A Semana - Opiniões
05/10/2004 - O Recado das Urnas
Mais decência e dignidade na vida pública
Campanhas públicas de esclarecimento e valorização do voto consciente
ajudaram
a população a escolher melhor seus candidatos e evitaram
a eleição
de muitos políticos clientelistas e populistas.
Ainda temos pela frente o 2º turno em algumas das maiores e mais importantes cidades de nosso país, entretanto já há dados suficientes para podermos analisar o resultado final das eleições brasileiras no 1º turno das disputas municipais para os cargos de prefeitos e vereadores.
Para começo de conversa, vale lembrar a recomendação dada por um ‘sábio filósofo ocidental’ nascido no Vale do Paraíba paulista que nos lembrou que os políticos não pretendem, a princípio, o bem das comunidades que servem, mas o prestígio e os benefícios obtidos com os cargos que ocupam. Não adianta pensar que morreu todo o meu idealismo ou romantismo, não há cavaleiros como Dom Quixote entre as autoridades públicas.
Há, é verdade, a necessidade de trabalhar em benefício da coletividade, o que é plenamente entendido pelos políticos mais inteligentes como sendo a porta de entrada e permanência nesse meio que lhes garante projeção, status e benefícios de outras naturezas (licita ou ilicitamente conquistados).
Esses representantes do interesse público, democraticamente eleitos, e, além disso, conscientes das vantagens contidas em atuar de forma indistinta em benefício de seus eleitores (o que reverte obviamente a seu favor), constituem o grupo de candidatos que conseguiu se eleger ou reeleger.
Investimentos em coleta seletiva, ampliação das redes municipais de ensino,
criação de
farmácias comunitárias, melhoria e agilização dos serviços públicos,
construção de
novos
postos de saúde, ampliação das redes de esgoto e água encanada, estabelecimento
das guardas municipais e
prestação
pública informatizada das contas dos municípios
são medidas
aguardadas
ansiosamente por muitas comunidades brasileiras.
Aqueles que pensaram eminentemente em benesses e regalias pessoais foram derrotados fragorosamente nas urnas. É lógico que isso não é uma regra, que generalizada tenha permitido aos brasileiros sanear por completo o sistema político ao qual vivemos atrelados. Existem vários casos que nos permitem, entretanto, acreditar que essa situação seja mais regra do que exceção no Brasil de 2004.
Se prestarmos atenção nos dados regionais, aqueles que constituem retratos de uma situação mais ampla, funcionando como amostragens de um quadro muito mais complexo, veremos casos como o de São José dos Campos, uma das cidades mais desenvolvidas e prósperas de São Paulo e de todo o país. Duas administrações seguidas muito bem sucedidas do engenheiro Emanuel Fernandes (PSDB) permitiram a eleição do candidato por ele indicado, o também tucano Eduardo Cury.
Em Caraguatatuba, no litoral norte de São Paulo, o prefeito Antônio Carlos (PSDB), também depois de dois mandatos consecutivos de muitos êxitos, conseguiu eleger seu vice-prefeito Aguilar para sua sucessão no município. Ainda mais surpreendente é saber que, graças aos bons resultados referendados nos últimos quatro anos, também a Câmara Municipal de Caraguatatuba viveu uma situação pouco corriqueira com a reeleição de todos os seus vereadores (ceifada pela diminuição das cadeiras disponíveis no parlamento municipal).
São histórias de sucesso onde os interesses políticos foram atrelados a avanços sociais e econômicos notáveis que permitiram melhorias consideráveis na qualidade de vida dos moradores desses municípios. A projeção obtida com suas administrações permitirá vôos ainda mais altos para as carreiras políticas dos dois prefeitos mencionados, tanto a nível municipal (quem sabe retornando em eleições posteriores) quanto em outros patamares (obtendo nomeações para cargos no executivo estadual ou mesmo concorrendo e se elegendo para posições destacadas no legislativo paulista ou nacional).
A disputa em São Paulo pela prefeitura municipal (3º maior orçamento nacional) é um
retrato fidedigno da busca por maior decência na relação dos políticos
com os interesses
da comunidade. Ao escolherem os candidatos Marta Suplicy (PT) e José Serra (PSDB)
para a
disputa final, os eleitores priorizaram candidatos com um passado de realizações, lutas e dignidade.
Que me desculpem os mais puristas ou ingênuos, se não existisse a possibilidade desse retorno nenhum político se aplicaria o suficiente para melhorar o nível dos serviços oferecidos em suas respectivas cidades.
O que nos parece cada vez mais claro é que o eleitor já percebeu isso e está mandando recados cada vez mais claros de que não aceitará esmolas nessa relação de troca com os políticos. A cobrança existe e se torna cada vez mais rigorosa por parte dos eleitores em busca de seriedade e maturidade por parte dos governantes eleitos no trato com o erário público.
Investimentos em saúde, educação, saneamento, segurança, habitação, vias públicas, emprego e cultura têm que ser encarados como projetos sérios, que redundem em benefícios reais à população. Políticos que inauguram obras apenas quando as eleições estão chegando ou ainda aqueles que agem de forma clientelista, oferecendo benefícios diretos em troca de votos estão fadados a desaparecer, a se extinguir.
Diferentemente das espécies vegetais ou animais que tem sido protegidas por ONGs e pelo trabalho dos especialistas, ninguém sentirá falta dos políticos populistas e irresponsáveis...
O fim do clientelismo e do populismo é um dos objetivos que devemos ter em mente ao votarmos.
Políticos que “dão remédios” e “conseguem ambulâncias”, que “garantem vagas em escolas” ou
“fornecem material escolar” pretendem apenas fazer com que os eleitores se comprometam
a
votar neles em troca da continuidade desses benefícios. Na realidade eles deveriam apenas
estar comprometidos em realizar o trabalho em prol da comunidade
independentemente
disso estar ou não atrelado a seus objetivos pessoais.
Dinossauros políticos que durante tanto tempo reinaram aparentemente intocáveis em seus respectivos universos políticos (ou currais eleitorais, como queiram), foram esmagados na contagem final dos votos ou estão em segundo turno com desvantagem expressiva. Segundo levantamento apresentado no jornal Folha de São Paulo, cerca de 70% dos parlamentares que se aventuraram a tentar a sorte nas urnas nas disputas municipais foram derrotados...
Até mesmo a disputa final de 2º turno prevista para a maior e mais importante cidade do país, São Paulo, foi incisiva quanto aos rumos políticos de nosso país. Ao escolherem José Serra do PSDB e Marta Suplicy do PT para continuarem até a reta de chegada, de onde sairá o novo prefeito paulistano, o povo da capital paulista pareceu nos dizer que para ocupar um cargo tão significativo é necessário ter um histórico político respeitável, de realizações, de decência e transparência...