A Semana - Opiniões
Incentivos, prós e contras.
Wanda Camargo
Motivação e instinto são duas forças poderosas, diferentes em si mas semelhantes na importância. Atos instintivos são determinados por impulso irracional, fazem parte do arsenal de medidas necessárias, até mandatórias, para a sobrevivência: fugir, atacar, procurar abrigo e comida, poupar-se quando possível, nenhum de nós precisa ser ensinado a fazer isso, porém precisamos aprender a maneira eficiente de fazer.
Motivação, ou incentivo, decorre de escolhas ou imposições racionais, pessoais, sociais, profissionais. Vem muitas vezes em consonância com o instinto, desejamos ser amados (instinto), associamos isso com a posse de bens ou poder (motivação); nem sempre tal equação resulta verdadeira, a busca do símbolo pode nos afastar de seu real significado.
A questão de proporcionar estímulos ao bom desempenho acadêmico – assim como no profissional ou pessoal – tem sido bastante pesquisada, sem resultados conclusivos.
De forma geral, pode-se dizer que estamos constantemente submetidos a uma imensa variedade de incentivos que podem modificar nosso comportamento, para melhor ou para pior. Normas sociais, por exemplo, estruturam-se como agregados de incentivos que regem nossas atitudes em circunstâncias diferentes: a forma de nos comportarmos em uma festa de trabalho pode ser bastante distinta daquela que assumimos em uma comemoração familiar, o linguajar que utilizamos com amigos íntimos certamente será diverso daquele que utilizaremos em um possível círculo religioso ou profissional que frequentamos.
No entanto, convivem conosco motivações que assumem diferentes papéis conforme a situação vivida, reforçando ou anulando comportamentos. Incentivos que funcionam como positivos em alguns cenários podem se tornar negativos em outros, bastando pensar na vontade de realizar uma viagem – diversão, cultura, curiosidade, festividades – e a de não realiza-la – gasto excessivo, cansaço, tempo investido. Um mesmo fato pode, portanto, gerar sentimentos antagônicos, principalmente quando analisamos perspectivas de curto (comer muito) em relação às de longo (engordar) prazo.
Nossa conduta é, de forma geral, determinada pela coexistência, mais ou menos conflituosa, entre estes vários incitamentos, e respondemos de maneira absolutamente individual, com o maléfico de alguém podendo ser o extremamente benéfico para outrem. Temos motivações intrínsecas (inerentes à nossa educação ou sistemas de valores) ou extrínsecas (desejo de passar num concurso, destacar-se em alguma área) diferenciadas, e a forma como desenhamos interiormente cada resposta aos incentivos nos fazem reagir, principalmente quanto à questão monetária, de maneiras bem diferentes.
A indução a certos comportamentos pela retribuição financeira, em particular, pode funcionar contraditoriamente até para uma mesma pessoa, pois a reação em caso de sua retirada pode funcionar de forma oposta à pretendida. Quando premiamos em dinheiro uma criança ou jovem para que arrume seu quarto, a interrupção do subsídio provavelmente significará que este ato deixe imediatamente de ser importante, ou seja, não existirá a introjeção do ato de organizar suas coisas para satisfação pessoal, e sim um “serviço prestado”: na inexistência do ganho, não existe motivo para o trabalho.
Psicólogos registram que a substituição de um motivador intrínseco por outro extrínseco, como é o caso do dinheiro, costuma ter efeito negativo até mesmo nas demandas referentes ao poder público, sendo mais eficiente investir na mudança de hábitos pela conscientização, pela compreensão de como indivíduos se comportam em determinados ambientes culturais, em sua formação pessoal e nas suas escolhas existenciais.
Mudanças profundas costumam vir do bom processo educativo: escolas de qualidade, na esfera pública ou privada, são essenciais.