Planeta Educação

A Semana - Opiniões

João Luís de Almeida Machado é consultor em Educação e Inovação, Doutor e Mestre em Educação, historiador, pesquisador e escritor.

Educação com mais prazer e eficiência
Planejando para o ano que vem...

Relógio
É hora de redefinir os rumos. Para onde vamos? Onde queremos chegar?
Quais são os nossos objetivos? Que escola objetivamos construir?

Estou lendo um livro chamado “O Ensino na Sociedade do Conhecimento”, de Andy Hargreaves. Recomendo a leitura para todos aqueles que pretendem estar atualizados com o que há de mais recente e relevante em educação. Pretendo, inclusive, escrever uma resenha sobre esse título para constar da coluna Planeta Literatura, onde darei mais informações a respeito do conteúdo do referido título.

Mas de que forma pretendo relacionar a leitura do livro de Hargreaves com o título do Editorial dessa semana?

Na verdade seria lícito mencionar que há muitas informações disponíveis nesse estudo que podem auxiliar os mais atentos e atuantes diretores, coordenadores, orientadores e mesmo professores, da rede pública ou da privada. Um detalhe ainda mais interessante se refere ao fato de que o que se lê em “O Ensino na Sociedade do Conhecimento” não é aplicável somente ao planejamento para o ano que vem, pode-se estender a utilização dos conhecimentos ali disponíveis para muitos e muitos anos...

Não irei discorrer a respeito de todas as idéias ali trabalhadas, mesmo por que espero que muitos educadores tenham a curiosidade e o interesse de ler a obra de Andy Hargreaves. Outro aspecto que me leva a convidar os professores que navegam pelas páginas do Planeta Educação a ler a obra de Hargreaves é a qualidade do texto e das idéias que por ali são enunciadas, com propriedade e talento pelo autor. Vale a pena conhecer!

Mas, voltando a temática central desse Editorial, me apoio nas idéias de Hargreaves para pensar decisões importantes para o próximo ano por parte das escolas no que tange a seus docentes. Cobranças imprescindíveis que devem ocorrer em curtíssimo prazo para a efetivação de uma educação de melhores resultados (afinal de contas não é isso que todos nós que trabalhamos com educação queremos?).

Professora-e-alunos
Você ainda dá aulas como a professora de sua professora? Seus principais recursos
continuam sendo sua voz, o giz e o quadro negro? Já notou como seus alunos
andam indisciplinados? Alguma vez você parou para pensar que isso pode ter relação
com sua falta de criatividade? Não tenha medo, invista em novas aulas, use outros recursos,
faça seus alunos participarem da aula, valorize os conhecimentos dos estudantes,...

E que cobranças seriam essas?

Sei que a utilização de uma palavra tão incisiva quanto cobrança gera um certo desconforto em muita gente, até mesmo pelo fato dela parecer um tanto quanto autoritária na conotação que estou utilizando. Entretanto, ressalto que esta é, sem dúvida, a palavra mais apropriada, até por que, se deixarmos que as resoluções aconteçam sem que exista uma preocupação, um monitoramento, um acompanhamento e uma participação por parte dos gestores do processo escolar (nesse aspecto estamos nos referindo aos diretores, coordenadores e orientadores), muito dificilmente as transformações pretendidas acontecerão.

Recentemente tive a oportunidade de ler uma reportagem com o secretário de educação do estado de São Paulo, Gabriel Chalita, em que ele dizia que as escolas são, basicamente falando, a “cara” de seus diretores. Também incluiria nesse raciocínio os coordenadores e os orientadores que, em conjunto com os diretores, formam a equipe profissional que estrutura o trabalho escolar na prática, no cotidiano, criando condições para que os professores possam lecionar e para que os estudantes possam estudar.

Biblioteca
Estudar, ler, participar de congressos e seminários, trocar informações com os colegas,
estar atualizado. Necessidades permanentes para o sucesso dos novos profissionais da educação.

Aos diretores, coordenadores e orientadores cabe a função de cobrar de seus professores alguns quesitos fundamentais que aparecem na obra de Hargreaves, mencionada anteriormente, ou sejam:

1- “Aprender a ensinar por meio de maneiras pelas quais não foram ensinados”.

E o que isso quer dizer? Que tudo o que fizemos até o presente momento não foi válido? Que devemos descartar todas as nossas práticas e conhecimentos prévios?

Não, não é isso. Há, evidentemente, muitas realizações surgindo a partir daquilo que os professores de todo o país têm feito. A esse respeito vale ressaltar que temos que socializar nossas práticas e permitir que outros educadores possam saber de nossos sucessos.

O que se está criticando é a freqüente repetição de uma metodologia tradicional, calcada somente em aulas expositivas, a base de “saliva” e giz. Não podemos continuar dando aulas como nossos professores e como os professores de nossos professores e assim sucessivamente.

A escola tem que ser renovada e isso deduz atualização a partir de cursos, aprofundamentos, leituras. E, mais importante ainda, a partir da implementação daquilo que se aprende; da renovação e criação surgidas em relação ao que se estuda nesse movimento de renovação pedagógica. Não deve bastar aos educadores a participação em congressos para a contabilização de novos certificados e pontos para o curriculum vitae. Esses encontros com profissionais qualificados devem redundar em novas experiências que promovam aulas diferenciadas, que convidem os estudantes a participar, que estabeleçam pontos de encontro entre o conhecimento prévio do aluno e os conteúdos propostos, que criem pontes conectando a realidade e os assuntos em estudo.

Mãos-unidas
Trabalhar em equipe. Planejar em equipe. Produzir coletivamente para que os resultados
sejam bons para todos. Mais do que simplesmente um chavão, uma necessidade efetiva.

2- “Trabalhar e aprender em equipes de colegas”.

Além da socialização de conhecimentos através dos vários meios que possuímos atualmente, especialmente pela rede mundial de computadores (internet), há um trabalho muito mais fácil de se fazer e, igualmente importante, a troca de informações e experiências com professores que atuam conosco em nossos locais de trabalho.

O encontro com outros professores deve ser agendado regularmente, de preferência de 2 a 4 vezes por mês. Nesses encontros, todos devem estar juntos e não separados por disciplinas. Experiências de sucesso conduzidas pelo professor de matemática podem servir como referência para quem trabalha com história ou português, por que não?

Relatos de aulas, anotações, práticas com recursos diferenciados, observações sobre como reagiram os estudantes, dados sobre os pontos falhos das propostas de aula, informações acerca de cursos ou novos livros, indicações de sites e revistas,... Todas essas práticas devem ser incentivadas nesse trabalho em equipes de colegas. A aprendizagem irá se efetivar entre os professores de forma mais rápida, significativa e, a repercussão em aula será positiva para todos.

3- “Construir uma capacidade para a mudança e o risco”.

Um dos maiores problemas para a efetivação de mudanças em qualquer ramo ou setor de trabalho é a pequena predisposição para a mudança e o risco. Uma das áreas onde as resistências são consideráveis é a educação. Temos medo de tentar, experimentar, inovar e criar.

Pessoas-segurando-lâmpada
Para ter novas idéias é preciso pesquisar. Além da pesquisa, a criatividade
depende da ação, da aplicação prática daquilo que se pensou e estudou.
Acredite em seus projetos, ouse, desafie a monotonia, vença seus limites...

Assumir riscos, investir em novas possibilidades, acreditar em projetos diferenciados. São palavras de ordem para a nova educação. Chega de comodismo. Abaixo a continuidade de fórmulas prontas, acabadas, que nossos alunos já conhecem há anos e que os deixa cansados e entediados.

O professor tem que investir no uso de novas tecnologias, na adoção de novas referências bibliográficas, acompanhar o que está acontecendo nas escolas que estão na vanguarda do processo de renovação pedagógica. Isso faz parte não de uma tendência passageira de mercado de trabalho, mas da dinâmica que se consolidou nos últimos anos e que irá ditar o ritmo do futuro em qualquer setor.

Também somos profissionais e, como tal, devemos acompanhar as transformações para que não nos tornemos dinossauros, fadados a rápida extinção. Adaptação, modernização, capacidade de sobrevivência, inventividade e estudo são ferramentas que permitiram ao homem sobreviver a muitos de seus predadores. O mercado de trabalho também é, muitas vezes, como uma selva... Talvez até um pouco pior! Porém, diferentemente do reino animal, onde os mais fortes prevalecem, no mundo profissional, as melhores oportunidades serão dadas aos mais preparados, criativos, empreendedores,...

4- “Desenvolver e elaborar a partir da inteligência coletiva”.

Nas escolas, como em qualquer empreendimento, fazemos parte de equipes. Não somos nada se trabalharmos de forma isolada, individualista. Muitas vezes não percebemos isso, principalmente nós, os professores, pelo fato de realizarmos nossa principal função (ensinar) à parte dos demais membros do grupo que fazemos parte.

A socialização de conhecimentos mencionada anteriormente tem que ser acompanhada por um planejamento sério, profissionalizado. Esse planejamento deve ser feito pelo grupo (obrigatoriamente). De forma a permitir argumentos, sugestões, proposições, apresentação de práticas, revisão de conceitos e reflexão a respeito das diretrizes e mesmo da filosofia que regem o trabalho da escola por parte de todos os envolvidos.

Como em qualquer empresa, o gerenciamento desse trabalho de desenvolvimento e elaboração do projeto pedagógico da escola deve ser feito pela direção. Distintamente de épocas passadas e apesar da ordenação dos projetos estar nas mãos da direção, todos tem direito a opinar, argumentar, objetar, sugerir e propor idéias. O único senão é que isso seja feito de forma coerente, com base em argumentos sólidos, que realmente contribuam para o reforço do debate.

O que se espera a partir dessas medidas prementes é que a escola possa rever suas práticas. O que se quer é que essa revisão redunde em transformações que melhorem a educação. O que se deseja é que os professores e os alunos tenham maior satisfação ao longo do ano letivo. O que se almeja é que a educação seja mais prazerosa, inteligente, sedutora e eficaz...

Avaliação deste Artigo: 4 estrelas