Ensino de Línguas
Teachers Brasileiros e a Dependência de Materiais Didáticos
Rodolfo Mattiello
Faz alguns anos que participo de alguns grupos de redes sociais relacionados a ensino de língua inglesa em que a maioria esmagadora dos membros são professores de inglês. No entanto, ano após ano venho percebendo a crescente dependência dos meus colegas de profissão de materiais didáticos, praticamente caminhando na contramão do ensino em lugares em que o sistema educacional é mais avançado.
É fácil de se compreender esse vício que professores têm com materiais didáticos afinal hoje ele oferecem vários recursos áudio-visuais com animação, personagens, músicas e sons, praticamente tudo que nós professores não tínhamos até, mais ou menos, 10 anos atrás. Ou seja, somente 10 anos se passaram desde que todo esse arsenal educativo começou a ficar à nossa disposição e ainda estamos curtindo essa onda. Só que nesse mesmo período a internet entrou num crescimento contínuo e se tornou um gerador de materiais que parece não ter limite e o melhor de tudo, tudo gratuito. Tudo ficou mais fácil de se encontrar e até mesmo aquele material que antes nos obrigava a ter uma biblioteca muito bem equipada, agora está a um clique de distância.
As ferramentas de pesquisa (Google, Bing, etc), facilitam a busca por materiais. Elas se tornaram as chamadas OER (Open Educational Resources), tanto que muitas delas criaram sub-produtos especialmente voltados para a educação em que materiais educativos e acadêmicos ficaram compilados numa gaveta própria filtrando o universo que seus sites principais disponibilizam. Porém, se pensarmos em materiais deliberadamente desenvolvidos para fins educativos, cairemos no mesmo problema de antes: eles são editados e gerais, isto é, eles são feitos pensando numa turma que seja homogênea e sabemos que isso não acontece nem mesmo nos centros de idiomas. Por isso materiais didáticos estão fora de moda, eles não atingem a totalidade da sua turma e os alunos, obviamente, vão ficar desinteressados. Mesmo assim, dia após dia vejo professores pedindo dicas sobre qual material usar para aulas de conversação, de leitura, de escrita, de gramática, de listening.
Essa dependência, que beira o vício, se deve em função da melhoria e da abundância de materiais didáticos. Agora pergunto a você: e se um dia você fosse proibido de usar qualquer tipo de material didático em sala de aula, você conseguiria desenvolver um lesson plan? Minha primeira impressão é que muitos teriam dificuldades extremas ao realizar sua atividade profissional, dada a quantidade de pessoas que pedem sugestões de materiais nos grupos das redes sociais das quais faço parte. Nós não podemos nos tornar reféns desses materiais porque ninguém conhece os alunos como os próprios professores. Um livro pode muito bem oferecer atividades prontas e dar menos trabalho, pode oferecer textos e áudios prontos e editados, mas talvez não seja a solução para a maioria de seus alunos, isto é, talvez não haja um diálogo com a realidade que eles têm. Isso sem contar que a edição dos materiais, por mais meticulosos que sejam, têm sempre a probabilidade de estar aquém de um conteúdo real o que pode frustar nossos alunos.
Isso quer dizer que os materiais didáticos são ruins de conteúdo? Não necessariamente. Mas pense comigo: se o editor do material está mexendo num texto para um grupo que ele acredita ser Intermediário, esse texto provavelmente não irá oferecer a complexidade real, do mundo real. Então, esses alunos tomam contato com site de notícias em inglês e vão perceber que as aulas de leitura que tiveram não os prepararam para a situação. E quando falamos de textos, qualquer leitura é válida. Um recibo de cartão de crédito, um menu, uma placa com os horários de metrô requerem leitura que podem ser realizadas com alunos iniciantes. É exatamente por esse motivos que professores de inglês de outros países estão abolindo o uso de materiais didáticos e preparando as aulas e as atividades eles mesmo em cima de conteúdos reais como músicas, jornais, talk shows, vídeos. Se os professores de inglês de outros países estão transformando conteúdos reais em materiais para a sala de aula, por que ainda insistimos em usar os famosos materiais didáticos? Se for insegurança para desenvolvimento das lições, há cursos de capacitação para ajudar.
Portanto, colega professor de inglês, vamos seguir a tendência mundial no ensino de língua estrangeira e explorar nossa função cognitiva para desenvolvermos atividades novas e que dialoguem com os alunos e respeitem suas características e seu histórico. Com as ferramentas de busca, aplicativos e podcasts cada vez mais próximos, essa dependência dos materiais didáticos fica injustificada.
# Até que ponto a educação bilíngue pode alterar a percepção de mundo do seu filho?