Planeta Educação

Cinema na Educação

João Luís de Almeida Machado é consultor em Educação e Inovação, Doutor e Mestre em Educação, historiador, pesquisador e escritor.

A Paixão de Cristo
A redenção pelo sofrimento

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Desafiar o “establishment” (palavra da língua inglesa que significa aquilo que está estabelecido, que é aceito, que permanece e parece intangível) parece uma das missões atribuídas a Mel Gibson. O astro do cinema, dono de cachê milionário, reconhecido como um bom ator, parte integrante das listas de homens mais bonitos de Hollywood, diretor de filmes que fizeram sucesso de crítica e público (“O homem sem face” e “Coração Valente”), não parece satisfeito em ter se tornado um milionário influente e bem-sucedido num dos mercados mais competitivos e difíceis do mundo.

Filmes épicos são, por si só, grandes desafios pelo imenso trabalho de reconstituição de época que demandam, normalmente acompanhados de uma outra situação muito complicada que é dirigir milhares de extras contratados para encenações de acontecimentos públicos. Outro problema relacionado a produções dessa monta relaciona-se ao orçamento desses filmes, inflacionado por efeitos, figurinos de época, locações em países distantes, salários dos artistas principais,...

Além disso, os períodos de filmagem são normalmente extrapolados e não há qualquer garantia de que o público irá responder de forma satisfatória nas bilheterias (apesar dos altos investimentos).

Fazer um filme de época devotado a temas religiosos é tarefa ainda mais árdua e de retorno menos provável que épicos contextualizados em outros períodos ou civilizações. Além do mais, corre-se o risco de polemizar com setores conservadores da Igreja Católica ou ainda ofender outras correntes religiosas...

Mas, não é à toa que Mel Gibson estrelou “Máquina Mortífera”, ele faz jus ao título da série de filmes que o fizeram famoso no mundo todo. Resolveu levar as telas às 12 últimas horas da vida de Jesus Cristo da forma mais sangrenta possível baseando sua versão cinematográfica nas escrituras bíblicas e batendo de frente com a comunidade judaica internacional (que considerou o filme ofensivo aos judeus por perceber na história uma tendência a se considerar os membros dessa comunidade responsáveis pelo martírio e punição a que foi condenado Jesus).

Lançado nos cinemas na época da Semana Santa, “A Paixão de Cristo” se tornou um dos grandes sucessos de bilheteria do ano. Suplantou outros blockbusters (filmes hollywoodianos destinados a se tornarem campeões de público), consolidou Mel Gibson como um obstinado artesão cinematográfico (para produzir as seqüências do filme, a equipe liderada pelo astro estudou diversas pinturas e esculturas que serviram como base para a fotografia da produção; além disso “A Paixão” tem diálogos desenvolvidos em línguas faladas na época como o latim ou o aramaico) e trouxe novamente à tona os filmes épicos bíblicos.

Jesus Cristo voltou a ser manchete de jornais e revistas, não só de cinema, mas também de pesquisa, ciência, arte e mesmo filosofia e teologia. A Igreja Católica aprovou a nova versão do martírio de seu messias e as carreiras de Jim Caviezel e Monica Bellucci decolaram de vez.

Para o grande público que assistiu ao filme ficaram várias lições, entre as quais a mais valiosa, sem dúvida alguma, foi a de que para se atingir a redenção, temos que mostrar a outra face, carregar muitas cruzes, sofrer com violentas chibatadas e críticas para, afinal, subir aos céus. Como Jesus e, também, como Mel Gibson.

O Filme

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Não há dor maior que aquela de uma mãe ou de um pai a acompanhar o martírio de um filho. Pois essa história, tão conhecida de todos (sejam ou não cristãos), nos mostra Maria (Maia Morgenstern, em atuação comovente), acompanhada de Madalena (Monica Bellucci), a todo o momento assistindo, sem ter o que fazer, a um dos maiores flagelos a que foi submetida uma pessoa em toda a existência da humanidade. E o mais interessante é que não estamos falando de um ser humano qualquer, mas do próprio salvador, do messias dos cristãos.

A narrativa de “A Paixão de Cristo” começa justamente com o momento em que a traição de Judas (Luca Lionello) se configura e que, sem reações contrárias por parte de Jesus (Jim Caviezel, compenetrado e competente), os soldados romanos o aprisionam e, já no caminho para a condenação a que seria submetido, o surram copiosamente, sem qualquer sinal de remorso ou comiseração. O que mais impressiona, a despeito da carnificina a que é submetido o Cristo, é sua capacidade de se mostrar soberano diante de toda a situação e ainda ser capaz de ajudar um romano ferido durante seu aprisionamento.

Há uma dignidade tão grandiosa na figura de Jesus que nos faz perceber no personagem uma aura que o faz superior ao castigo a que é submetido. Sofremos como espectadores a cada nova chicotada, em cada pontapé ou murro desferido contra ele, entretanto, apesar de todos os hematomas, cicatrizes e sangue que de seu corpo tomam posse, Cristo resiste bravamente em prol de seus princípios. Nem mesmo a morte próxima parece fazer com que ele seja demovido de toda essa presença de espírito e força que transcende aquilo que é, originalmente, humano.

E apesar dos judeus da sinagoga orientarem o curso dos acontecimentos dando especial ênfase ao castigo maior a ser aplicado ao Cristo, não são eles nem os romanos, tampouco Judas, os principais responsáveis pelo sofrimento e morte de Jesus. Os responsáveis somos todos nós, que a cada dia deixamos de viver sua mensagem de amor e fraternidade, de esperança e perdão em favor de intolerância e exclusão, dor e desespero...

Aos Professores

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1- Carecemos em nosso tempo de exemplos de virtude e devoção. Vivemos num mundo egoísta e de muitos conflitos. Pouco sabemos a respeito de fraternidade e fé. Nossos jovens e crianças desconhecem certos princípios elementares que aplicados ao cotidiano nos dão mais harmonia, estabilidade e certeza quanto ao futuro. Precisamos de mais famílias devotadas a uma preparação íntegra e completa para nossas crianças e adolescentes. Temos certa urgência de palavras que restaurem a dignidade como meta a ser atingida pela humanidade. Necessitamos de mais presença e carinho, afeto e estímulo, tanto para os que constituem o futuro do planeta quanto para os que o constroem nesse exato momento. Professores, também temos o compromisso ético, a despeito de nossas orientações religiosas e morais, de colocar em pauta com nossos alunos assuntos como ética, fraternidade, igualdade, princípios e amor.

2- Quem foi Jesus Cristo? O que prega o Cristianismo? Qual a evolução histórica dessa religião que é uma das maiores dos tempos atuais e passados? Proponha a seus alunos levantamentos de várias espécies: bibliografia, filmes, reportagens, imagens e mesmo pesquisa de campo (entrevistas com religiosos, fiéis, representantes de outras igrejas, professores especializados,...).

3- Como a arte retrata Jesus Cristo e seu tempo? O filme produzido e dirigido por Mel Gibson pautou muitas das passagens filmadas em obras de arte de diferentes épocas. Que tal fazer um resgate das principais pinturas e esculturas e comparar as diferentes visões percebidas ao longo da história? Outra proposta interessante para o trabalho com arte seria a reprodução de fotografias do filme como obras de arte em variados estilos como aquarelas, mosaicos, desenhos com grafites, photoshop,...

4- O cinema trabalhou a história de Jesus de diferentes formas ao longo de sua existência. Há trabalhos que procuram olhar de modo mais crítico e outros de maneira mais condescendente com os princípios da Igreja Católica. Que tal fazer um levantamento nas locadoras de sua cidade e montar um projeto em que os alunos vejam e comparem diferentes produções a respeito dessa temática? Filmes europeus e norte-americanos, produções dos anos 1950 até a virada do século, obras baseadas em livros polêmicos (como “A Última Tentação de Cristo”) ou na Bíblia, de que forma apresentaram Jesus aos olhos do grande público que freqüenta os cinemas?

Obs.: O filme “A Paixão de Cristo” não é recomendado para trabalhos com alunos do Ensino Fundamental, pode ser utilizado a partir do Ensino Médio e deve ser analisado com atenção a partir do 3º grau (universidade).

Ficha Técnica

A Paixão de Cristo
(The Passion of the Christ)

País/Ano de produção: EUA, 2004
Duração/Gênero: 126 min., Drama
Direção de Mel Gibson
Roteiro de Mel Gibson e Benedict Fitzgerald
Elenco: James Caviezel, Monica Bellucci, Maia Morgenstern, Hristo Jvikov,
Hristo Shopov, Rosalinda Celentano, Danilo Maria Valli, Luca Lionello, Francesco Cabras

Links

http://www.adorocinema.com.br/filmes/paixao-de-cristo/paixao-de-cristo.asp

http://www.cinemaemcena.com.br/Coluna_Detalhe.aspx?ID_COLUNA=32

http://parceiros.cineclick.com.br/noticias/index.php?id_noticia=11028

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