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Carpe Diem

João Luís de Almeida Machado é consultor em Educação e Inovação, Doutor e Mestre em Educação, historiador, pesquisador e escritor.

Adélia Prado e a poesia para toda a vida
João Luís de Almeida Machado

conhecer, experimentar e viver com intensidade

“O sonho encheu a noite

Extravasou para o meu dia

Encheu minha vida

E é dele que eu vou viver

Porque sonho não morre.”

(Adélia Prado)

E que sonhos te movem? Quais caminhos são definidos para você por seus sonhos? Sua trilha é aquela do pragmatismo ou você se decidiu por perseguir aquilo que faz você feliz? Os seus sonhos te pertencem ou ao longo de sua vida você tem vivido as aspirações alheias?

Adélia Prado, magistralmente, em poucas linhas, nos remete a felicidade que povoa nossas noites e nos diz para perseguir o que aparentemente são somente devaneios. Não são somente buscas inócuas, pelo contrário, definem muito daquilo que somos, do que almejamos, de nossa trajetória (ou não) em vida. Se as letras são seu caminho porque tantas vezes decide ser administrador ou dentista? Se salvar vidas num hospital, como enfermeiro ou médico te fascinam e te fazem sonhar, o que faz com que sejas um técnico em informática ou um advogado em busca de clientes e casos? Se o amor de sua vida está ao seu lado, o que te faz deixar que ela (ou ele) passem por sua vida sem que jamais se mobilizem suas forças para atingir e buscar sua realização? Estamos por aqui por períodos de tempo muito curtos, sem saber ao certo quando findará nossa existência e, ainda assim, oprimimos em nós mesmos os desejos, os sonhos, as buscas e realizações que tanto queremos para nós mesmos. E, ao assim fazê-lo, literalmente nos castramos, nos podamos e nos matamos aos poucos...


“O que a memória ama, fica eterno. Te amo com a memória, imperecível.” (Adélia Prado)


Numa época como a que agora vivemos, em que tudo parece descartável, inclusive aquilo que devia ser eterno, como os sentimentos que alimentamos por nossos pares, falar daquilo que permanece, que é imperecível porque guardamos na memória, por conta de toda afetividade e felicidade que associamos a pessoas, lugares, situações e realizações, parece fora da realidade, da moda ou daquilo que realmente importa neste mundo frio, calculista e pouco afeito a verdade e ao amor. Fora da realidade é justamente o contrário deste sentimento puro e belo que deve nortear nossos passos, clarear nossas mentes, iluminar nossos dias e nos dar força para vencer os desafios e sorver, com paixão, a vida que nos é oferecida. As lições de Adélia Prado nesta sentença, curta e breve, na qual aborda muito mais que a memória imperecível, em que fala daquilo que nos motiva verdadeiramente a viver, nos remete a uma vida sem pressa, onde é possível e necessário saborear cada momento, cada pessoa, cada sentimento que nos cabe nesta existência de forma a nos permitir a intensidade que devemos sempre buscar.


“Não quero faca, nem queijo. Quero a fome.” (Adélia Prado)


Fome? “Quero a fome”? A inanição? Isso, a princípio, parece muito contraditório. O que mobilizaria Adélia Prado a querer o que, como todos sabemos, nos provoca o sofrimento, a dor e, em casos extremos, até mesmo a morte? Não se trata, no entanto, como numa primeira leitura somos instados a perceber, da fome que mobiliza nossos corpos a pedir comida, a requisitar aquilo que nos dá energia e movimenta nossos corpos, aquilo a que se refere Adélia Prado. Suas palavras falam sobre a fome que temos por saber, conhecer, experimentar e viver com intensidade. Esta fome, por uma existência mais plena, na qual não sejamos tolhidos ou restringidos por ninguém, nem por nós mesmos, é algo que por vezes deixamos de lado, acomodados como ficamos



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