Planeta Educação

Planeta Literatura

João Luís de Almeida Machado é consultor em Educação e Inovação, Doutor e Mestre em Educação, historiador, pesquisador e escritor.

O Foco Triplo, de Daniel Goleman e Peter Senge
João Luís de Almeida Machado

capa do livro o foco triplo

“Hoje, estamos testemunhando que ideias como enxergar o cenário mais amplo, identificar círculos de causalidade, compreender como a estrutura de um sistema produz seu comportamento e reconhecer os benefícios de olhar para os problemas de diferentes perspectivas podem ajudar os educadores a focar em habilidades de pensamento mais profundas ao longo de praticamente todos os currículos e idades. ” (Peter Senge)

Quando alguém abre a torneira de casa e a água se apresenta, disponível para o uso que lhe convier, não há a consciência dos caminhos percorridos para que este bem imprescindível para a vida humana ali se apresente.

Ao final de um curso, quando os alunos recebem o diploma, na festa de formatura, quando todos comemoram a conquista, apesar de se considerar e valorizar o trabalho dos docentes e o esforço dos estudantes para que isso tenha acontecido, temos uma visão apenas parcial do processo educacional como um todo.

Ao ligar a TV de casa e assistir à programação, seja um telejornal, uma novela ou um filme, igualmente não percebemos quantas pessoas participaram, no todo, da realização daquele produto final, ficando de olho apenas em atores, atrizes, apresentadores ou jornalistas que eventualmente estejam diante de nossos olhos, na telinha.

A consciência sistêmica, a que nos permite perceber o que acontece para que a água chegue em nossas casas, para que o aluno conclua o seu curso ou para que o programa da televisão atinja seu espectador, assim como em relação a maioria dos processos realizados pelo homem ou, mesmo, pela natureza, nos escapam.

Nosso olhar é limítrofe. Percebemos aquilo que é nosso, muito imediato, ou o que está no contexto em que vivemos ou atuamos, neste caso ainda que com limitações, pois nossos sentidos nos conduzem a percepção do departamento em que trabalhamos, a família em relação qual temos laços, a cidade na qual se encontra nossa residência...

Daniel Goleman e Peter Senge, dois expoentes da pesquisa em educação, com livros de grande repercussão, como “Inteligência Emocional” e “a quinta disciplina”, respectivamente, na obra “O foco triplo”, abordam o tema do pensamento sistêmico e da necessidade de nos percebermos dentro da complexidade dos vários sistemas em que estamos inseridos, para que possamos, de fato, colaborar de forma mais intensa e vívida em relação a eles.

O livro, como o próprio título destaca, não se atém ao pensamento sistêmico, trabalhando também, em conformidade com experiências bem sucedidas realizadas em escolas espalhadas pelo mundo todo, em focar também em si mesmo, se percebendo, considerando-se, suas possibilidades, limitações, momentos, dores, vitórias tanto quanto na compreensão do outro, ou seja, no trabalho que busque gerar empatia, com as pessoas se colocando no lugar das outras para que as entendam melhor e que, com isso, se relacionem de forma mais harmônica.


“A autoconsciência – dirigir a atenção para nosso mundo interior de pensamentos e sentimentos – abre caminho para termos o controle de nós mesmos.” (Daniel Goleman)


Tudo começa, é claro, com o seu próprio eu. Conhecer a si mesmo é algo que os gregos, na Antiguidade, já apregoavam entre os seus compatriotas, pelas praças da democrática Atenas, a partir de figuras emblemáticas como Sócrates ou Platão, como algo essencial para o ser humano. Quem sou? O que quero? Como devo viver minha vida? Como são as minhas relações com o mundo e com as outras pessoas?

A questão é que isso não deve começar tarde na vida das pessoas, pelo contrário, quanto mais cedo, muito melhor. O ideal, segundo Goleman, é que já se estabeleçam práticas que permitam as crianças, na educação infantil e no ensino fundamental em seu ciclo inicial, se descobrirem.

Isso abre as perspectivas, inclusive, para o segundo passo, aquele no qual tentam se estabelecer as relações harmoniosas com os outros e com o universo que nos cerca. A empatia é algo a ser semeado também em tenra idade e tal movimento não só é possível como recomendável. Os passos são mais simples do que se pensa, a escutatória, defendida pelo mestre Rubem Alves, ou seja, a capacidade de ouvir o outro e atentar para o que de fato ele manifesta, sendo trabalhada desde a primeira infância é elemento decisivo para o futuro destas crianças.


“Quando se trata de foco no ’outro’, um ponto ainda ausente nas escolas (...) – é ajudar as crianças a cultivar o carinho e a compaixão. Não é suficiente saber como as outras pessoas pensam ou se sentem; também precisamos mostrar preocupação com elas e estar prontos para ajudar.” (Daniel Goleman)


A compreensão do sistema, cuja amplitude é muito maior, apesar da complexidade, também começa aos poucos, com pequenos exemplos, associados ao entorno ou a conceitos trabalhados em sala de aula. O florescer de uma plantinha, por exemplo, é algo que pode esclarecer para a criança como vários elementos juntos permitem a vida ou como a ausência destes pode levar a morte de uma espécie.

A própria sala de aula, enquanto espaço compartilhado, em que os alunos se envolvem e também se relacionam a outros personagens, entre os quais seus professores, define responsabilidades, funções, atribuições, recompensas, penalidades e, acima de tudo, compromisso com os demais para que o sistema educacional, como um todo, possa atingir as metas traçadas que constituem benefício para todos os envolvidos.

O livro é curto, tendo cerca de 120 páginas, de leitura rápida, porém imprescindível tendo em vista que quanto mais cedo empreendermos o triplo foco mencionado no título, mais e melhores resultados gerais tendemos a atingir. É uma bela obra que precisa ser lida, estudada e referenciada por quem educa e também por todos aqueles que tem real compromisso com a vida em sociedade.



Leia também…

# A Literatura nas escolas

# Inovações – ensaio e erro


Avaliação deste Artigo: 5 estrelas