A Semana - Opiniões
Ensino Fundamental: período crucial na formação do futuro cidadão
Luis Antonio Namura Poblacion
Muito tem se falado sobre a reforma do Ensino Médio, que é realmente necessária, conforme demonstram os dados do Censo Escolar da Educação Básica 2017, divulgados pelo MEC nesta quarta-feira, 31. É importante ressaltar, no entanto, que as deficiências encontradas nos anos finais da Educação Básica – e que trazem por consequência dificuldades de ingresso na faculdade e no mercado de trabalho – são oriundos, muitas vezes, da má formação dos alunos lá atrás, no Ensino Fundamental. Aí está o cerne do problema. Para ingressar no Ensino Médio e ter um bom desempenho, crianças e adolescentes precisam primeiro ter passado por um Ensino Fundamental de qualidade. Infelizmente, não é isso que acontece em grande parte dos casos.
Uma das causas desse problema é a formação precária dos professores. Cerca de 15% dos docentes da Educação Básica não têm ensino superior, segundo mostrou o Censo. Analisando a formação dos professores na Educação Infantil, verifica-se que 6,2% deles estudaram somente até o Ensino Fundamental e 18,1% não terminaram nem o Ensino Médio. O mais preocupante é que no Ensino Fundamental – quando começa verdadeiramente o aprendizado das diversas disciplinas em sala de aula – 3,7% dos professores que estão lecionando não terminaram o Ensino Médio e 5% deles estudaram só até essa etapa. Existem ainda 6% que estão na faculdade. E mesmo entre os 85,3% formados na universidade, muitos não fazem cursos de formação e atualização, importantíssimos neste mundo cada vez mais globalizado e digital.
De acordo com o Censo, também falta adequação dos docentes às disciplinas que lecionam. Em Língua Estrangeira, por exemplo, apenas 42% dos docentes têm formação adequada na área. E o agravante é que 23,7% desses professores não têm sequer Ensino Superior completo. A baixa remuneração é um dos motivos para a falta de entusiasmo do professor. E é fato que cada vez menos jovens querem abraçar a profissão.
O problema de repetência, de evasão escolar e de baixa qualidade no aprendizado durante o Ensino Fundamental é grave. E os municípios são os responsáveis por 61,3% das escolas brasileiras – o equivalente a 112,9 mil instituições de ensino. As escolas estaduais representam 16,6% e as federais, 0,4%. É verdade que muitos gestores municipais vêm se esforçando para mudar esse quadro – é só verificar os índices do IDEB que estão melhorando em muitos municípios do país. Mas muito ainda precisa ser feito e as prefeituras têm que arregaçar as mangas e oferecer um ensino cada vez de maior qualidade, começando por promover cursos de formação e atualização profissional, possibilitando assim que seus professores tenham condições de dar aulas mais criativas e mais instigantes, incluindo aí a tecnologia, computadores e aplicativos que tornam o aprendizado mais completo e mais dentro da realidade das crianças e jovens do século 21.
Torna-se urgente modernizar a metodologia de ensino nas escolas públicas, começando pelo Ensino Fundamental. O “ensino industrial” empregado há muitos anos já não supre as necessidades inerentes aos alunos nativos digitais, em um mundo em que tudo muda num piscar de olhos. E os professores devem acompanhar essa constante ebulição de novidades. Giz e quadro negro não bastam. Agora, o professor precisa estar munido de recursos digitais, elementos lúdicos de aprendizagem e ferramentas diversas que permitam que ele também transmita ensinamentos de forma criativa, inovadora e fique tão antenado em temas atuais quanto seus alunos.
Centenas de escolas públicas do interior paulista já contam com laboratórios de informática e fazem uso de recursos tecnológicos, oferecendo um aprendizado mais amplo e moderno. Que isso se multiplique por todo o país, transformando a Educação desde os primeiros anos da criança na escola, a fim de que ela chegue ao fim do Ensino Médio verdadeiramente preparada para fazer uma boa faculdade e consiga deste modo o seu espaço em um mercado de trabalho cada vez mais exigente e competitivo. Porém, acrescento, de nada valerão os “gadgets” tais como: computadores, laptops, celulares, lousas digitais, entre outros, se aos professores não for dado conhecer e aplicar metodologias educacionais que façam uso adequado deste ferramental. O segredo de uma educação de qualidade não está na ferramenta e sim na adequada utilização das ferramentas disponíveis, traduzindo, na boa e velha didática, potencializada, hoje em dia, pelo melhor conhecimento do cérebro humano e como ele adquire, organiza, analisa, sintetiza e guarda as informações que recebe.
Para tal, metodologias que fazem uso adequado de todo conhecimento que hoje temos acerca do funcionamento do cérebro humano, fazem toda diferença no processo de ensino e aprendizagem.
Cabe aos gestores proporcionar aos educadores acesso a estas novas metodologias e estes, através dos cursos de formação continuada, se inteirarem destas modernas ferramentas a fim de propiciar uma regência de aula mais suave para si e mais eficaz para seus alunos.
E, qual o segredo de uma formação revolucionária? Bem, este é um dos temas mais relevantes de todo o processo de ensino e aprendizagem; fica para um próximo texto. Até lá...