Filosofando
Escola: o lugar da diversidade, da construção de alteridade
Marisa Ester Rosseto
A discussão sobre diversidade nunca esteve tão atual, inclusive é até pauta na programação de um canal de TV aberta, trazendo fortemente a dor, a angústia e as dificuldades da vida da personagem transexual e de seu entorno, particularmente, de seus pais. A escola não tem como deixar de fora esses temas, essas questões que atravessam as vidas que se encontram nos diferentes espaços de relações e aprendizagens, pois a escola é o próximo lugar da diversidade! É necessário compreender as diferentes formas de ser, estar, pensar e viver na contemporaneidade.
A reflexão perpassa por incômodos números. Segundo a ONG Transgender Europe, o Brasil é o país que registra – em números absolutos – o maior número de assassinatos de travestis e transexuais no mundo. Tratando agora de outra minoria, as mulheres, o cenário continua acinzentado. Segundo dados recentes do Datafolha (8 de março de 2017), encomendada pelo Fórum Brasileiro de Segurança, uma em cada três mulheres sofreram algum tipo de violência no último ano – considerando agressões físicas, 503 mulheres foram vítimas a cada hora.
Trazer para os currículos as discussões acerca da diversidade e inclusão são fundamentais, mas não são suficientes: precisamos refletir e produzir espaços que possibilitem movimentos de viver/experienciar as diferenças. O que está em jogo, na escola, é o que nos constitui como sujeitos de uma relação de alteridade.
A manifestação da alteridade revela atitude que vai além do respeito, pois, quando nos tratamos como iguais, na relação de alteridade, não há julgamento e nem mesmo atribuição de qualquer valor. Por exemplo, quando há uma discussão entre duas pessoas de crenças religiosas diferentes e estas apresentam suas visões acerca de um mesmo tema, as duas visões são aceitas; hoje, o que nos cabe é o “e” não o “ou”. Nesse caso, nem sempre há o certo ou o errado, apenas existem visões diferentes, sem uma ser melhor ou pior que a outra. A experiência e a construção da alteridade pressupõem sujeitos possíveis e não iguais.
E, no exercício da alteridade, é preciso reler as nossas (de todos envolvidos na relação da escola) representações de mundo, passando por questões como “Quem é o diferente na escola?”, “Como ele é visto?”, “Por quais olhos e vias devemos enxergar o diferente na escola?”
Para se desenvolver uma relação de alteridade é preciso propiciar a experiência do encontro na escola. Mas como, então e efetivamente, fazer?
• Quando profissionalizamos a gestão, os resultados, as pessoas da escola sem perder a ideia do espaço “tridimensional” (aluno, professor e objeto de conhecimento) onde se constrói a reflexão e o diálogo permanente.
• Quando não geramos a aula em torno apenas da aprendizagem numa relação individual, privatizada e sim de construção, de troca.
• Quando usamos as tecnologias educacionais de forma adequada, sem transformar os espaços de experiências das salas de aula em centros de conexões, mas sim em espaços de experiências.
• Quando organizamos e planejamos as formações dos docentes, sabendo a serviço de quem e que a escola está.
• Quando não permitimos que nossas escolas sejam capturadas e entrem na mesma lógica do mundo da competividade empresarial, da competitividade pelas capacidades, não permitindo que a escola perca a possibilidade de viver a “experiência” como um direito.
Assim, temos hoje um grande desafio posto: como manter uma ideia séria de educação em um contexto novo?
# Como lidar com os alunos “nativos digitais” da geração Y?