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João Luís de Almeida Machado é consultor em Educação e Inovação, Doutor e Mestre em Educação, historiador, pesquisador e escritor.

Alunos invisíveis
João Luís de Almeida Machado

discrição, isolamento, dificuldade

O ano começou. As turmas foram organizadas. Os professores receberam as listas de nomes e, após algumas semanas de aula já conseguem identificar os estudantes com os quais estão trabalhando. Normalmente os docentes memorizam com grande rapidez os extremos do grupo, ou sejam, os alunos com melhor rendimento e aqueles com maiores dificuldades. Há ainda o caso dos estudantes que se destacam na questão disciplinar, para o bem ou para o mal, a saber, aqueles que têm comportamento exemplar ou inadequado.

Entre todos eles, no entanto, há um grupo de alunos invisíveis aos olhos dos professores, da coordenação, da orientação e da direção...

São alunos que normalmente apresentam rendimento satisfatório e comportamento tranquilo. Não atraem a atenção, não se sentam nas primeiras ou nas últimas carteiras, mantém tarefas e trabalhos em dia, não tem o brilho e o rendimento dos melhores alunos e evitam confusões. São silenciosos na maior parte do tempo e tocam sua vida sem muitas intercorrências.

A escola, por vezes, pensa nestes alunos como aqueles que estão bem, que não apresentam problemas ou dificuldades, sejam questões de aprendizagem ou comportamento. Analisam estes alunos invisíveis como aqueles aos quais não é necessário muito apoio ou suporte, às vezes, nenhum mesmo...

Sendo assim, estes alunos aparentemente independentes, passam pelas salas de aula incólumes, completam os ciclos escolares de forma discreta, aparecem em fotos da turma sem que os colegas se lembrem direito deles...

São alunos que, devido a invisibilidade aparente, já atingiram um grau de maturidade, autocontrole e organização satisfatórios, capazes de passar pela escola sem que isso afete suas vidas profundamente, como a outros estudantes, os populares, os melhores alunos ou os indisciplinados...

Na realidade, no entanto, por mais que o manto de invisibilidade sobre o qual se escondem seja uma espécie de proteção, muitos destes alunos precisam de apoio, atenção e orientação dos profissionais da escola e de seus familiares.

Até mesmo por conta disso, compete as escolas conversar, acompanhar e monitorar todos os seus alunos, inclusive estes, invisíveis e neutros, que como os demais vivem os dilemas, as dificuldades, os dramas, as peripécias, as vitórias e tudo o que se relaciona a faixa etária em que estão, seja na vida, no geral, ou na escola, em particular.

São alunos que terão necessidade de apoio acadêmico, emocional, organizacional, psicológico e vocacional como qualquer outro, mas que, por conta de sua discrição e sobriedade, acabam sendo esquecidos, ignorados ou lembrados apenas pontualmente, em determinadas situações ou ocasiões, sendo que o apoio a eles deveria ser realizado sempre, ao longo do ano, como aquele oferecido aos demais alunos.

A sensação para eles, muitas vezes, é a de que são esquecidos e, isso, não é nada bom. Tentam suprir esta falta de apoio por conta própria ou buscando o apoio de colegas que tenham perfil semelhante, passíveis de situação parecida na relação estabelecida com a escola e seus representantes...

Em alguns casos são apenas bons alunos, discretos, eficientes e capazes de resolver seus próprios problemas. Em outros há dificuldades de relacionamento na escola, na família ou problemas no processo de ensino-aprendizagem que ficam ocultos nesta invisibilidade e, em assim sendo, se há omissão da escola por parte de seus professores, da orientação educacional ou da coordenação pedagógica, com quem estes alunos têm contato diário, é sinal de que a luz amarela, no mínimo, tem que ser acesa.

Como proceder?

- As escolas precisam ter atendimento mínimo previsto para cada aluno, com pelo menos um agendamento de cada estudante matriculado com a orientação e/ou coordenação por semestre.

- Os professores devem abrir os olhos para estes alunos discretos demais, invisíveis ao primeiro olhar, escondidos atrás de populares, indisciplinados ou alunos com rendimento acima da média. Isso significa, na prática, fazer com que sejam mais participativos e que se integrem mais ao grupo com o qual estudam.

- Aproximar estes alunos de outros, com perfil diferente, para ativar os processos de socialização e interação, em grupos de estudo ou na realização de projetos é medida importante e recomendada.

- Descobrir talentos entre estes alunos e incentivar o seu crescimento pessoal são ações que auxiliam nesta integração e visibilidade. Isso significa, por exemplo, que se algum deles tem evidente talento em ilustração ou se toca instrumentos, isso pode ser um mote para integrar e motivar mais participação na escola.

- Por vezes os alunos em questão apresentam apenas rendimento satisfatório em matemática, geografia ou língua portuguesa, mas o professor percebe que há algo mais neste estudante, que ele(a) pode crescer e, para valorizar tal pessoa, os incluem em grupo de monitores para alunos com dificuldade. Isso dá espaço a alunos que antes só se viam acuados e escondidos no todo da sala.

- Pedir participação mais efetiva em aula, conversar com os pais ou responsáveis, verificar os motivos da quietude ou timidez excessiva, realizar reuniões com profissionais que eventualmente atendam estes alunos como psicólogos, por exemplo, são também medidas necessárias e louváveis neste esforço contra a invisibilidade parcial ou total de tais casos.

Ninguém quer que o aluno desperdice as boas e reais oportunidades de aprendizagem, socialização e crescimento oferecidas pela escola e pela vida a estudantes com este perfil. Isso passa por integrar, valorizar, pedir participação, estimular a colaboração e a socialização por meio de ações simples, como as que foram mencionadas neste artigo.

A invisibilidade pode ser interessante em filmes de ação ou ficção, até mesmo na vida das pessoas em determinados momentos, mas no todo da existência de alguém, não faz nenhum sentido, pois na busca pela realização pessoal, todos precisam de carinho, afeto, atenção e disponibilidade.



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