Educação para o Pensar
Escolas além das tecnologias
João Luís de Almeida Machado
Tecnologias na educação são indispensáveis. Não perca esta afirmação de vista, pois estarei ao longo deste texto afirmando isso, mas ao mesmo tempo reforçando outro ponto, ou seja, a ideia de que apesar disso, as tecnologias por si só não resolvem a vida de professores e alunos.
Confuso?
Era isso mesmo que eu queria fazer com você ao pontuar esta conclusão. Não se iluda se você, deslumbrado com as tecnologias, pensar que estou ficando louco, ainda mais atuando na área de tecnologia educacional há tantos anos, como estudioso e gestor de projetos nesta seara.
O que estou afirmando é que, quem consolidar o uso de tecnologias em sala de aula precisará de mais do que isso para oferecer educação de qualidade para seus alunos. Não basta a tecnologia, precisamos também dela, como ponto de apoio e ferramenta valiosa para nossas ações e intercâmbio com os nativos digitais que temos hoje em nossas salas de aula e que para sempre estarão conosco.
Eles estão conectados. Isso é fato. Os professores e gestores das escolas também precisam estar ligados na rede mundial de computadores, o que é igualmente fato. A diferença é que a escola tem que oferecer mais, um universo além do virtual, onde tenhamos salas de aula que simulam tanto no plano virtual quanto no presencial a realidade, mesclando aulas on-line com debates, leituras, laboratórios, ações além dos muros da escola, contato com instituições e pessoas qualificadas, desenvolvimento de projetos, aulas expositivas (palestras), workshops…
O aluno que dominar a tecnologia será mais um, num mundo conectado como aquele em que vivemos, a estar de acordo com o que se espera dele, nada além disso. O que para muitos parece ser a definição da existência no terceiro milênio é um elemento básico. A diferença vai residir naqueles que conseguirem se desenvolver além desta fronteira básica, tendo condição plena de interagir, resolver problemas, trabalhar em equipe, ter iniciativa, conhecer o mundo físico ao seu redor, trabalhar de forma criativa.
Não estou aqui reinventando a roda. Todos sabemos que a linha de produção de Henry Ford, com o tempo controlado rigidamente no modelo Taylorista está sendo superada pois o processo de produção industrial cada vez mais será mecanizado, informatizado e operacionalizado por meio de robôs. Aos homens caberá o controle deste sistema no comando de computadores e redes. A questão é que, de certo modo, talvez até com maior controle e rigidez que antes, pelos sistemas os seres humanos também estarão ligados a “linhas de produção” digitais, como de fato já estão.
As telas dominam o mundo e orientam as ações. Submeter-se a elas é caminho natural. A autonomia, por outro lado, ainda que estejamos diante de telas, computadores, sistemas e outros recursos dos quais ninguém irá escapar, é a de que tenhamos consciência do sistema como um todo, atuando de forma crítica e racional dentro dele, mas que ao mesmo tempo estejamos fora desta realidade forjada, virtual, interagindo no mundo real.
Neste sentido, a escola tem papel de suma importância pois deve ser o local, amparado pela família, demais instituições e governos a representar o estado, onde a autonomia será trabalhada entre as novas gerações. Escolas com computadores sim, mas também com livros, espaços amplos para o convívio, áreas de estudo e debate, núcleos de integração entre escola e empresas, ações de intercâmbio no mundo real para professores e alunos, laboratórios sociais e científicos, atividades de integração social, incursões no meio-ambiente e outras práticas são de essencial importância. Somente assim, nesta plenitude, teremos uma escola que há de cumprir o que dela se espera.