Educação e Tecnologia
Home Office, AVA e EAD: o novo mundo do trabalho e estudo
João Luís de Almeida Machado
É cada vez mais comum para as empresas o emprego de profissionais que atuam em Home Office. O termo, cunhado a partir da língua inglesa, significa literalmente “escritório em casa” e é representativo da mentalidade de empresas do século XXI, afeitas a questões como fidelizar seus melhores funcionários, diminuir a emissão de gases poluentes na atmosfera, reduzir gastos em suas sedes, gastar menos com traslado de colaboradores e, talvez o mais importante de tudo, por conta da satisfação do seu trabalhador em home office e do menor desperdício de tempo no trânsito, aumentar a produtividade geral do empreendimento.
Não é só em empresas que isso está sendo observado. A educação, ao adotar o modelo de Ensino a Distância, o EAD, com o uso das novas ferramentas de tecnologia de informação e comunicação, por meio dos Ambientes Virtuais de Aprendizagem, conhecidos pela sigla AVA, oferece condições para que seus alunos estudem à distância. Isso lhes permite personalizar seus estudos dentro das possibilidades de agenda oferecidas pelas instituições de ensino, oferecendo videoaulas e atividades diversificadas que precisam ser entregues para validar a participação e a frequência do estudante no curso, monitorando as ações do aluno para verificar o que ele está lendo, assistindo, ouvindo e produzindo. Tudo isso acompanhado por tutores à distância. Nos modelos atuais há, ainda, avaliações e projetos feitos inteiramente por meio da internet e das plataformas usadas nos cursos e, para completar, ações presenciais, em polos de ensino e estudo localizadas em cidades que funcionam como núcleos destas escolas.
Trabalhar ou estudar a distância são ainda, no entanto, para muitas pessoas, algo distante e/ou difícil de entender e utilizar.
Muitas empresas brasileiras, por exemplo, apesar de usarem tecnologias de informação e comunicação regularmente em seu cotidiano, ainda operam de acordo com os ditames do processo industrial de trabalho. Isso significa que, na prática, para seus proprietários ou gestores, é preciso ter controle imediato dos movimentos do trabalhador, como numa ultrapassada linha de produção, seguindo os passos do Taylorismo. Em “Tempos Modernos”, filme clássico dirigido e protagonizado por Charles Chaplin na segunda metade dos anos 1930, já havia uma crítica a esse modelo de trabalho que torna o homem, literalmente, uma peça na engrenagem que realiza os processos produtivos.
Ainda assim, em pleno século XXI, passados 80 anos do filme de Chaplin, o controle dos movimentos e ações dos trabalhadores continua sendo uma obsessão perseguida por muitos empregadores.
É evidente que nem todo o tipo de trabalho pode ser feito em home office, modelo operacional que funciona muito bem para funções executivas, criativas, em modelo por demanda ou projetos, envolvendo profissionais com funções administrativas, gerenciais ou de desenvolvimento de projetos e materiais de cunho intelectual. Ainda assim, por exemplo, hoje já é possível para médicos e engenheiros, entre outros profissionais, a realização de operações ou a gestão de projetos complexos estando em países, estados ou cidades diferentes daquelas onde o trabalho efetivamente está acontecendo. A automatização dos processos industriais, com o uso cada vez mais acentuado de sistemas informatizados e robôs, entre outras tecnologias, igualmente permite que altos executivos acompanhem, na ponta do lápis, ou para ser mais exato, em seus tablets ou smartphones, o que está sendo produzido em suas plantas industriais do outro lado do mundo.
A resistência ao home office é, evidentemente, resquício de uma cultura ultrapassada, que a médio prazo será vencida e que, a passos firmes, já está sendo superada. Isso acontecerá e a não compreensão dos novos modelos de trabalho e produção serão decisivas, inclusive, para a sobrevivência das empresas pois, como atesta Peter Senge, assim como as pessoas, também as corporações precisam aprender e se atualizar constantemente nesse novo e veloz mundo conectado e globalizado em que vivemos.
No caso da Educação à Distância usando tecnologias de informação e comunicação a adoção tem sido mais acelerada, no entanto, em contrapartida, muito do que se vê é ainda, adequação de modelos presenciais para o universo virtual. Fazemos online o que é feito presencialmente e é preciso rever as práticas, utilizar melhor as possibilidades da tecnologia, operacionalizar cursos dentro da metodologia de projetos, aproximando do mundo real, que sejam mais significativos para os alunos, exponenciando os usos da multimídia e das conexões possíveis, tanto no mundo virtual quanto no real.
Ensinar ou trabalhar a distância demandam, porém, para seus beneficiários, tanto direitos quanto deveres, ônus e bônus, vantagens e desvantagens. No que se refere a todo processo há, é claro, a necessidade do comprometimento e da disciplina por parte de quem trabalha ou estuda em casa ou em locais que não são o ambiente trivial de ensino e atuação profissional. Respeitar horários, definir espaços adequados para as ações a serem realizadas, ter em conta que há prazos para as entregas, entender que na ponta há outros profissionais esperando sua produção, saber trabalhar colaborativamente através da rede, ter sempre disponibilidade para atender e participar de reuniões e outros eventos via tecnologia ou, quando demandado, presencialmente, são elementos fundamentais do trabalho e estudo em home office ou por meio de EAD.
O tempo passa a ser seu aliado ou inimigo se você não criar hábitos e definir cronogramas para os projetos do trabalho, seja em ações profissionais via home office ou nos estudos via AVA. Para quem não tiver este compromisso e foco as repercussões são, é claro, a reprovação e o fracasso. O relógio, para quem estuda ou trabalha em casa não é controlado, ou seja, não se bate o cartão. Com isso, por vezes, o ônus acaba sendo perder a hora, prolongar os ciclos de trabalho, entrar noite ou madrugada adentro para cumprir prazos...
Quem é responsável e organizado, por outro lado, pode ter ganhos de produtividade que permitam tempo livre para adiantar outros projetos ou ações, cuidar de si mesmo, ter tempo para seu lazer, ler ou estudar...
O que é certo, neste novo mundo globalizado em que vivemos é que não há retrocesso a vista no que se refere ao uso das tecnologias de informação e comunicação como recursos que irão flexibilizar as atividades humanas, entre as quais, certamente, prioritariamente, a educação e o trabalho. Cada vez mais, pelo bem das pessoas, das corporações e do meio-ambiente, mais e mais indivíduos irão trabalhar e estudar em casa, com maior produtividade, sem ter a necessidade de se deslocar, sem perder tempo no trânsito, deixando de se estressar ou de se sujeitar a situações de risco.
# Educação presencial x Educação à distância