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João Luís de Almeida Machado é consultor em Educação e Inovação, Doutor e Mestre em Educação, historiador, pesquisador e escritor.

O inverno dos caciques vaidosos
João Luís de Almeida Machado

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Os caciques se encontraram para definir como agiriam diante da eminência de um rigoroso inverno que se anunciava no horizonte de suas tribos. Eram todos muito vaidosos e entre eles havia uma clara disputa para se impor aos demais enquanto líder maior. Ao se pronunciarem usavam pompa e cerimônia, pedindo a alguns de seus mais próximos seguidores que agitassem bandeiras e batessem os tambores afim de que os outros líderes e seus grupos se sentissem intimidados.

O primeiro a falar foi o mais jovem entre eles. As penas de seu cocar eram as mais coloridas e esta peça era a maior ali era encontrada. Este cacique certamente era muito forte e impressionava a todos por seu tom de voz alto e pelas histórias de tenacidade e coragem que contava a quem se dispusesse a ouvi-lo.

Desdenhou o inverno. Disse que tinham suprimentos suficientes. Afirmou que com as cabanas que possuíam não sentiriam frio. Declarou que seus índios, fortes como eram, não iriam arrefecer diante da chuva, dos ventos ou mesmo da neve e do granizo. Ao final, emitiu um grito gutural que parecia o de um urso negro, um dos mais assustadores animais das florestas no entorno.

O segundo, entre os 5 ali presentes a se pronunciar, vestia-se com peles de felinos poderosos, como os pumas e os leões da montanha que viviam atacando sua tribo. Símbolos de seu poder e virilidade, além das peles, exibia colares com dentes dos animais, a mostrar toda a sua bravura. Acompanhado por turba semelhante à dos outros caciques, ao se levantar, ouviu fortes palmas, seguidas de sons emitidos por instrumentos de sopro, como berrantes, a anunciar seu pronunciamento.

Riu do frio. Afirmou que teriam fogueiras enormes no centro de seu povoado que espantariam tanto o inverno quanto os animais. Falou de seus antepassados e como haviam sobrevivido a tantas intempéries provocadas pela natureza. Se declarou líder de uma comunidade de bravos guerreiros que não se abatiam diante de qualquer força natural que tentasse se impor a eles.

O terceiro e o quarto caciques igualmente foram enfáticos tanto em suas apresentações, nas quais se compararam a animais ou evocaram espíritos passados de bravos lutadores ancestrais, quanto nas palavras de desprezo e descaso em relação ao frio que estava a bater em suas portas. Foram aplaudidos de pé e igualmente causaram comoção entre seus próximos.

Não se sabia ainda quem entre eles teria mostrado maior poder e ênfase em suas palavras e presença.

Restava ainda um último cacique para se pronunciar. Justamente o mais velho entre todos eles e que pela idade avançada, tinha o respeito de todos, mas era visto nos bastidores como fraco e despreparado para o exercício da liderança entre os seus. Suas vestes eram mais simples, seu cocar era apenas um símbolo da autoridade que possuía, sem plumas ou penas vistosas. Usava vestes feitas com couro das vacas e bois que alimentavam seu povo. Tinha fala mansa e não atiçou seus seguidores para que fizessem qualquer som ao se levantar para apresentar suas ideias.

O silêncio se impôs já que o velho cacique demorou alguns minutos para dizer alguma coisa.

Era o que queria, pois ao iniciar sua fala disse a todos os presentes:

"Escutaram a voz da mãe natureza? Os ventos a pronunciar a chegada do frio rigoroso? O silêncio dos animais que estão escondidos em suas tocas ou que migraram para regiões quentes em busca de sobrevivência? Sentiram as gotas de água gelada que caem do céu a anunciar as fortes chuvas e nevascas que teremos nos próximos meses?"

"Valentia sem sabedoria não nos levará a lugar algum."

"Ações impensadas promovidas pela vaidade de alguns sem considerar as necessidades de todos poderão comprometer o futuro de todos e de cada um dos presentes."

"Tenhamos a humildade necessária para reconhecermos que somos parte da natureza, compondo com as demais espécies para que o mundo seja o que é e funcione do modo como conhecemos."

"O frio que se anuncia irá congelar nossos lagos e, por isso, não teremos peixes; com temperaturas baixas nosso gado terá que ser alimentado em cercados e produzirá menos leite; teremos que armazenar capim e feno para dar as vacas e aos bois para termos nosso gado depois que o inverno passar."

"Nenhum valente sobrevive sem água e alimento, somente com seus urros e ornamentos, sem o trabalho de todos para que as condições mínimas para nos mantermos para o futuro que se anuncia."

"Proteger nossas cabanas, armazenar lenha, estocar alimentos e outras ações são necessárias e não se fazem sem a união de todos e sem que entre nós atuemos como devemos de fato, ou seja, como irmãos em busca de um objetivo maior que aquele de cada um em particular."

Ao terminar seu pronunciamento, o velho cacique imaginou que seria criticado por todos, mas sua sabedoria fez com que os olhos dos outros líderes se abrissem e que todos percebessem o quanto deveriam abdicar de suas vaidades pessoais em prol de seus povos.

A partir daquele inverno, o conselho passou a agir de forma mais sábia, integrando as forças e sendo conduzido pela experiência e sabedoria do velho cacique, como líder natural que era e que com sua humildade foi a todos ajudando.

Diz a sabedoria popular que por vezes na vida há muito cacique para pouco índio e que, com isso, todo mundo quer mandar e as vaidades afloram sem que os resultados sejam atingidos, seja na vida, seja no trabalho. E na sua vida ou no seu trabalho, como andam as coisas? Tem muito cacique querendo falar mais alto sem que isso resulte em melhores resultados para todos?



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