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João Luís de Almeida Machado é consultor em Educação e Inovação, Doutor e Mestre em Educação, historiador, pesquisador e escritor.

Spielberg (Documentário da HBO, 2017)
João Luís de Almeida Machado

Steven Spielberg, Tom Hanks, Leonardo Di Caprio, Drew Barrymore, Harrison Ford, Richard Dreyfuss, Martin Scorsese, Brian de Palma, George Lucas, Francis Ford Coppola.

O imaginário coletivo recente, criado a partir dos anos 1970 não foi mais o mesmo a partir do surgimento do jovem diretor Steven Spielberg no cenário cinematográfico mundial. Tendo aparecido numa época prodigiosa, em que, além dele, outros nomes que se tornaram célebres despontaram em Hollywood, como Martin Scorsese, Brian de Palma, George Lucas e Francis Ford Coppola, o menino tímido de Ohio, de ascendência judaica, veio a se tornar um verdadeiro Midas com seus filmes, seja na direção ou na produção.

Mas, como nasce um prodígio?

O documentário “Spielberg”, lançado em outubro de 2017, cuja direção coube a Susan Lacy, nos coloca em contato com o diretor desde seus primeiros filmes, ainda adolescente, já se apropriando da câmera e testando variáveis, produzindo suas primeiras películas até os bastidores de “Ponte dos Espiões” (2015), estrelado por Tom Hanks.

Menino criativo, cuja família, em especial a mãe, estimulava esta capacidade, realizada por Steven em parceria com as irmãs, foi de um criador de situações e histórias a um cineasta mirim ao longo de alguns anos, entre o final dos anos 1950 e início da década seguinte. Conforme seu próprio relato, inspirado pela obra-prima de David Lean, o premiado clássico “Lawrence da Arábia”, a morrer tentando ser cineasta, ainda que o brilho desta grande produção inicialmente o tivesse deixado receoso de suas reais possibilidades, Spielberg traçava já em 1962 seus passos futuros.

E não demorou muito para que isso se tornasse realidade. Até o final daquela década já estava com contrato assinado com a Universal e se tornava o mais jovem diretor a ter esta confiança por parte do estúdio. Os relatos de época, lendários a esta altura, contam que Spielberg entrou na empresa num ônibus de turistas e se escondeu no banheiro enquanto todos iam embora. Passados alguns minutos, sem que ninguém percebesse, entrou num dos prédios da empresa, se alojou numa sala em um andar pouco frequentado, colocou seu nome na porta e por lá foi ficando...

Spilberg, documentário

Desacreditado por muitos veteranos e diretores da Universal por conta de sua pouca idade e aparente inexperiência, ganhou suas oportunidades inicialmente realizando episódios de seriados produzidos pela empresa, época em que, teve seus primeiros desafios ao realizar filmagens com a veterana estrela de cinema Joan Crawford. Segundo consta, ela não hesitou em pedir que aquele jovem perfeccionista fosse demitido por demonstrar segurança e impor seu ritmo. Felizmente Crawford não foi atendida...

De qualquer modo, depois do filme experimental “Amblin”, que lhe abriu as portas das grandes empresas cinematográficas estabelecidas na Califórnia, seu primeiro filme com destaque comercial foi “Encurralado”, uma tensa perseguição realizada por um caminhão a um motorista em seu carro por desertas estradas da região. Spielberg vai aos poucos, durante o documentário, explicando os pormenores da produção, as correlações com experiências pessoais, como o fato de ter sido vítima de bullying na escola e do caminhão representar a ideia de seus perseguidores e do carro perseguido ser uma representação dele mesmo...

Suas próximas produções “Louca Escapada” (1974) e “Tubarão” (1975), fizeram com que o ainda imberbe diretor, com pouco mais de 20 anos de idade, ganhasse o respeito da crítica e imensa popularidade juntamente aos fãs de cinema. “Jaws”, título original de “Tubarão”, baseado no best-seller de Peter Benchley, se tornou até então o maior sucesso comercial da história do cinema. Isso permitiu a Spielberg voos mais audaciosos e, em seguida, o levou a produzir o igualmente bem-sucedido “Contatos imediatos de Terceiro Grau” (1977).

Ainda que tivesse poucos filmes em sua carreira, o estrondoso sucesso de bilheteria de “Tubarão” e, posteriormente, a repercussão obtida com “Contatos Imediatos”, alçaram Steven Spielberg a condição de estrela em ascensão entre os diretores norte-americanos. O próximo passo? Que tal uma comédia? Veio então o fracasso “1941 – Uma guerra muito louca” e as primeiras dúvidas quanto a seu talento por parte da indústria e dos críticos.

Spilberg, documentário

Começaram, inclusive, a pontuar que o promissor Spielberg sempre estourava prazos e orçamentos e, com isso, as empresas produtoras de filmes não pareciam dispostas a bancar seus próximos projetos. Nada melhor que contar, então, com amigos como George Lucas, outro produtor e diretor que fez seu nome nos anos 1970 e que angariou fortuna com “Guerra nas Estrelas” (1977).

Lucas ofereceu ao amigo a possibilidade de produzir um filme no estilo das produções “B”, dos anos 1940 e 1950, algo despretensioso, que teria um arqueólogo em busca de tesouros sempre envolvido em grandes aventuras... Surgia “Caçadores da Arca Perdida” (1980) e o icônico personagem “Indiana Jones”, que teve novos filmes produzidos e se tornou um enorme sucesso de público e crítica. Para realizar este filme, no entanto, contando com investimentos dele mesmo e de Lucas, Spielberg cumpriu prazos e investimentos e, a partir daí se tornou igualmente exemplar quanto a isso.

Toda esta brilhante carreira, no entanto, iria se tornar ainda mais reluzente com o estrondoso sucesso “E.T. – O extraterrestre”, lançado em 1982, que alçou Spielberg a condição de um dos mais adorados diretores de cinema da história. O filme arrecadou bilhões de dólares e o personagem, com sua história marcadamente emocionante, na qual se envolve com crianças ao ser deixado para trás por seus semelhantes, permitiu a Spielberg dar novos e diferentes passos em sua carreira, buscando temas e realizando filmes mais sérios, como “A Cor Púrpura”, baseado no premiado livro de Alice Walker, ou “Império do Sol”, ambos ainda nos anos 1980.

Spilberg, documentário

Spielberg passou também a atuar fortemente como produtor, realizando filmes como a franquia “De volta para o futuro”, “Poltergeist”, “Gremlins” e “Os Goonies”, entre outros, que fizeram seu nome e fortuna crescerem consideravelmente.

Ainda assim, nos bastidores, em sua vida pessoal, problemas com a separação dos pais e o seu próprio casamento com a atriz Amy Irving igualmente terminando com o divórcio, o abalaram e o fizeram mergulhar no trabalho.

O reconhecimento de seus pares, com a premiação da Academia, o tão sonhado Oscar, somente veio nos anos 1990, com o deslumbrante e forte “A Lista de Schindler”, seguido por outro relato marcante sobre a 2ª Guerra Mundial, com “O resgate do Soldado Ryan”. O grande sucesso comercial deste período, com bilheterias tilintando em todo o mundo foi a adaptação de “Parque dos Dinossauros” (1997).

“Spielberg”, o documentário, nos coloca em contato com os bastidores desta riquíssima história, de um dos maiores nomes do cinema mundial, que apesar de toda fama e riqueza, continua sendo um homem ponderado, de valores, ligado à sua família (se casou com Kate Capshaw, estrela do primeiro “Indiana Jones”), que não cedeu aos vícios tão comuns entre astros, estrelas, produtores e diretores hollywoodianos.

A partir de relatos do próprio Steven Spielberg, de membros de sua família (pais, irmãs), de outros diretores (Scorsese, De Palma, Lucas e Coppola), de astros que trabalharam com ele (Tom Hanks, Harrison Ford, Drew Barrymore, Leonardo Di Caprio, Tom Cruise, Richard Dreyfuss...), o documentário que tem cerca de 2 horas e meia, nos coloca em contato com a história do menino que virou uma lenda do cinema, num filme que poderia ser do próprio Spielberg, com sentimento, reviravoltas e um grande roteiro. Imperdível!


Veja o trailer do documentário


Ficha Técnica

Documentário: SPIELBERG

País/Ano: EUA, 2017

Duração: 147 minutos

Gênero: Documentário

Direção: Susan Lacy

Elenco: Steven Spielberg, Tom Hanks, Leonardo Di Caprio, Drew Barrymore, Harrison Ford, Richard Dreyfuss, Martin Scorsese, Brian de Palma, George Lucas, Francis Ford Coppola.



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