Filosofando
Como a educação nos faz falta no cotidiano
João Luís de Almeida Machado
Quando viajamos para outros países percebemos diferenças fundamentais existentes entre estas localidades e o Brasil. A diversidade cultural é uma riqueza e cada nação tem diferenciais que tornam única a experiência da visita. Comparar nações que estão estabelecidas historicamente há mais tempo que o nosso país com o que temos não é válido e, tampouco, justo. Nenhuma comparação, por sinal, é passível senão aquela que coloque em foco dados objetivos, passíveis de medição e comparação direta, representados por indicadores econômicos, sociais ou políticos.
Algo que, no entanto, é facilmente perceptível para quem está fora do Brasil e conhece minimamente a realidade nacional refere-se à educação que nos falta e como tal ausência faz diferença no mundo real.
Há, é evidente, conforme comprovam os indicadores, um desnível grande no tocante a educação formal no que se refere aos dados brasileiros e aqueles referentes as nações mais desenvolvidas, como os países europeus, os Estados Unidos, o Canadá, o Japão e afins.
Quando analisamos resultados internacionais como aqueles divulgados desde a virada do século por meio do PISA (Programa Internacional de Avaliação de Alunos), organizado pela OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico), que em 2016 demonstraram que o Brasil, num grupo avaliado de 67 países, ocupa as últimas posições num ranking baseado em avaliação aplicada a alunos de cada nação (em Leitura estamos na 59ª posição; em Ciências, ocupamos a 63ª; e em Matemática o pior resultado, na antepenúltima colocação, ou seja, 65ª), percebemos o quanto será necessário evoluir e investir. E nada disso acontece da noite para o dia. É preciso estabelecer políticas públicas consistentes, que não sejam afetadas por mudanças governamentais, baseadas em experiências bem-sucedidas, a serem aplicadas por períodos mínimos de 10 a 20 anos.
Não basta, conforme já foi percebido, oferecer vagas e colocar todas as crianças na escola. Este é o primeiro e decisivo passo. Qualidade é o que deve ser almejado e, mais do que isso, implementado nas salas de aula, caso contrário qualquer projeto na área tende a perecer sem legar resultados concretos.
A comparação com outros países, mais desenvolvidos, esbarra na educação formal pois este é o elemento que oferece os necessários subsídios para que as pessoas tenham a formação necessária para oferecer o melhor de si como cidadãos e profissionais.
A diferença entre quem teve acesso a esta formação de qualidade e quem não teve é evidenciada em aspectos imediatos que vão desde a postura, eloquência, conhecimento de línguas estrangeiras, polidez no atendimento ou higiene até a capacidade de organização, relações interpessoais, disciplina, conhecimento...
A ida a um restaurante ou a uma loja para adquirir um produto; a visita a um museu ou outro local público de interesse turístico; a busca por informações em órgãos públicos e o acesso a autoridades; qualquer uma destas situações tão corriqueiras é afetada em países que têm educação defasada como o Brasil.
Isso afeta não somente o cliente ou os visitantes, mas, também, os próprios cidadãos e os empreendimentos nos quais estão envolvidos. A baixa qualidade dos serviços prestados prejudica os negócios pois afasta os potenciais clientes. Ser mal atendido, não ser compreendido, entrar em locais sujos ou mal equipados são situações que incomodam e afastam as pessoas.
Mesmo nos centros mais desenvolvidos do Brasil, como em São Paulo e nas grandes cidades do interior, é clara a falta de qualificação de profissionais dos diferentes segmentos econômicos assim como, em circunstâncias do cotidiano, como por exemplo, no trânsito, nas ruas, quando percebemos que em muitos casos falta preparo para ajudar, orientar, socorrer as pessoas que precisem de auxílio.
Durante a Copa do Mundo de 2014, no Brasil, por exemplo, a iniciativa dos japoneses, durante os jogos de sua seleção, de transformar bandeiras ou balões utilizados para torcer em sacos de lixo no qual colocavam embalagens ou alimentos não totalmente consumidos ao final das partidas para depois jogar nos latões de lixo dos estádios nacionais foi destaque na mídia brasileira.
Isso é padrão entre os japoneses e também juntamente a outros povos cuja educação trabalha valores, vida em sociedade, comprometimento com o coletivo e não apenas a visão individualista, centrada nos interesses pessoais de cada um de nós.
Assistindo ao filme “O invasor americano”, documentário de Michael Moore em que o cineasta americano vai a Europa e visita diferentes países para entender porque em nações como Alemanha, Itália, Portugal, França ou nos países nórdicos a qualidade de vida é superior à de seu país de origem, os Estados Unidos, a visita a escolas francesas durante o intervalo, na hora do “lanche”, pode ser surpreendente para muitas pessoas, em especial no Brasil.
As escolas da França entendem o intervalo, horário em que as crianças serão alimentadas em suas escolas públicas, como continuação do aprendizado oferecido pelas unidades de ensino. As crianças não têm apenas 15 ou 20 minutos de intervalo durante os quais irão rapidamente consumir algum alimento, algo pronto, industrializado, sem as devidas características nutricionais adequadas a crianças ou adolescentes. Nem tampouco irão comer separadamente, sem a necessária instrução e educação quanto a importância das refeições, espaço de compartilhamento, aprendendo a saborear diferentes tipos de alimentos, contando com itens naturais e frescos, valorizando nutrição e sabor. Esta questão é tão importante para os franceses que o cardápio escolar é discutido entre o profissional responsável pela cozinha na escola, os diretores da instituição, as famílias e, até mesmo, as autoridades municipais.
Não é exagero o que fazem franceses, japoneses e outros povos no que se refere a educação. A finalidade das iniciativas educacionais de qualidade, que demandam maior investimento, é garantir a formação sólida, plena, capaz de orientar da forma mais adequada os alunos para a vida em sociedade. Investimentos nesta área garantem grande economia de recursos por parte do estado em saúde, segurança e outras áreas. É muito mais importante reverter recursos para a educação hoje para que amanhã tenhamos um país melhor, mais próspero, ético e cidadão que ter que aumentar gastos com segurança e presídios, não é mesmo? Ou então tendo que consertar recursos públicos depredados ou viver em cidades sujas por que há pessoas não entendem o sentido de compartilhamento de tais bens com os demais cidadãos.