A Semana - Opiniões
Álbum de Figurinhas
João Luís de Almeida Machado
De 4 em 4 anos temos Copa do Mundo. Um dos maiores eventos esportivos do mundo. Celebrado e aguardado por fãs do futebol em todos os continentes. Torneio que começa já com as eliminatórias, no ano que antecede a Copa, propriamente dita, e na qual estão envolvidos mais países do que aqueles que compõem a própria ONU, a Organização das Nações Unidas (A FIFA, Federação Internacional de Futebol que organiza a Copa tem mais filiados que a ONU). Durante o evento, 32 seleções nacionais, entre as quais a brasileira, única esquadra a estar presente em todas as edições da Copa do Mundo, se enfrentam em processos eliminatórios até os confrontos finais, quando surge o país que reinará durante os próximos 4 anos como a melhor seleção do mundo.
Imaginem então que, como parte da tradição da Copa do Mundo, alguns meses antes do evento acontecer, são lançados álbuns de figurinhas com cromos contendo fotos e breves informações sobre os times, seus jogadores, alguns dados espetaculares sobre os confrontos, imagens dos estádios onde os jogos irão ocorrer...
E, com isso, no Brasil, um velho hábito retorna, uma brincadeira sadia de tempos atrás, que remonta à época em que os pais, avós e bisavós dos atuais colecionadores de figurinhas colecionavam seus próprios cromos, trocavam com os amigos as repetidas ou, ainda, nos “bafinhos”, tentavam amealhar dos colegas alguns de seus itens disponíveis para trocas.
Pode parecer apenas brincadeira, mas numa época em que as crianças e adolescentes ficam tanto tempo dentro de casa, ligados a dispositivos eletrônicos, na rede mundial de computadores, por meio de computadores, smartphones ou tablets, há elementos a serem considerados como benéficos e saudáveis nesta ação.
O movimento em torno das figurinhas, com o deslocamento dos colecionadores até bancas de jornais, locais nos quais, além de comprar novos pacotinhos com cromos é possível encontrar outros participantes, interessados em estabelecer trocas é, por si só, um interessante elemento de socialização.
As pessoas acabam encontrando amigos, conhecendo outros, conversando, trocando ideias e, com isso, fazendo parte de encontros presenciais, sem mediação de tecnologias, nos quais é imprescindível alguma interação.
Este é, certamente, o grande ganho inicial que, adicionado ao fato de que os álbuns contam, muitas vezes, com a participação de diferentes membros de uma mesma família, reunindo gerações, como pais e filhos, avós e netos, tios e sobrinhos, e temos maior ampliação da conversa e da interação, agora no âmbito familiar.
Outro ponto a considerar é que, inicialmente os álbuns e as figurinhas da Copa eram considerados como objeto de consumo e desejo de pessoas do sexo masculino. Não é mais o que prevalece nos pontos de troca. Há muitas meninas e moças que participam da brincadeira, interagindo ali, lado a lado com homens e meninos, sem que qualquer forma de discriminação possa ser percebida ou evidenciada. As meninas estavam alocadas, no que se refere a álbuns de figurinhas a volumes em que o foco fossem temas de seu interesse mais imediato, relacionado a filmes, personagens, quadrinhos, livros ou novelas, por exemplo, em que temas românticos ou mulheres fortes se destacassem. Isso, felizmente, está mudando, ampliando a brincadeira em torno de um tema, o futebol, que antes ficava circunscrito aos meninos.
Ir as bancas pode também ocasionar um interesse dos colecionadores na aquisição de revistas e na ampliação da leitura. Pode ser apenas um elemento secundário, ainda assim, mesmo que isso não seja tão representativo para que mais jovens leitores tenham contato com este tipo de leitura ou que o comércio de jornais e revistas cresça em níveis expressivos, há de ser considerada também esta possibilidade. É um dado a ser auferido, ou seja, se em tempos de Copa do Mundo e de álbuns de figurinhas de jogadores do torneio há crescimento nas vendas de outros itens nas bancas de jornais.
As figurinhas e o álbum da Copa são também interessantes pelo fato de exigirem organização por parte dos colecionadores. É preciso organizar os cromos, verificar e criar tabelas provisórias indicando quais são aquelas que ainda estão faltando, contabilizar o total de repetidas e, até, de certo modo, estipular horários e prazos para as trocas. Isso sem que, ainda, se considere um orçamento para a aquisição de mais pacotes e um teto de gastos, definindo que o mais interessante é comprar menos figurinhas e completar o álbum por meio de trocas.
É certo que algumas pessoas ainda não entenderam todos estes benefícios e que, infelizmente, há aqueles que querem preencher o álbum o mais rapidamente possível, como se a brincadeira fosse uma corrida contra o tempo ou contra os outros participantes. Não são muitos os que pensam assim, que querem erguer seus álbuns completos como se fossem troféus ao final de uma corrida de automóveis e abrir um espumante para comemorar. Se alguém tem prazer desse jeito, tudo bem, o mundo está aberto a todo e qualquer tipo de aventura e emoção, mas, convenhamos, este talvez não seja o melhor caminho...
Nas escolas, propriamente ditas, há ressalvas aos álbuns e a troca de figurinhas pois os alunos no Ensino Básico tendem a tentar trocar seus cromos durante as aulas. Talvez seja uma oportunidade para os educadores esta época do ano, tão específica, que se repete a cada 4 anos, para que se reforcem ideias como acordos, contratos e que, com eles, se firmem momentos específicos para a realização da brincadeira, como no horário do intervalo, na entrada das aulas ou ainda no final do período.
Outras oportunidades a serem aproveitadas nas escolas se referem a questão da matemática envolvendo as trocas e o preenchimento dos álbuns. Podem ser lançadas questões do tipo: Quem consegue completar o álbum tendo que usar menos dinheiro possível? Quanto custa para preencher seu álbum? O que causa o custo maior de algumas figurinhas em relação a outras quando as pessoas estão próximas de finalizar suas coleções? Porque há pessoas que tornam a brincadeira um negócio, vendendo cromos ao invés de colecioná-los? O valor gasto para comprar todas as figurinhas e o álbum daria para comprar uma cesta básica e alimentar uma família carente?
Equacionar estas perguntas e trazê-las à tona, tornando o álbum não apenas uma brincadeira divertida, mas um elemento para se pensar e aprender matemática e outras matérias, ampliando suas fronteiras, descobrindo onde estão os países que irão participar da copa, usando os dados das campanhas disponíveis no álbum para descobrir quantos gols foram anotados por cada equipe e por todas elas nas eliminatórias, tentando verificar quantos jogadores naturalizados compõem as equipes classificadas para a Copa ou ainda mais informações sobre o país sede, pode ser extremamente lúdico e interessante para os alunos e educadores.
De qualquer modo, colecionar figurinhas e compor álbuns é, certamente, algo que, ano após ano, geração após geração, continua vivo e promove uma saudável interação, de caráter lúdico, envolvendo tantas pessoas.
# A educação infantil no Brasil em números