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João Luís de Almeida Machado é consultor em Educação e Inovação, Doutor e Mestre em Educação, historiador, pesquisador e escritor.

The Crown
João Luís de Almeida Machado

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A série “The Crown”, produzida pela Netflix, ganhadora de prêmios por sua evidente qualidade no que tange a roteiro, interpretações, direção, cenografia, figurinos, locações e tantas outras características é realmente uma produção fílmica que merece os prêmios, o público e o reconhecimento da crítica.

O enredo das tramas gira em torno da rainha Elizabeth II desde sua infância, passando pela vida em família, o contato com os pais, o casamento, o falecimento do rei que a alçou, na condição de primogênita a condição de soberana da Inglaterra e, também, os bastidores do poder político.

O caráter histórico da série pode, a princípio, fazer com que algumas pessoas não demonstrem interesse pela produção.

O enfoque na vida pessoal da rainha e da realeza britânica, com possibilidades de transformar a série numa espécie de folhetim ou novela da vida real também pode afastar alguns espectadores.

A própria disputa política, formal e informal, relacionada a rainha e a seus subordinados ou, ainda, em maior escala, entre a monarquia e o parlamento inglês são temas que para alguns pode parecer enfadonho.

Nada mais enganoso. O que surge na tela, radiante, episódio após episódio, evoca a vida de um modo pulsante, intenso, sem falsidades ou moralismos, sem excesso de maquiagem ou pudores, tornando evidente para quem assiste “The Crown” que, por trás de toda pompa e cerimônia, a família Windsor que constitui a realeza britânica há um século (iniciou-se em 1917, com o Rei George, avô de Elizabeth) é ao mesmo tempo herdeira de toda tradição e benesses relativos a monarquia e cativa nesta trama aparentemente sem fim.

Elizabeth II, capítulo após capítulo nos é apresentada como uma pessoa que foi, literalmente, talhada, como autêntica joia da coroa, para brilhar intensamente. E os entalhes que a tornam ainda mais preciosa não foram aqueles proporcionados por sua formação e vida em família, mas principalmente, de sua personalidade e caráter.

Mulher de brio, além de seu tempo, tendo assumido o trono inglês muito jovem (tinha apenas 25 anos quando foi coroada em 1952) e cumprindo o mais longo reinado da atualidade, que já dura longevos 65 anos, Elizabeth II se propôs a renovar o reinado, se tornando mais altiva e participativa para o destino da nação e de seus súditos, sem alterar o modelo político parlamentar em vigência no país desde o século XVII, que definiu o papel de reis e rainhas como sendo chefes de estado e, com isso, delegando ao primeiro-ministro e ao parlamento as incumbências relativas a chefia de governo.

Ao se tornar rainha, nos anos 1950, o primeiro-ministro da Inglaterra era, ninguém menos que sir Winston Churchill, considerado por muitos como o melhor e mais contundente chefe de governo que já ocupou o cargo na Grã-Bretanha. Homem de evidentes qualidades como orador, hábil negociador político, historicamente destacado por conta de seu papel para a Inglaterra e o mundo durante e após a 2ª Guerra Mundial, Churchill percebeu a proeminência de Elizabeth ainda que muito jovem. A série demonstra com clareza o quanto o experiente, idoso e habilidoso primeiro-ministro foi, aos poucos, se tornando mais próximo e incondicional aliado da rainha.

Elizabeth II, por sinal, preparada por tutores para assumir o trono, com foco em particular as questões relativas a constituição inglesa e as atribuições funcionais do cargo em que seria empossada em caso de falecimento de seu pai, como veio a acontecer, percebe que precisa de mais informação, de uma formação mais sólida e consolidada para que possa exercer seu papel e, com isso, busca apoio externo, contratando eminente professor inglês que passa a lhe dar aulas regulares sobre atualidades, política, história, artes, ciências e assuntos de interesse. Neste momento se percebe sua grandeza ao reconhecer-se carente de melhor preparo para o exercício do cargo.

Há, é evidente, para quem assiste a série, os percalços, as dificuldades, os problemas no âmbito doméstico, como por exemplo o relacionamento da rainha com o príncipe Phillipe, questões relacionadas a sua irmã Margareth, o distanciamento por conta das responsabilidades e compromissos como rainha em relação a criação de seus filhos ou, mesmo, disputas internas entre pessoas que fazem parte da equipe que assessora a rainha.

A sobriedade, a discrição e a elegância de Elizabeth II, no entanto, são também diferenciais em meio a uma família real ainda muito ligada a tradições e ritos de outra era que dificilmente sobreviveriam a partir da metade do século XX se a rainha não tivesse modernizado as relações com seu povo, o parlamento e todo o mundo.

Com interpretações destacadas de Claire Foy como Elizabeth, John Lithgow no papel de Winston Churchill e Matt Smith como Phillipe, o marido da rainha, e contanto ainda com uma reprodução de época magnífica e direção segura, “The Crown” se torna uma série icônica, que certamente já garantiu seu espaço na história deste tipo de produções como uma das melhores de todos os tempos.

Para refletir

1- Séries e filmes em que a política é tema de interesse são sempre importantes para realizar trabalhos educativos. Além de “The Crown”, a produção “House of Cards”, também da Netflix, é exemplar na apresentação de bastidores da política e da demonstração de princípios estudados por pensadores como Maquiavel, Montesquieu, Marx e Locke, entre outros.

2- A compreensão dos meandros da monarquia a partir de “The Crown” pode ser enriquecida com a apreciação do filme “A Rainha” em que o relato sobre Elizabeth II (magistralmente interpretada por Helen Mirren, que ganhou o Oscar por esta atuação) tem como foco a morte da princesa Diana e, também, na premiada produção “O discurso do rei”, que tem como tema o rei George VI, pai de Elizabeth.

3- Seria interessante desenvolver um estudo que gerasse a criação de uma linha do tempo da monarquia inglesa verificando como, quando e por que o atual sistema político do Reino Unido vigora há séculos, garantindo aos britânicos importante papel geopolítico e a supremacia de seu país ao longo de mais de 300 anos, entre o século XVI e o início do século XX.


Veja o trailer da série


Ficha Técnica

Filme: The Crown

País/Ano: EUA, 2016

Duração: 60 minutos por episódio (1ª temporada tem 10 episódios)

Gênero: Drama, História, Política

Criado por: Peter Morgan, Stephen Daldry

Elenco: Claire Foy, Matt Smith (IV), Vanessa Kirby, John Lithgow, Eillen Atkins, Jeremy Northham, Victoria Hamilton, Greg Wise, Ben Miles e Jared Harris.



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Avaliação deste Artigo: 5 estrelas