamente 150 metros de comprimento, 30 metros de largura e uns 15 metros de profundidade. Duas ou três entradas estreitas levavam a esse barranco ao qual os judeus eram encaminhados. Quando eles chegavam ao fundo do barranco eles eram agredidos por membros da SS e obrigados a se deitar no topo de uma pilha de judeus que já haviam sido mortos à bala. Isso tudo acontecia muito depressa e os corpos se amontoavam em camadas. Os judeus eram mortos com um tiro na altura do pescoço por uma metralhadora no local onde estavam deitados. Havia apenas dois homens encarregados da execução...”

Dois fatores foram, porém, fundamentais para que essa estratégia viesse a ser modificada. O primeiro motivo foi o grande contingente de pessoas que deviam ser aniquiladas. A segunda razão foi que os executores da pena capital acabavam sofrendo com crises de esgotamento nervoso, mesmo levando-se em conta que, de acordo com o raciocínio nazista, não estivessem matando seres humanos...

Isso fez com que os nazistas criassem um método de eliminação desses prisioneiros que fosse impessoal, onde a dor e o sofrimento dos carrascos não se tornasse um novo fardo a ser carregado para os campos de batalha.

Organizaram então os chamados campos de extermínio, onde milhares de prisioneiros poderiam ser mortos ao mesmo tempo nas temíveis câmaras de gás. A capacidade de matar foi ampliada enormemente com o surgimento de instalações dessa natureza em campos como os de Treblinka (onde podiam ser mortos 25 mil pessoas), Majdanek (25 mil pessoas), Belzec (15 mil pessoas) ou Sobibor (20 mil).

Os cálculos feitos pelos historiadores estimam que cerca de 18 milhões de pessoas foram enviadas aos campos de extermínio. O número de vítimas da Solução Final por sua vez teria ficado entre 6 e 11 milhões de prisioneiros.

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