A Semana - Opiniões
21/9/2004 - O Mundo da Informação Rápida
Quando nossos filtros já não funcionam mais...
Acesso a Internet e logo tenho a minha disposição às últimas notícias.
Chego em casa depois do serviço e acompanho nos noticiários as informações mais recentes da região, do Brasil e do Mundo.
Recebo ou compro revistas que me colocam em sintonia com os vários assuntos relacionados a meus interesses e ao trabalho que realizo.
Escuto o rádio no carro e, além da programação musical ainda posso saber as últimas novidades de política, economia, esportes, cultura,...
E o que fica de tudo isso ao final do dia?
Quantas entre tantas informações são realmente relevantes a ponto de se tornarem referências ou mesmo chegarem a ter qualquer consideração da minha parte?
O que mereceu atenção, análise, crítica ou posicionamentos depois de uma rápida leitura?
Em que momento tive a condição de selecionar os canais de informação, filtrar os meios de comunicação e definir o que realmente gostaria de acompanhar?
Olhe com atenção, selecione, estabeleça critérios.
Não utilize a tecnologia de forma inconsciente.
Tenha o controle sobre a situação.
Acabei de sair de uma aula com meus alunos e estivemos discutindo questões semelhantes a essas. Ficamos durante um bom tempo nos questionando quanto à imensa carga de informação a que somos submetidos todos os dias e como temos reagido em relação a isso tudo.
Pensamos, por exemplo, nas pessoas que todos os dias, depois de terem cumprido com suas obrigações profissionais, chegam exaustas em suas casas e, um tanto quanto automaticamente, ligam seu aparelho de televisão. Sem qualquer reflexão a respeito de seus atos, sintonizam num determinado canal líder de audiência (sem questionar os méritos de sua programação, sem saber ao certo por que estão agindo dessa forma).
E o que estamos fazendo em relação a isso? Que posturas assumimos quando nossos filhos passam horas diante da TV ou da Internet sem qualquer critério quanto a que tipo de programa ou site estão vendo? Como agimos ao escolher aquilo que vamos ler ou assistir? Estamos preocupados em selecionar ou filtrar as informações a que temos acesso todos os dias ou isso já não importa mais?
Tenho alguns hábitos regulares no que se refere as leituras de meu cotidiano. Como tenho que estar “por dentro” de assuntos de educação, cultura e ciência, leio revistas de informação como a “Veja” ou a “Isto é” (esporadicamente a “Época”), busco informações em revistas especializadas como a “Nova Escola” ou a “Educação” quando quero saber do universo específico das salas de aula, tento acompanhar publicações como a “Superinteressante”, a “Nossa História”, a “Aventuras na História” e ainda a “Vida Simples”.
Ao agirmos de forma automática em nossa relação com a tecnologia
estamos fadados a ter nossas opções e rumos definidos
por quem realiza
a programação e não por nossa própria vontade e interesses.
Por que faço isso? Tento relacionar interesses, trabalho, pesquisa e, principalmente, prazer, com a necessidade profissional de estar atualizado. Busco em publicações como aquelas que citei acima, não apenas a realização das minhas funções como professor, editor do site Planeta Educação ou como pesquisador.
Criei um foco, relacionado à educação, a ciência, a pesquisa, a história e as artes (principalmente ao cinema) e leio para saber mais, para poder escrever, para compor novas aulas e experiências didáticas. Procuro estar atento às novidades sem me deslocar de meus princípios, objetivos, ética ou propostas.
O mesmo acontece em relação à televisão. É claro que quero me divertir quando assisto aos programas que sintonizo. Mas mesmo nesses casos as escolhas são conscientes. Se me programo para ver “A Grande Família” ou “Programa do Jô” essas opções são pensadas e não automáticas. E ainda nessas circunstâncias o olhar que destino a essa programação me permite aprender ou assimilar informações que posteriormente podem servir como bases para o meu trabalho.
A Internet, maior estrela dessa autêntica revolução que vivemos no mundo da informação, ao disponibilizar toda a informação a que temos acesso regularmente nos principais canais noticiosos da web, nos beneficia e nos prejudica ao mesmo tempo.
Os benefícios óbvios são a democratização da informação e a disponibilização dessas notícias em tempo real. Os prejuízos são a pequena parcela de tempo disponível para pensar nessas notícias (em virtude da avalanche de informações e do estímulo constante a busca de novidades que mobiliza o internauta a mudar constantemente de sites por onde navega) e ainda, a falta de interação com outras pessoas que permita a troca de idéias, o intercâmbio,...
Há uma grande variedade de publicações disponíveis no mercado. Estipule o que vai ler
relacionando com seus interesses em termos de hobbies e trabalho. Nunca esqueça
que qualquer leitura, mesmo as técnicas e informativas, devem dar ao leitor
muito mais que informação, legando ao mesmo uma boa dose de prazer.
Todas essas ferramentas de comunicação implementaram a sociedade e permitem que realizemos coisas que jamais havíamos imaginado anteriormente. De certa forma elas correspondem aos anseios tecnológicos da humanidade da virada do século XIX para o XX. Respondem a demanda e concretizam os sonhos de cientistas, escritores, pesquisadores, professores e população em geral.
A criação dos recursos, entretanto supõem a utilização inteligente dos mesmos. Ter consciência dos atos, refletir a respeito daquilo que se lê ou do que se vê, interagir com outras pessoas, dividir os conhecimentos adquiridos, compor novas idéias e ainda utilizar todo esse cabedal de recursos em favor das comunidades é parte integrante dos esforços que se espera que sejam feitos por nós ao utilizarmos essas fantásticas tecnologias.
Não temos feito isso.
Estamos sujeitos as imposições, temos nos mostrado subservientes, não questionamos, ouvimos, vemos ou ainda lemos sem mostrar força para participar de forma conseqüente, elucidativa e, principalmente, crítica.
Falhamos ao nos submetermos de forma tão passiva. Mostramos nossas fraquezas e não parecemos dispostos a reverter tal quadro.
O que fazer?
Escolha seus livros, leia suas notícias, sintonize a televisão, escute suas músicas e notícias pelo rádio ou navegue pela Internet sempre agindo como se fosse o capitão do navio. Saiba por que escolheu tais rotas e caminhos. Entenda que encontrará percalços e dificuldades ao longo da viagem. Leia atentamente os mapas para posicionar da melhor forma possível sua embarcação. Não se imagine como o único tripulante desse navio. Divida com os outros marujos o que aprendeu...