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João Luís de Almeida Machado é consultor em Educação e Inovação, Doutor e Mestre em Educação, historiador, pesquisador e escritor.

Reformas educacionais em outras nações: Algumas lições para o Brasil
João Luís de Almeida Machado

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Entre os países que estão à frente do PISA, conforme os últimos levantamentos e dados desta importante prova de alcance mundial divulgados em 2016, encontram-se nações asiáticas como China (Xangai), Coréia do Sul, Japão, Cingapura, Hong Kong, que contam com a companhia da Finlândia, Canadá, Austrália e Nova Zelândia.

O Brasil apresentou evolução em seus resultados, melhorando sua pontuação quanto aos índices de educação básica, saltando de 368 para 401 pontos, superando os vizinhos Argentina e Colômbia, mas ainda ocupando posição incômoda, no ranking geral das 67 nações avaliadas, estando na 53ª posição geral (Em matemática somos os penúltimos; em linguagens estamos na 63ª posição).

Quando comparados com a média dos países avaliados, nossos números são pífios, especialmente em relação a matemática, área na qual a média do exame é 490 pontos e a nota dos brasileiros fica na faixa dos 377 pontos. No geral, nesta área do conhecimento específica, ou seja, em matemática, 7 em cada 10 alunos brasileiros não atingem nem o mínimo esperado quanto a compreensão, apreensão e uso das ferramentas desta importante linguagem.

Como, no entanto, outras nações superaram seus problemas e atingiram resultados expressivos, chegando ao topo do ranking, figurando entre as melhores nações em educação? Há lições a serem aprendidas e que podem ser aplicadas no Brasil para que tenhamos rendimento satisfatório e possamos oferecer educação de qualidade para nossos estudantes?

O primeiro ponto importante a ser observado refere-se a ideia de que é preciso ter políticas públicas estáveis em educação, planos que não se restrinjam a governos e partidos específicos, que representem ações de longo prazo e comprometam as autoridades a continuidade, pautados nos melhores exemplos observados entre as nações mais desenvolvidas em educação e, logicamente, adequados a nossa realidade.

A China, por exemplo, começou suas reformas em educação no final dos anos 1970 para que agora tenham resultados e repercussão. Não há fórmulas mágicas, atalhos ou resultados de qualidade que possam ser atingidos sem comprometimento dos envolvidos e uso adequados dos recursos disponíveis, o que, no caso do Brasil, significa estancar desvios, evitar rotas populistas que pouco acrescentam e promover ações que sejam efetivas quanto a currículos, formação de professores, materiais didáticos de qualidade, projetos de uso de tecnologias e outros recursos fundamentados e adequados as necessidades, oferta de infraestrutura de bom nível e por aí afora.

Os chineses, fizeram exatamente isso, criando currículo com disciplinas obrigatória, eletivas e atividades extracurriculares já em 1980, investindo fortemente na formação docente (inicial e continuada), renovação de materiais e metodologias didáticas e criação de sistema de avaliação consistente, além de oferta de estrutura nas escolas que comporte com qualidade os trabalhos, projetos e ações educativas.

Avaliar a educação nacional, investir em idiomas estrangeiros, aprimorar a cooperação entre escolas (sentido de rede efetiva), conectar a educação ao mundo do trabalho, incentivar e cobrar a pós-graduação entre seus professores (no mínimo tem que ter mestrado) e criar um conselho de avaliação para definir procedimentos e práticas que orientem as ações dos docentes em todo o país foram estratégias usadas na Finlândia, país que nos anos 1970 tinha nível equivalente de educação ao do Brasil e que há anos está entre os melhores do PISA. As reformas na Finlândia começaram nos anos 1980, ou seja, para chegar aos resultados expressivos que hoje apresentam foram cerca de 3 a 4 décadas de trabalho sério, firme, continuado, com estudo e pesquisa constante.

Os canadenses demoraram um pouco mais para começar tendo iniciado sua reforma nos anos 1990 e focaram na gestão da educação nacional. O objetivo, neste caso, era melhorar a administração das escolas, buscando maior eficiência, com gestores mais qualificados e profissionais. Foram criados conselhos escolares que buscaram envolver mais as famílias e orientar de forma mais lógica e pertinente os investimentos a serem feitos nas salas de aula de todo o país. Acompanhar efetivamente os alunos se tornou meta e prática regular, monitorando ao máximo o desempenho e atuação dos estudantes nas escolas; outra ação importante foi trabalhar a formação dos professores em conformidade com as novas competências, recursos e expectativas do mundo em que vivemos. Atingir a competência aliada a excelência técnica foram, desde então, no Canadá, verdadeiros mantras para com os profissionais da educação, tanto na gestão quanto na docência.

O que fica claro, nestes 3 exemplos, é que o Brasil precisa de foco, permanência, estudo e tempo para efetivar suas reformas. E em que é preciso focar? A resposta de chineses, canadenses e finlandeses é clara e, para reforçar ainda mais o que já foi dito e está sendo feito nestes países, seguem abaixo 5 bases fundantes para que possamos melhorar nossa educação, a saber:

1- Investir na formação de gestores e professores para que modernizem suas práticas, compreendam e se afinem com as prioridades educacionais, atuem de forma cidadã, profissional, crítica e ética em seu trabalho;

2- Definir as prioridades formativas em relação ao currículo no ensino básico, oferecer materiais didáticos e recursos de qualidade para realizar as formações e inserir de forma consciente, progressiva e inteligente as tecnologias de informação e comunicação no cotidiano das escolas;

3- Criar sistemas de avaliação consistentes e monitorar de forma premente a evolução dos alunos;

4- Estabelecer vínculos fortes, de comprometimento real, com as famílias e comunidades, destacando o importante papel que devem exercer juntamente as escolas na busca de uma educação de qualidade;

5- Utilizar de modo consciente, responsável e lógico os recursos destinados à educação nacional tendo sempre o claro compromisso da qualidade como o que se pretende atingir.

Acima de tudo precisamos de tempo, estudo, ética e comprometimento real para que isso se efetive. Somente assim será possível que o Brasil possa se equiparar aos melhores do mundo em educação.



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