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Educação para o Pensar

João Luís de Almeida Machado é consultor em Educação e Inovação, Doutor e Mestre em Educação, historiador, pesquisador e escritor.

“Computadores no lugar de professores”: O futuro da educação segundo Sugata Mitra
João Luís de Almeida Machado

imagem de Sugata Mitra discursando

"It’s quite fashionable to say that the education system is broken - it’s not broken, it’s wonderfully constructed. It’s just that we don’t need it any more. It’s outdated." (Sugata Mitra)

"É corrente afirmar que o sistema educacional está falido - não está falido, está maravilhosamente construído. O que há é que não mais precisamos dele. Ele está superado." (Sugata Mitra)

O sistema educacional, como nos diz Sugata Mitra (Saiba mais sobre o professor Mitra nos links no final deste texto), está em funcionamento e, diferentemente do que apregoam seus detratores, não está falido, pelo contrário, funciona como um relógio. Em alguns lugares, como um ótimo relógio suíço, em outros como uma cópia vinda dos confins do mundo, réplica que apresenta defeitos e problemas comuns a quem alimenta este sistema com engrenagens de segunda ou terceira mão. A comparação com o relógio é válida também, para destacar o contraste entre o analógico e o digital.

Sugata Mitra está desde a década de 1990 realizando ações em seu país, a Índia, com o intuito de verificar a relação entre as crianças e a tecnologia. Para tanto tem levado a campo experimentos como "Um buraco na parede", aquele em que deixa um computador disponível instalado atrás de uma parede com possibilidade de manipulação, para que as crianças, sem tutores ou professores, intuitivamente, descubram o que é, como funciona, para que serve e para que, por conta própria, desenvolvam suas produções.

Os resultados são surpreendentes. As crianças, que nunca tiveram contato com tecnologias, conseguem aprender a utilizar estas ferramentas com grande facilidade e, em pouco tempo, utilizam softwares. Segundo o professor Sugata Mitra, é possível que uma criança em pouquíssimo tempo aprenda, por conta própria a programar, ou seja, a criar seus próprios aplicativos, ainda que para isso não tenha cursos formais de programação ou contato com professores a lhes orientar as ações.

Ao dizer que a escola está ultrapassada e que não precisamos dela como hoje está organizada e em funcionamento, o professor Sugata Mitra radicaliza o discurso e externa opiniões polêmicas, talvez a indicar caminhos futuros, certamente a provocar a reflexão de educadores e outros profissionais que atuam na área.

A simples inserção da tecnologia a partir do pensamento de Mitra deixa de ser apenas subsídio e/ou suporte pois que, em assim sendo, nada ou pouco se modifica na estrutura e funcionamento das escolas quanto ao seu cotidiano. Seu pensamento projeta a autonomia desejada de cada criança como o fio condutor de sua aprendizagem, talvez estimulada pelas próprias famílias, quem sabe num ambiente que seria a escola, mas uma escola diferente da atual, em que há professores centralizando as ações didáticas.

Talvez seja profético, quem sabe muito adiante de seu tempo, pode ser apenas miragem... A tecnologia seria indutora do conhecimento nesta nova escola ou era educacional que, neste caso, teria que se descolar do mundo analógico e das estruturas que a suportam hoje.

Penso a tecnologia como meios e recursos poderosos, que podem certamente induzir, como já o fazem na escola e em outros ambientes frequentados por crianças, adolescentes e jovens, como nos games ou nas redes sociais. Posso estar cego ou com a vista nublada quanto ao que apregoa Mitra, apesar de entender seu entusiasmo com as tecnologias e sua crítica ao sistema educacional vigente (e concordar com ambos), mas a escola, mesmo aquela intermediada pela tecnologia, carece da passada humana, da experiência e maturidade de quem já viveu e estudou com maior profundidade.

Oferecer acesso a computadores, dispositivos móveis e redes é indispensável para a educação, não há dúvida quanto a isso, no entanto, a orientação, o intercâmbio, a reflexão aprofundada e até mesmo o ritmo compassado e diferente dos mestres permanece como um quesito fundamental.

Digo a tempos, em palestras e oficinas, que a tecnologia é necessária para a sobrevivência nos novos tempos em todos os lugares, inclusive na educação. Afirmo que os educadores não serão substituídos por máquinas e por nenhum tipo de inteligência artificial e, sim, por educadores que saibam utilizar estes recursos em aulas. Continuo acreditando que o domínio das tecnologias não será o grande diferencial, pois todos de algum modo aprenderemos como usar estes recursos, o que é comprovado pela experiência do muro, desenvolvida por Mitra; o diferencial está e estará naqueles que além do conhecimento destes sistemas, máquinas, aplicativos e redes tenham também conhecimento, leitura, apuro e diálogo com o mundo, com as pessoas, com os lugares, com as coisas, com a natureza...

Obs: Para saber mais sobre as pesquisas e trabalhos do professor Sugata Mitra, seguem indicações de vídeos e artigos nos links abaixo:

Canal de Sugata Mitra no

YouTube: https://www.youtube.com/channel/UCTcxdFGrJHxsg2we2XoUSaQ

Vídeos TED do professor Mitra: http://www.ted.com/speakers/sugata_mitra.html


Página Wiki de Sugata Mitra (com links para artigos): http://sugatam.wikispaces.com/


Entrevista de Sugata Mitra para a revista Época com o título “Professores podem ser substituídos por máquinas”, disponível em :

http://revistaepoca.globo.com/Ciencia-e-tecnologia/noticia/2012/02/sugata-mitra-um-professor-pode-ser-substituido-por-uma-maquina.html



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