Planeta Educação

A Semana - Opiniões

João Luís de Almeida Machado é consultor em Educação e Inovação, Doutor e Mestre em Educação, historiador, pesquisador e escritor.

Saia de sua Zona de Conforto
João Luís de Almeida Machado

desafios, superação

“Tenho receio de sair de minha zona de conforto!”

Quantas vezes você já ouviu uma frase como esta? O que significa sair da estabilidade, daquilo que já está garantido e tentar algo novo? Lutamos ao longo de nossas vidas por segurança e, é claro, isso se relaciona justamente a zona de conforto. Galgar posições, alcançar resultados expressivos, atingir metas e objetivos, subir na hierarquia da empresa, atingir aquela tão sonhada promoção e virar um dos diretores, por exemplo, é algo perseguido por muitos ao longo de suas carreiras.

Somos movidos por desafios o tempo todo e, se atingimos aquilo que parece ser o ponto final de nossa trajetória, acomodamos e cedemos, nos entregamos, nos rendemos e, com isso, passamos basicamente a fazer mais do mesmo... é isso mesmo o que você quer?

Para chegar no ponto em que está em sua vida e carreira quantos desafios você teve pela frente?

Lembra-se da lendária história dos 12 trabalhos de Hércules? Foram batalhas aparentemente perdidas aquelas assumidas pelo filho mortal de Zeus, o maior dos deuses da mitologia grega. Dono de uma força descomunal, Hércules teve que enfrentar o Leão de Neméia, a Hidra de Lerna, o Javali de Erimanto, a Corça Cerinéia, as Aves do Estínfale, as Cavalariças de Áugias, o Touro de Creta, as Éguas de Diomedes, o Cinto de Hipólita, os Bois de Gérion, os Pomos de Ouro e o Guardião do Hades. Vitórias aparentemente impossíveis até mesmo para ele e que, apesar disso, foram uma a uma sendo vencidas.

Imagine então que, depois de todas estas batalhas, e já tendo se tornado um mito entre os gregos, ele teria se acomodado, ainda jovem e saudável, forte e no auge de sua popularidade, passando a simplesmente, gerir seu nome e carreira, vivendo dos louros do seu passado glorioso e vencedor...

Quando nos acomodamos é basicamente isso que ocorre. Deixamos de inovar, de buscar e enfrentar desafios, de fazer com que nossas ações sejam mais que meras repetições num cotidiano sem graça, sem sal e sem fim, apenas à espera de que os dias se acabem e, com isso, que a própria vida termine.

Fico pensando, por exemplo, como professor, pesquisador e gestor de projetos que sou, como seria para mim se apenas passasse a desfrutar daquilo que foi sendo construído ao longo de minha carreira, nestes mais de 30 anos de trabalho...

Seria basicamente como se assumisse uma postura de "bater o cartão", cumprir o expediente, estar presente no local de trabalho fazendo apenas mais do mesmo, sem sentir a necessária adrenalina que deve nos mover quando atuamos com paixão nas áreas que escolhemos para trabalhar.

Quando me formei muitas pessoas diziam que deveria entrar no serviço público pois isso me garantiria uma aposentadoria mais segura. Eu pensava então, ainda nos meus 20 anos, o quanto aquilo era estranho para mim, ou seja, com toda a energia e disposição que tinha, já falavam sobre aposentadoria e eu simplesmente querendo transformar o mundo ao meu redor, a partir de ações e projetos, ideias e práticas diferenciadas em educação...

O que me dá medo não são os desafios...

O que me dá medo é a zona de conforto!

Enquanto estou vivo, com energia e disposição, em idade que permite sonhar, voar, viver, criar, produzir e fazer a diferença, a acomodação me parece um verdadeiro crime, um atentado contra mim mesmo e também na direção de quem trabalha ou vive comigo.

Sei que o corpo envelhece, que a disposição muda, que de incendiários vamos nos tornando bombeiros, que a velocidade e a intensidade já não são mais as mesmas, ainda assim, continuo a buscar realizações, resultados, melhorias, transformações e, até mesmo, pequenas revoluções, se me permitem...

Me recordo de um atleta que, com mais de 40 anos de idade, foi considerado o melhor esportista num dos mais concorridos campeonatos de futebol de todo o mundo. Perguntaram para ele como ainda conseguia ser tão diferenciado e eficiente numa atividade em que há tantos jovens, com idade para serem seus filhos, atuando e querendo mostrar serviço. Ele então sintetizou dizendo que, com a idade podemos perder a explosão muscular e a velocidade, mas aprendemos os atalhos, os melhores caminhos, economizamos energia e, com isso, conseguimos chegar na frente até mesmo de quem é muito mais veloz. Essa experiência e maturidade passa então a ser a força motriz de nossas realizações quando ficamos mais velhos.

E, ainda assim, há aqueles que acham que a idade não nos permite continuar a contribuir para uma sociedade melhor, uma vida mais feliz e que devemos apenas nos aposentar, nos acomodar, viver em zonas de conforto eternas... diminuir o ritmo, andar de forma mais compassada, usar com inteligência o tempo e o espaço, atuar com o apoio da experiência, mas parar, só quando não der mais para continuar mesmo...

A propósito, se existem tais zonas de conforto permanentes, as desconheço. Sei que existem portos seguros, como a família, a fé, o trabalho, a amizade, a honestidade, a ética, a integridade, o amor e a paz, mas a vida é, e sempre será, uma estrada com curvas, retas, elevações, acidentes de percurso, chuva, sol, ventanias e tudo o mais. E é justamente por isso que a vida vale a pena!



Leia também…

# Educação de baixa qualidade no Brasil gera corrupção e desemprego, revela pesquisa

# A BNCC e a formação de professores


Avaliação deste Artigo: Matéria ainda não avaliada.