Cinema na Educação
A Alma do Negócio
João Luís de Almeida Machado
Porta Curtas Petrobrás/Curta na Escola – Direção de José Roberto Torero
Compre, compre e compre.
Se você está feliz, compre.
Se você está triste, compre também.
O importante é consumir. Acorde e se lembre do macio travesseiro com penas de ganso ou fabricado com tecnologia da NASA. Seu sono foi fantástico por isso e pela roupa de cama feita com fibras de algodão misturadas a seda que criaram um novo conceito para lençóis, colchas e fronhas.
Tomou seu banho debaixo daquela torrente de águas que te lembram uma verdadeira cachoeira? Coisa fina e exclusiva desta ducha incrível...
E por aí vai a conversa, passando pela margarina, leite, presunto e queijo que você consome no seu desjejum para ter a necessária energia para enfrentar o seu dia a dia...
Tudo o que há ao seu redor foi comprado, fabricado, vendido, propagandeado para você e, por isso, tais produtos estão ao seu alcance.
Ou não, se o seu rendimento não for o suficiente para pagar por tudo isso ou pelos melhores produtos disponíveis no mercado.
Comprar seria mais fácil se a lógica do sistema não definisse níveis de ganho a partir de diversos fatores, todos eles ajustados a dinâmica que prevê lucros recorrentes aos donos dos chamados meios de produção, como a terra, as máquinas, os veículos e, principalmente o capital que lhes permite comprar o que precisam para tornar possível esta realização, inclusive o trabalho humano, mas isso é outra conversa, que nem deve ser aventada, se possível...
“A alma do negócio”, curta-metragem criativo realizado pelo jornalista e diretor José Roberto Torero, realiza uma crítica direta, objetiva, sem rodeios ao mundo em que vivemos, onde ter e comprar são os verbos mais executados, se bem que nem percebamos isso ou ainda que, se o fizermos, continuamos automaticamente executando ambos numa inegável alienação assumida.
O casal do filme vive a perfeita vida que nos é vendida pelos anúncios de televisão. Sua vida não é diferente da nossa, rodeados por produtos, só que diferentemente dos meros mortais do lado de cá da tela, eles assumem seu consumismo promovendo produtos e marcas dos diversos produtos que estão em seu cotidiano. De certo modo, ainda que mais sub-repticiamente nós também fazemos isso, com diversas mercadorias que temos e em relação as quais literalmente vestimos as marcas, levando adiante seus ícones ou nomes explicitamente.
Quem nunca promoveu seus tênis Nike ou Adidas, suas calças Levi’s, o ouro negro vendido em garrafas, mais conhecido como Coca-Cola, o iPad ou o iPhone da Apple, as sandálias havaianas, os carros da Volkswagen ou da Ford e por aí afora...
Fomos programados para isso e nem percebemos. Está no nosso inconsciente. Agora ainda mais, com a conexão à internet e as redes sociais a nos fazer de elementos referenciais para todo o tipo de estabelecimento e produtos... Torero quando fez “A alma do negócio” ainda não sabia o que estava por vir, ou seja, que essa prática se tornaria ainda mais marcante, forte, evidente, silenciosa e perigosa para todos e cada um de nós.
Obs. Assista o curta “A Alma do Negócio” no site do Curta na Escola e leia os planos de aula e relatos de uso de outros professores no link a seguir: Clique aqui
# Educar e aprender: buscando os significados