Carreira
Que carreira devo escolher? Os desafios da escolha profissional no Brasil
João Luís de Almeida Machado
Nos Estados Unidos e na Europa, quando um jovem entra na universidade, os primeiros 2 anos de estudo fazem parte de um núcleo base, relacionado ao campo ou área do conhecimento em que o egresso pretende estudar, mas que por ser mais aberto e genérico, em caso de mudança, não lhe impediria de optar por outro curso na continuidade de seus estudos.
O modelo brasileiro de ingresso nas universidades, no entanto, segue a linha da definição de cursos pelos vestibulandos quando ainda estão se inscrevendo nos processos de admissão, seja pelo ENEM ou por vestibulares. Ao assim fazê-lo, com o jovem que pleiteia esta vaga ainda na faixa dos 17 a 18 anos, em média, recém-saído do ensino médio, a decisão tão importante e, aparentemente, definitiva, acaba sendo tomada por afinidades, interesses específicos (como o financeiro), influência de terceiros (em especial da família) e, com isso, os fatores mais importantes, relacionados a orientação vocacional séria e bem conduzida, o conhecimento pleno do curso, a compreensão do trabalho exercido por este profissional quando entra no mercado e, também, as possibilidades reais de crescimento, mudança de função ou benefícios como salários e bonificações são pouco conhecidas.
A principal pergunta para um jovem que está próximo da conclusão do ensino médio no Brasil não pode se restringir ao curso que pretende fazer no ensino técnico ou superior.
A influência de um professor ou de outra pessoa próxima, a idealização da profissão a partir de modelos apresentados na tela, o sucesso de algumas pessoas no segmento, a maior remuneração ou outros benefícios imediatos são, muitas vezes, os principais vetores desta escolha.
Isso pode até ser considerado, mas para que o tiro seja mais certeiro é preciso que ao estudante sejam possíveis ações como:
- Conhecer o cotidiano de diferentes profissões almejadas;
- Entender os currículos e o cursos para saber o que terá pela frente ao estudar;
- Ter contato com profissionais destas áreas para que façam relatos do seu trabalho;
- Ir a campo para identificar as universidades em que há os cursos de interesse para saber suas condições, possibilidades, corpo docente, projetos, intercâmbios, instalações...
- Ler e se informar sobre os cursos no mercado de trabalho;
- Acompanhar o calendário de inscrições para as principais provas de admissão para tais cursos e se preparar com esmero para disputar as vagas disponíveis;
- Ter apoio de especialistas em orientação vocacional, quando possível, para tirar melhores conclusões sobre a escolha que terá pela frente.
Mesmo com todos estes passos é possível ainda que o jovem, após algum tempo, não se sinta seguro em relação a sua escolha e queira, porventura, abandonar o curso e tentar uma outra carreira. Não são incomuns os casos de estudantes que começaram cursando direito e foram para engenharia ou que largaram o curso de pedagogia para tentar administração de empresas.
Há aqueles alunos que vão até o final de um determinado curso e, depois, percebem que mesmo com o diploma na mão não é esta a área de seus sonhos para a carreira profissional. Tive um aluno que fez o curso de gastronomia no Centro Universitário Senac em Campos do Jordão, um dos melhores na área no Brasil que, apesar de ótimo estudante, reconhecido por todos os seus mestres, se formou, tentou trabalhar na área, ficou cerca de 2 anos atuando como Chef e, ao final deste período, resolveu abandonar o segmento e prestar vestibular para medicina. Acontece, faz parte da vida, há pessoas fazendo isso até mesmo com mais idade, já com carreiras estabelecidas há anos num determinado segmento, desiludidas com o que estão vivenciado ou querendo recomeçar numa nova área, dispostas a reiniciar suas vidas.
Certa vez, indo realizar uma palestra, sentou-se ao meu lado no avião um senhor que devia ter pelo menos uns 80 anos de idade. Começamos então a conversar. Ele me disse que era professor doutor na área de medicina. Atuava pela Universidade de São Paulo. Tinha concluído o doutoramento na área ainda nos anos 1970. Conversa vai, conversa vem, ele me disse que estava indo para um congresso na universidade federal estabelecida na cidade para a qual estávamos rumando. Foi então que aquele especialista me disse que estava um pouco cansado daquilo tudo e que queria aprender e trabalhar com coisas novas. Por isso mesmo, ele me revelou, começara um novo curso universitário, na área de direito, motivo pelo qual estava muito contente e já pensativo em relação a seu futuro como advogado. Essa é uma história real. Aquele homem, profissional realizado, com sucesso na área, queria atuar em outra profissão e decidira fazê-lo quando estava com aproximadamente 80 anos de idade. Nunca é tarde para ser feliz!
Afinal de contas, o que vale mesmo, no tocante ao trabalho, em relação ao qual gastamos horas e mais horas de nossas vidas, é que estejamos atuando naquilo que nos dá prazer, que faz sentido para nós, que nos mobiliza a dar o que temos de melhor para atingir os resultados esperados ou mesmo ir além. Por isso mesmo, ainda que aparentemente seja tarde, nunca desista dos seus sonhos, principalmente se você está começando seus estudos profissionalizantes, saindo agora do ensino básico para ingressar num curso técnico ou universitário.