Planeta Educação

Cinema na Educação

João Luís de Almeida Machado é consultor em Educação e Inovação, Doutor e Mestre em Educação, historiador, pesquisador e escritor.

Elefante
Jovens sem rumo e sem lei...

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Vidas sem sentido. Pessoas que cruzam em corredores sem ter um destino certo quanto a suas vidas. Futuros incertos. O pior de tudo é quando constatamos que os corredores em que essas pessoas se encontram ao acaso fazem parte de uma escola de Ensino Médio (High School nos Estados Unidos). Mais preocupante ainda é sabermos que as pessoas cujas vidas não tem rumo são jovens, ainda transitando entre a adolescência e a idade adulta...

“Elefante”, filme do criativo diretor Gus Van Sant vem a público retratar as mazelas da vida de uma juventude totalmente perdida quanto a seus propósitos. Adolescentes que não sabem ao certo qual é ou qual deve ser sua identidade e que se confundem ao assistir documentários sobre o nazismo na televisão. Não identificam o que estão vendo como sendo um relato que procura apresentar a história de uma das maiores tragédias de todos os tempos, pelo contrário, visualizam os rituais e as práticas dos seguidores de Adolf Hitler como exemplos de uma ordem que não percebem no mundo em que vivem.

Editado de forma inteligente, tendo como base uma história real que abalou o mundo inteiro, “Elefante” não é simplesmente um documentário como “Tiros em Columbine”, de Michael Moore. Diferentemente de Moore, o filme de Gus Van Sant concentra suas energias no exame do cotidiano de uma juventude sem brilho e desprovida de perspectivas.

Nesse ínterim o ambiente escolar parece colaborar para a perpetuação da futilidade com a formação de “panelinhas” onde se reúnem estudantes que possuam status semelhante (há o grupo dos atletas, o das “patricinhas”, o dos “nerds” ou “cdfs”,...). Além da evidente segregação evidenciada pelo surgimento desses grupos, a escola não parece promover o conhecimento, estimulando o estudo e a pesquisa ou ainda como um local onde se aprendam habilidades e competências.

Nessa escola de Columbine transparece aos olhos dos espectadores que a principal atribuição das high schools norte-americanas é promover os aspectos sociais em detrimento do conhecimento, da ciência, da sabedoria...

Desprovido de efeitos especiais, sem contar com nomes famosos no elenco, tendo como locação básica o interior de uma escola e contando com orçamento reduzido para os padrões de Hollywood, “Elefante” é um verdadeiro fenômeno. Instigante, crítico, inovador na dinâmica utilizada para contar a história de uma grande tragédia americana, o filme foi premiado, com enorme justiça, com a Palma de Ouro em Cannes como melhor filme e pelo ótimo trabalho do diretor Van Sant. Imperdível!

O Filme

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Várias histórias num mesmo filme. Personagens que se encontram sem que se conheçam ou mesmo que venham a se conhecer. Pessoas que habitam diariamente um mesmo local sem que saibam da existência de uma boa parcela de pessoas que naquele mesmo espaço transitam, estudam, se relacionam, projetam seus futuros (será?)...

Assim é a High School de Columbine. Assim são tantas outras escolas nos Estados Unidos e em muitos países (inclusive no Brasil).

A escola, ponto de encontro de belas garotas anoréxicas que criticam abertamente qualquer comportamento diferenciado em relação aos seus próprios; onde a crueldade de certos adolescentes em relação a outros que não se posicionam ou agem dentro de certos parâmetros gera traumas que ficam ocultos atrás de semblantes fechados, de atitudes derrotadas e medos contidos.

A vaidade impera e execra tudo o que não se encaixa nos padrões esperados de beleza. A inteligência ofende e torna seus portadores membros de guetos fechados, onde são humilhados e agredidos. Os professores e demais membros do corpo docente são agentes de uma ordem que não respeita nem mesmo o comportamento justo e adequado de quem se atrasou para evitar que um drama pessoal e familiar (o alcoolismo) se tornasse uma tragédia. A ociosidade e a falta de interesse pelos estudos promove o surgimento de uma juventude para quem atirar em latas ou em pessoas é a mesma coisa...

A tragédia de uma escola abalou uma nação e preocupou o mundo inteiro, porém que medidas realmente efetivas tem sido tomadas para evitar que outras matanças como aquela de Columbine voltem a acontecer? Será que continuaremos vendo jovens desiludidos invadindo escolas e atirando a esmo sem alvos fixos, ceifando vidas sem que possamos perceber que também somos culpados por tragédias como essas?

De que adianta colocar detectores de metais na entrada das escolas? Será que o problema vai ser resolvido com policiais circulando nos corredores para intimidar novos atentados? A expulsão dos infratores e sua condenação solucionam a questão? Será que ao definirmos atitudes como essas para resolver tais problemas não estamos dando continuidade a fórmulas fracassadas? Será que não teremos que rever muito mais, quem sabe toda a estrutura educacional, talvez a própria conformação familiar e social do mundo em que vivemos?

Aos Professores

Cenas-do-filme

1- Olhem ao seu redor. Prestem mais atenção em seus alunos. Ouçam com atenção o grito contido que muitas e muitas vezes estão guardados nos peitos dos adolescentes com os quais trabalhamos. Há muitas dores e mágoas. Há pouca compreensão e escuta. Sobram problemas e faltam soluções. O que fazer? Como lidar com isso? Esses dramas não têm que ser resolvidos pelas famílias? Nós também temos responsabilidades importantes no que tange a formação de caráter, a definição de cidadania, a compreensão da ética e da vida em sociedade. Não basta ensinar matemática ou português. Não é suficiente fixar conceitos, fórmulas e acontecimentos históricos. Temos que ir além e, trabalhando em parceria (dentro da escola e com as famílias e toda a comunidade) aprender a escutar, partilhar problemas, sugerir formas de superar as dificuldades,...

2- Criar elos entre a escola e a comunidade através do surgimento de projetos de apoio e solidariedade a crianças carentes, idosos, portadores de necessidades especiais ou ainda trabalhando em favor da cultura, do meio-ambiente, da ciência e da arte podem ser formas de estimular e promover adolescentes e jovens a ver mais sentido para suas vidas. Tente discutir parcerias entre sua escola e entidades assistenciais de sua cidade nos planejamentos anuais.

3- As escolas têm que trabalhar a tolerância e a integração entre todas as pessoas que fazem parte de sua comunidade. O respeito e a consideração têm que existir como forma de preparação para outras instâncias de nossas vidas. Não é admissível que continuem prevalecendo situações em que alunos sejam agredidos ou ofendidos apenas por não se posicionarem da mesma forma, por não se vestirem de modo assemelhado, por torcerem por times diferentes...

4- O trabalho desenvolvido nas escolas, em salas de aula, tem que ser mais significativo para os estudantes. Isso quer dizer, na prática, que os alunos devem participar, necessariamente das atividades, sendo inseridos nos projetos a partir de elementos que os envolvam, que sejam interessantes. Mas como tornar os temas das diversas matérias atraentes aos olhos dos estudantes? Que tal realizar aproximações entre a realidade e os assuntos estudados? São as tais “pontes” de ligação entre o que vivemos, portanto aquilo que é prático e palpável, com conteúdos e teorias que nos auxiliam a compreender com profundidade tudo aquilo que nos cerca...

Ficha Técnica

Elefante
(Elephant)

País/Ano de produção: Estados Unidos, 2003
Duração/Gênero: 81 min., Drama
Direção de Gus Van Sant
Roteiro de Gus Van Sant
Elenco: Alex Frost, Eric Deulen, John Robinson, Elias McConnell,
Jordan Taylor, Carrie Finklea, Nicole George, Brittany Mountain,
Alicia Miles, Kristen Hicks, Bennie Dixon.

Links

http://www.adorocinema.com.br/filmes/elefante/elefante.asp

http://www.cinemaemcena.com.br/forum/forum_posts.asp?TID=13231

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