Cinema na Educação
Orgulho e Preconceito
João Luís de Almeida Machado
A história é escrita pelos vencedores. Este é um pensamento que continua a vigorar hoje, ainda que com o advento de meios e recursos que democratizaram o acesso e a possibilidade de disponibilização de informações, tal situação já não seja totalmente dominante no século XXI. Ainda assim prevalecem o preconceito, a intolerância, o racismo, a desigualdade entre os gêneros, a homofobia e outras formas de pensar e agir que mancham a história da humanidade.
No que se refere a desigualdade entre homens e mulheres, particularmente, as mudanças são ainda muito recentes. O acesso a direitos e a uma participação mais plena na sociedade são conquistas que foram logradas a partir do século XIX, ainda de forma tímida, e que tiveram mais repercussão e ênfase durante o século XX.
A força física, principalmente, conduziu esta relação e fez com que os homens fizessem prevalecer seus interesses sobre as mulheres, colocando-as sempre numa condição de submissão. Este comando masculino se fazia perceber desde o nascimento das meninas e já durante os anos iniciais de sua formação e ingresso na sociedade.
Às mulheres sempre coube a responsabilidade pelo mais imediato, o lar e a família. Aos homens, por outro lado, cabia o mundo e todas as decisões relativas a ele, da economia a política, da cultura a educação, da ciência as artes, sem exceção, criaram-se universos onde os homens estavam sempre a frente.
O talento e a capacidade feminina, subjugados, apareciam esporadicamente a partir da ação e obra de mulheres destemidas, capazes de enfrentar todas as adversidades que se colocavam diante do caminho a ser por elas trilhado. Foram, essencialmente, guerreiras e pioneiras que vieram a triunfar, na política, na literatura, na música, nas ciências, na economia e em todos os demais campos a elas de difícil acesso ou mesmo proibidos em diversos contextos e períodos.
Mulheres como Joana D’Arc, Marie Curie, Anita Garibaldi, Frida Khalo, Amelia Earhart, Mary Shelley ou Jane Austen, para citar apenas algumas, dentre aquelas que historicamente registraram feitos ou produziram obras de grande alcance e repercussão, representam milhares de outras incríveis representantes do sexo feminino que igualmente batalharam por seus direitos, num âmbito menor mas igualmente marcante, se posicionando claramente contra a discriminação, o assédio, a intolerância e tantas outras injustiças a que foram submetidas.
“Orgulho e Preconceito”, obra da notável escritora inglesa Jane Austen, nos coloca em contato com uma jovem que, a seu modo, igualmente marcou posição, não se submetendo aos ditames sociais que imperavam na Europa e, mais especificamente, na Grã-Bretanha dos séculos XVIII e XIX.
A literatura de Austen, uma mulher além de seu tempo, nos coloca em contato com essa silenciosa reação no âmbito doméstico inglês e mundial, contradizendo as versões oficiais, machistas, que até hoje apregoam a submissão como a atitude única ou preponderante das mulheres frente a pretensa superioridade masculina. Não há melhores entre nós, a mensagem é clara, a realidade é nítida, e o mundo certamente só será mais justo e equilibrado, com resultados mais positivos para todos, quando homens, mulheres, negros, brancos, orientais, latinos, católicos, islâmicos, judeus ou qualquer outro tipo de diferença não seja critério para definir o destino de alguém.
O filme
Orgulho e Preconceito, de 1813, uma das mais conhecidas obras de Jane Austen, trazida para as telas pelo diretor Joe Wright, é uma realização que honra a qualidade do cinema inglês no que tange a produções de época, com locações belíssimas, cenários que procuram retratar de forma fiel os ambientes do século XIX, figurinos igualmente reproduzidos nos conformes daqueles tempos e atuações fortes, em especial da protagonista feminina, Keira Knightley, mais conhecida por aqui por sua participação nos filmes da série “Piratas do Caribe”.
Além dela há o veterano e sempre competente ator Donald Shuterland, como pai da moça e de suas irmãs e a também a experiente e respeitada Judi Dench. A trama nos coloca dentro da casa de uma família decadente, cujos pais não detém o direito sobre a propriedade em que vivem e que, por conta disso, tendo todas as suas filhas já na adolescência ou juventude, buscam casamentos com bons partidos, preferencialmente de pessoas com posses e títulos.
Isso é especialmente importante para a mãe das moças. O pai parece menos preocupado em buscar tais enlaces, na realidade, almeja que se casem com boas pessoas, se tiverem posses isso será bom, mas não é um pré-requisito para ele.
Elizabeth, personagem de Keira Knightley, diferentemente de suas irmãs, por conta de seu perfil mais liberto, paixão pela leitura e conhecimento, não almeja casamento como as demais irmãs. Na realidade, busca o verdadeiro amor, não aquele de arranjos, acertado por conformidades e posses e isso irá frustrar sua mãe e alguns pretendentes.
Seu espírito liberto é de uma mulher contemporânea, apesar de sua lisura e comportamento adequados aos conformes do período. Seu caminho, porém, será cruzado por um jovem rico, de perfil aristocrático, um tanto quanto arrogante a seu ver, que irá fazer com que ela enfrente o preconceito por suas diferentes origens sociais e que o orgulho a faça mostrar-se ainda mais altiva. Não percam. É um grande filme!
Para Refletir
1 - A história das minorias, dos vencidos e do cotidiano têm sido cada vez mais objeto da pesquisa e produção historiográfica. Uma das mais fortes vertentes na construção deste tipo de leitura dos fatos históricos é a Escola dos Annales, surgida na França ainda na primeira metade do século XX, com obras de referência que examinam o contexto das nações e povos sem focar em grandes feitos, eventos ou personagens, buscando a compreensão do dia a dia, do cotidiano de pessoas comuns, reconstruindo a história com base em cartas, relatos, na literatura ou em documentos vários que lhes permitam entender como viviam as mulheres, os escravos, a burguesia, os indígenas e todos os elementos sociais normalmente ocultos na história oficial. Se informe e busque esta literatura histórica, de grande valor para compreendermos, de fato, a história da humanidade.
2 - Quem foram as mulheres que marcaram a história da humanidade ao longo dos séculos? O que fizeram de extraordinários nas artes, política, ciência, esporte, economia ou em outras áreas de atuação humana? Elabore uma linha do tempo e destaque a ação das mulheres desde a Antiguidade até os dias atuais como forma de perceber o notável esforço e os resultados de suas iniciativas pioneiras.
3 - Entender a desigualdade entre os gêneros hoje é uma importante forma de combater tal situação. Buscar informações atualizadas sobre, por exemplo, as diferenças salariais percebidas entre homens e mulheres ou o acesso a benefícios ou cargos, são caminhos necessários para entender a desigualdade e buscar soluções para os problemas nesta área. Neste sentido é importantíssimo, além das leituras, que se estabeleçam diálogos com profissionais e entidades que lutam contra o preconceito e a discriminação.
Veja o trailer do filme
Ficha Técnica
Filme: Orgulho e Preconceito
Título original: Pride and Prejudice
País/Ano: Reino Unido/França/EUA, 2006
Duração: 127 minutos
Gênero: Romance/Drama/Filme de Época
Direção: Joe Wright
Roteiro: Emma Thompson
Elenco: Keira Knightley, Matthew MacFadyen, Talulah Riley, Rosamund Pike, Jena Malone, Donald Shuterland, Carey Mulligan, Judi Dench, Brenda Blethyn.
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