A Semana - Opiniões
Depressão, ansiedade e estresse: Nossos adolescentes estão doentes
João Luís de Almeida Machado
Excesso de atividades. Cobrança além da conta. Falta de tempo para atividades de lazer. Solidão e tristeza. Afastamento dos amigos e da família. Todos ingredientes de uma situação difícil pela qual passam muitos adolescentes e, até mesmo, crianças e pré-adolescentes no momento atual do mundo.
As estatísticas não mentem, os números, ainda que aparentemente frios, nos mostram que 12% dos adolescentes brasileiros sofrem de depressão, 13% são afetados por estresse e impressionantes 20% padecem de ansiedade.
A globalização, fenômeno distante que, no entanto, interfere diretamente na vida de todos e de qualquer um, também está repercutindo entre os estudantes.
A rotina de estudos e compromissos aliada a cobrança excessiva estão ocasionando, de forma silenciosa, uma série de doenças que, por vezes, são invisíveis aos olhos de pais, professores e da sociedade como um todo. Estresse, depressão, bulimia, síndrome do pânico, ansiedade, dificuldade de socialização e outras enfermidades estão, aos poucos, passando a fazer parte da vida de meninos e meninas na faixa dos 14 aos 17 anos.
Passar de ano, a preocupação maior das famílias até os anos 1980 e 1990, deu lugar a necessidade de surgirem jovens que devem se superar a todo momento para vencer no disputado mundo em que vivem.
É preciso se destacar na multidão. Isso significa liderar rankings educacionais, vencer olimpíadas acadêmicas, se destacar nos esportes, falar línguas estrangeiras, estar preparadíssimo para o ENEM e os principais vestibulares, atender as demandas da família e da sociedade de forma plena...
Vencer é a tônica. Não há meio termo.
A isso se adiciona a vida em rede, numa constante, a cobrar retornos 24 horas por dia e que, nas redes sociais, tudo seja lindo, prevalecendo a felicidade que, tantas vezes, não é o que realmente ocorre no cotidiano destas pessoas.
Há uma silenciosa opressão por trás das imagens de pessoas sempre alegres, em viagens, momentos de descontração, com amigos ou familiares, passeando com seus animais de estimação, em torno de fartas mesas festivas... Ao olhar para toda esta aparente felicidade que reina na vida alheia e que não é o que se percebe em sua própria existência, estes meninos e meninas tentam encontrar motivos pelos quais possam se orgulhar e, ao não encontrar, sucumbem a dor, as doenças psíquicas ou então se rendem ao caminho das drogas lícitas ou ilícitas, aumentando as estatísticas nacionais de consumo de álcool, anfetaminas, remédios vendidos em farmácias, drogas pesadas passadas em raves...
O fracasso a rondar a vida deste público, igualmente os faz cair em depressão. Errar é proibido, verdadeiro pecado. Notas baixas, resultados ruins, medalhas não conquistadas denotam fraqueza, incapacidade, derrota. A aprovação no ENEM e nos vestibulares e os rankings das escolas igualmente colocam em xeque a capacidade dos alunos.
A sociedade criou estes meios visando o melhor, no entanto, da forma como têm sido utilizados, viraram verdadeiros “moedores de carne humana”, a engolir e oprimir tais jovens almas.
O que fazer?
É preciso rever e analisar o todo. Começando pela estrutura de vida das pessoas, incompatível no que tange ao excesso de compromissos com a qualidade de vida mínima que todos precisam ter.
O trabalho hoje ocupa espaço tão grande na vida de adultos quanto de crianças e adolescentes que os esgota física e psiquicamente. A ideia do sucesso a qualquer preço igualmente não procede pois deixamos de considerar que o homem, ao longo de sua trajetória, acerta e erra e que, os erros, são necessários indicadores de rumos que precisam ser revistos.
Nem mesmo a celebração dos triunfos ocorre como deveria. Vencer se não é encarado como obrigação lega a quem chegou lá um reconhecimento mínimo, esparso, esporádico e logo se apaga para que novas metas, objetivos e gols se imponham.
E o pior é que, tantas vezes, as pessoas nem sabem ao certo onde querem chegar com todo esse esforço e sacrifício. Se matam, literalmente, para realizar sonhos alheios, que não lhes pertencem, que não fazem parte daquilo que gostariam de realizar em suas vidas.
Rever, repensar, dar um passo de cada vez, abrir mão de prazeres imediatos, pensar na compensação financeira como resultado de trabalhos bem feitos e não tornar isso o principal direcionador da existência, não se deixar levar pelo consumismo desenfreado, buscar o equilíbrio e a harmonia para superar estes problemas, verdadeiros dramas que se abatem diariamente sobre muitas pessoas e que, comprovadamente, se acentuam entre crianças e adolescentes nas escolas brasileiras nos últimos anos.
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