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João Luís de Almeida Machado é consultor em Educação e Inovação, Doutor e Mestre em Educação, historiador, pesquisador e escritor.

Quando o virtual vira o real
João Luís de Almeida Machado

homem com o rosto transpassando a tela de um computador

Uma postagem que já arrebanhou muitos seguidores por seu tom cômico lançada na internet brinca com a ideia de tentarmos fazer com que os amigos que temos no mundo virtual sejam conquistados na vida real usando os mesmos recursos utilizados, por exemplo, no Facebook, de Mark Zuckenberg.

Já pensou nisso?

No jogo dos contrários, ou seja, invertendo a lógica da web para o cotidiano distante das telas teríamos que buscar seguidores, curtir façanhas alheias sem notificações em redes sociais virtuais, conversar com as pessoas à moda antiga, olho no olho, expressar opiniões abertamente, diante de antagonistas que poderiam arguir ali, ao vivo, contrariamente as opiniões emitidas por quem estiver envolvido no debate ao vivo.

Como seria viver sem internet tão por perto como hoje a temos?

Sinto que as vezes mesmo estando próximos fisicamente não estamos, de fato, no mesmo ambiente que outras pessoas, conectadas ao Whatsapp, ao Snapchat ou a qualquer outro canal de comunicação virtual.

Isso está fazendo com que não nos comuniquemos fora dos dispositivos que possuímos da forma como deveríamos. E é importante que não nos percebamos como reféns desta situação, nova e inusitada, pois a opção de estar ou não conectado, de olho na tela do smartphone, não depende da máquina e sim da forma como conduzimos o nosso viver. As escolhas são nossas e não das máquinas.

Gosto imensamente de ir para a cozinha, nos finais de semana, em ações que basicamente podem ser consideradas como “detox”, ou seja, de saneamento, limpeza, para desplugar mesmo, desligar da grande rede, do grande irmão que escritores além de seu tempo, como George Orwell previram que iriam se estabelecer entre nós.

Algumas pessoas podem alegar que é inconsciente, que o trabalho ou os estudos demandam tal imersão, que tudo hoje é ou está virtualizado, que quem está fora da internet nem ao menos existe, como já cheguei a escutar algumas vezes.

E o pior é a sensação de que o que corre pelos inúmeros canais da internet é a voz das pessoas e a vida como ela é... Não é. São visões parciais, recortes felizes da vida das pessoas que omitem o que é ruim ou amargo, tirando da nossa frente tudo aquilo que é feio, sujo, triste ou mal. Nem mesmo a imagem das pessoas se refere ao que de fato são. Assistindo um show de Guilherme Arantes, músico de inúmeros sucessos entre os anos 1970 e 1990, ele riu ao dizer que as pessoas que fizeram sua página destacaram imagens dele jovem, omitindo os anos que passaram e quem ele é hoje, como se envelhecer fosse algo ruim ou indesejado.

Nem mesmo a natureza humana é, assim, respeitada.

Digitamos na internet aquilo que não somos, o que pensamos ser e, ao mesmo tempo, entregamos aos montes dados e mais dados relativos as nossas vidas, andanças, caminhos, relacionamentos, realizações (e fracassos).

A internet, os computadores, os telefones celulares, os tablets e tudo o mais são apenas ferramentas. Não são algozes ou, tampouco, definidores do destino de quem quer que seja, somente de quem permite e entrega-se aos vícios virtuais sem perceber que a grande vida, aquela que realmente vale a pena, corre fora das telas, bits ou bytes.

Devemos então fazer como os luditas do século XIX e destruir as máquinas como se elas fossem as responsáveis por nossa tristeza, pela onda crescente de doenças psicossomáticas ou mesmo pelas dificuldades de socialização, entre outras dificuldades percebidas e associadas ao excesso de contato com a grande rede?

Não é isso.

As tecnologias podem e são, em muitos casos, ótimas aliadas para seus usuários, seja em seus processos formativos ou no trabalho que realizam. Há ganhos notáveis associados ao uso de ferramentas oferecidas pela internet, como na educação, por exemplo, com a oferta de cursos online das maiores universidades para pessoas de todo o mundo sem custos. Quem não gostaria de fazer um curso com professores de Harvard, Stanford ou do MIT, para citar apenas 3 grandes instituições que oferecem materiais para acesso por parte de estudantes do mundo inteiro.

Quantas pessoas, no entanto, aproveitam integralmente uma possibilidade como esta? Benefícios relacionados à segurança, saúde, lazer, trabalho e outras áreas são constantemente adicionadas a rede. Acessíveis por telefones celulares ou tablets, quando as pessoas estão em mobilidade, por exemplo.

Novamente voltamos a questão central no que tange a esta relação entre homens e novas tecnologias, ou seja, definir parâmetros, perceber oportunidades, planejar ações e equilibrar acesso e uso com a vida fora da web são ações mínimas para termos o uso inteligente dos recursos.

Nada substitui o contato humano. Do mesmo modo podemos dizer que as novas tecnologias oferecem possibilidades que não tínhamos até recentemente e que são possíveis somente por conta de desenvolvimentos, pesquisas, estudos e oferta destes recursos.

Estamos neste barco virtual, é claro, mas os pilotos, marujos e capitães das esquadras são de carne e osso e não podem abrir mão de sua primazia no comando das rotas a serem percorridas, que devem prever sempre, atracadouros virtuais e presenciais a lhes dar a condição de compartilhar, amar, construir, saber, estudar, produzir, realizar, se multiplicar...



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