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Educação e Tecnologia

João Luís de Almeida Machado é consultor em Educação e Inovação, Doutor e Mestre em Educação, historiador, pesquisador e escritor.

O celular na sala de aula: Pesquisa revela aumento de uso no Brasil
João Luís de Almeida Machado

ensino híbrido, sala de aula invertida

O uso de tecnologias nas escolas brasileiras foi alvo de pesquisa realizada pelo Ceti-BR (Centro Regional de Estudos para o Desenvolvimento da Sociedade da Informação). O olhar, mais específico nesta pesquisa, divulgada neste mês de agosto, foi direcionado para a questão do acesso à internet e ao uso de dispositivos móveis, em especial os celulares nas atividades educacionais.

O levantamento de dados foi realizado juntamente a 1.106 escolas urbanas, espalhadas por todos as regiões brasileiras, com foco no Ensino Fundamental II e no Ensino Médio, sendo que 1854 professores de diferentes áreas do conhecimento e mais de 11 mil alunos foram entrevistados.

De acordo com os dados auferidos, o acesso à internet sem fio nas escolas já chega a 92% das escolas. Em instituições privadas o índice chega a 95% enquanto nas escolas públicas o patamar de acesso já é de 91%. Ao analisarmos estes dados chega-se à conclusão de que 9 em cada 10 escolas brasileiras, públicas ou particulares, já desfrutam de tal serviço, ainda que a qualidade da banda seja um problema, com velocidades abaixo do previsto em contratações realizadas pelas escolas e redes.Percebeu-se, por exemplo, que na medida em que a faixa etária aumenta, assim como os anos ou séries em que os alunos estão matriculados, o uso de smartphones e o acesso à rede mundial dos computadores também é maior. Para alunos que estão no 5º ano, o uso destes recursos atinge cerca de 27% das crianças. No final do Ensino Fundamental II, já no 9º ano, o acesso a estas ferramentas mais do que dobra, atingindo 59% dos alunos. Estudantes do ensino médio, por sua vez, que estão no meio do curso, portanto na 2ª série, já têm, em média, 74% dos matriculados respondentes da pesquisa com acesso e uso regular destes dispositivos, ou seja, o equivalente a 3 entre cada 4 adolescentes.

No que tange ao professorado, os dados revelam que houve um expressivo crescimento quanto ao perfil de usuários, entre os anos avaliados, ou seja, de 2015 para 2016. Em média 4 em cada 10 professores usavam a internet do celular para atividades com suas turmas em 2015. Um ano depois, em 2016, o índice é de 49%, ou seja, praticamente metade dos docentes realiza tal uso.

O problema maior consiste no fato de que, ainda que os dados revelem crescimento de uso destas tecnologias nas escolas do pais e que, mesmo com os problemas técnicos decorrentes da baixa qualidade dos serviços de internet no Brasil, as dificuldades maiores no tocante ao uso destes recursos em educação estão concentradas nas questões relacionadas a inclusão de tais ferramentas no projeto político-pedagógico e planejamento das escolas e na formação e preparação dos professores para o pleno aproveitamento do que lhes é oferecido.

Na maioria das escolas brasileiras, em especial na rede pública de ensino, o uso de tecnologias não faz parte do projeto político-pedagógico das instituições de ensino básico. Há equipamentos, redes e, mesmo, softwares e outros recursos, mas a escola não tem projetos claros, depende da iniciativa de alguns profissionais, enfrenta a resistência interna de docentes ou gestores pouco afeitos a tecnologia, carece de maiores estudos, teme a adoção da internet ou de celulares e adia o quanto pode esta presença em suas salas de aula.

Isso, é claro, se relaciona ao outro fator que é primordial para o uso das tecnologias na escola visando uma melhor aprendizagem, ou seja, o preparo dos professores para esta utilização, dentro de planejamentos que sejam claros, pontuais, mesclando recursos como internet e smartphones a ações presenciais, usando as metodologias ativas (desconhecidas da maioria das escolas, de seus gestores e professores ou, na melhor das hipóteses, apenas reconhecida por seus nomes usuais, publicizados pela mídia especializada, relacionados a práticas como ensino híbrido ou sala de aula invertida).

Processos formativos adicionais para quem já é profissional e está em sala de aula são indispensáveis para que isso realmente funcione, seja efetivo, atinja ganhos quanto a resultados para o ensino. Para quem está em formação é preciso repensar os currículos dos cursos de pedagogia e licenciaturas, incorporando a eles aulas específicas de tecnologia educacional aplicadas as salas de aula e metodologias ativas, trazendo tanto a teoria quanto práticas e cases a serem estudados e replicados, adequando-os aos diferentes contextos educacionais característicos de cada escola.



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