Cinema na Educação
O homem que viu o infinito
João Luís de Almeida Machado
Um verdadeiro gênio da matemática, autodidata em suas descobertas, guiado pelos deuses de sua religião para compreender o mundo a partir dos números e da complexidade de seus cálculos e fórmulas, esta é uma breve introdução à história do indiano Srinivasa Ramanujan. Homem simples, de família extremamente humilde, originário de uma das cidades mais populosas e pobres da Índia na virada do século XIX para o XX, Ramanujan teria, provavelmente, o destino semelhante ao de tantos compatriotas hindus de seu período de vida, momento em que seu país encontrava-se ainda sob o domínio britânico, não fosse sua inacreditável capacidade de interpretar e entender os mistérios da matemática avançada sem que, para maior espanto de todos, tivesse estudos formais na área.
Quase um século depois da história de vida fascinante deste indiano que superou a pobreza e, ainda que enjeitado e alvo de desconfiança na Inglaterra tendo em vista suas origens e etnia por vários membros da comunidade acadêmica, Ramanujan é preceptor de um país que hoje se destaca no cenário mundial por conta da formação de mão de obra qualificada em áreas estratégicas ligadas as ciências exatas, como a engenharia. A Índia se tornou um país, como a China, competitivo e capaz de trazer para seus domínios empresas de grande envergadura ao mesmo tempo em que se mostra apta a exportar talentos para indústrias e universidades na Europa e nos Estados Unidos.
O início do século XX, no entanto, foi uma época dura para o país. Colônia inglesa submetida a uma condição de subserviência e de exploração de recursos naturais a custos baixos para suster a indústria na Grã-Bretanha, a Índia era uma nação sem futuro para seus próprios cidadãos, condenados a viver das migalhas a eles concedidas pelos “elementos civilizadores” provenientes da metrópole europeia. Essa história, como sabemos, não foi marcada por submissão plena, com focos de rebelião surgindo ao longo dos anos a redundar na independência liderada por Gandhi, nos anos 1940.
Neste sentido a existência de talentos na Índia, como Ramanujan, apesar das condições extremas em que vivia e da falta de perspectivas é um alento a comprovar que a inteligência e a competência não têm nacionalidade, cor, sexo, religião ou qualquer indicativo prévio a estabelecer sua proveniência. Há homens e mulheres brilhantes que, se a eles for dada oportunidade, podem se destacar em qualquer parte do planeta e não somente entre os países desenvolvidos e ricos. Felizmente tivemos Ramanujan, Mandela, Madre Teresa de Cálcuta, Gandhi e tantos outros expoentes a demonstrar a riqueza humana a florescer além dos limites de países como EUA, Japão, Alemanha, Inglaterra, Itália e outras potências.
“O homem que viu o infinito” é um filme que celebra a matemática em sua forma mais pura e, ao mesmo tempo, propõe uma releitura do mundo ao deixar bem claro que os limites do homem são impostos pelos próprios seres humanos e por uma visão estreita e mesquinha das possibilidades alheias. Nos discursos em que defende Ramanujan, o professor Hardy, que lhe ofereceu a possibilidade de desenvolver seus estudos na Inglaterra a partir do exame de seus preciosos cadernos com anotações matemáticas, destaca justamente isso, ou seja, a incapacidade que criamos, as barreiras que erguemos, muitas delas baseadas única e exclusivamente em visões turvas da realidade, pré-conceitos que tantas vezes se transformam em preconceitos...
O Filme
Numa cidade portuária pobre, com poucas oportunidades de emprego para os indianos como era Madras, encontrar emprego como matemático era algo praticamente impossível para o jovem Srinivasa Ramanujan (Dev Patel, conhecido ator indiano por conta do sucesso “Quem quer ser um milionário” e pelos filmes “Hotel Marigold”). Encontrar a tão sonhada chance de trabalhar era, no entanto, primordial para que ele pudesse ter seu espaço e o compartilhar com a jovem esposa, tirando-a da casa de seus familiares para que pudessem viver juntos.
As duas paixões movem Ramanujan, que não se rende aos trabalhos braçais e consegue, enfim, emprego em que utiliza seus conhecimentos avançados em matemática. Ele se torna auxiliar de contabilidade numa empresa inglesa e logo se destaca por sua incrível capacidade com cálculos e números que o faziam, inclusive, abrir mão do ábaco em suas contas e ter uma impressionante precisão nos resultados.
Seu destino, no entanto, não era ficar por ali. Seus conhecimentos podiam fazer com que chegasse mais longe e que, até mesmo, pudesse contribuir com a matemática entre os estudiosos desta área do conhecimento. Com a ajuda de seu empregador e de seu chefe imediato, seus cadernos com anotações e estudos são enviados para alguns professores da área, membros da academia inglesa de matemática e, um deles, o professor Hardy (Jeremy Irons, como sempre competente e impecável em sua interpretação), que decide trazer o jovem indiano para a terra da rainha.
Ramanujan é, no entanto, um estrangeiro, considerado inferior, subjugado num período em que o mundo irá convulsionar com a 1ª Guerra Mundial, vindo de uma colônia... Será ele uma fraude? Como pode um homem com parcos estudos resolver cálculos e propor teorias que nem mesmo alguns dos renomados estudiosos da metrópole conseguiram solucionar?
“O homem que viu o infinito” é uma história emocionante que demonstra o quanto a paixão de um homem pelo conhecimento pode fazer com que ele supere a distância de suas origens, o preconceito e que se faça presente no panteão dos grandes pensadores da matemática. Um filme para ser visto e revisto.
Para Refletir
1- Quais as contribuições de Ramanujan para a matemática? Busque informações sobre a Teoria dos Números, Análise Matemática, Séries Infinitas e Frações Continuadas para compreender a sua importância e, ao mesmo tempo, verificar como estes conceitos auxiliam as teorias nesta área do conhecimento e em outros campos.
2- Busque informações sobre a Índia de hoje para compreender como o país, mesmo com seus contrastes sociais evidentes e diferenças religiosas que se mantém há séculos, evoluiu para se tornar uma nação que estimula e promove o surgimento de engenheiros, técnicos, cientistas e outros profissionais de ponta que atuam no próprio país ou no exterior.
3- Não há comprovações ou evidências científicas que demonstrem a superioridade de uma etnia ou nação sobre as demais, no entanto, em pleno século XXI ainda persistem teorias discriminatórias e racistas como aquela retratada no filme “O homem que viu o infinito”. Porque ainda persistem o racismo e a discriminação? O que poderia ser feito para superar esta forma preconceituosa e limítrofe de percepção quanto aos demais seres humanos?
Veja o trailer do filme
Ficha Técnica
Filme: O homem que viu o infinito
Título original: The man who knew infinity
País/Ano: Reino Unido, 2016
Duração: 109 minutos
Gênero: Biografia/Drama/História
Direção: Matt Brown
Elenco: Dev Patel, Jeremy Irons, Toby Jones, Stephen Fry, Jeremy Northam, Kevin McNally, Devika Bhise, Shazad Latife.