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Ensino de Línguas

João Luís de Almeida Machado é consultor em Educação e Inovação, Doutor e Mestre em Educação, historiador, pesquisador e escritor.

É possível aprender inglês na escola regular?
João Luís de Almeida Machado

crianças sobre mesa de uma biblioteca olhando para um globo terrestre

A pergunta acima tem duas possibilidades reais de resposta: sim e não. Na maior parte dos casos prevalece a segunda opção, ou seja, aprender inglês ou outra língua estrangeira dentro dos ciclos regulares, nos conformes do currículo básico, não é possível. Há, evidentemente, professores e escolas que conseguem operar milagres e que irão fazer com que o autor deste artigo morda a língua. Particularmente gostaria que essa fosse a regra e não a exceção, mas infelizmente tais casos são minoria no cenário brasileiro.

Fala-se inglês no Brasil, mas na maior parte dos casos isso não ocorre por conta das aulas ministradas no ensino fundamental ou médio nacional, seja ele oferecido por escolas públicas ou privadas.

Há um custo alto associado a fluência na língua estrangeira mais importante do mundo para quem irá ingressar nos estudos universitários, acessar a rede mundial de computadores, buscar emprego neste mundo globalizado ou partir para alguma viagem de negócios ou de lazer.

No Brasil quem fala inglês estudou durante anos em alguma instituição especializada, externa, fora dos muros da escola regular. Há anos estas escolas oferecem modalidades específicas que atendem desde crianças em estágio de alfabetização até profissionais que precisam de instrumentação para o exercício de seu trabalho. Cursos rápidos ou que levam alguns anos para que o aluno possa, ao final, buscar alguma certificação internacional que valide seus conhecimentos na área.

Para quem busca realmente falar inglês como um nativo, há ainda a opção de cursos no exterior ou mesmo de intercâmbio cultural, com estadia em países como os Estados Unidos, a Inglaterra, o Canadá, a Austrália ou a Nova Zelândia, por períodos que vão de algumas semanas até meses ou um ano completo.

Fazendo os cálculos, estes cursos no exterior custam algo entre 4 e 5 mil dólares, no mínimo, valor próximo daquilo que um aluno irá gastar para cursar todos os livros de um curso de inglês de qualidade numa das boas franquias existentes no país por um período mínimo de 4 anos, por exemplo.

Não há atalhos, diga-se de passagem, para atingir esta meta. Muitas pessoas desistem ao longo do caminho por conta de fatores como exaustão (excesso de atividades, outras prioridades e compromissos), cursos que vão ficando enfadonhos, resultados a serem alcançados somente a longo prazo, custos altos...

Até mesmo este caminho, pelo qual se pode chegar ao domínio e fluência na língua inglesa, exige acima de tudo que a pessoa seja determinada, tenha foco, queira mesmo atingir este objetivo e saiba que as dificuldades irão surgir, ou seja, que para chegar lá terá que trabalhar duro.

Porém, quanto a pergunta que é título deste artigo, permanece a dúvida, afinal, é ou não possível aprender inglês no ensino regular oferecido pelas escolas?

Parte da resposta já foi dada, ou seja, não é possível dentro do formato, da grade horária, dos recursos, das práticas pedagógicas e, infelizmente, da falta de melhor preparo dos docentes da área que lecionam nas escolas brasileiras. A maioria deles não têm, infelizmente, a experiência e a fluência na língua e na cultura dos países de língua inglesa.

É preciso, para que a língua que domina o mundo seja aprendida nas escolas, modificar praticamente tudo o que é feito e trazer as facilidades que o mundo globalizado oferece, de fato, para as salas de aula.

A formação em letras para os futuros professores de inglês precisa, por exemplo, não apenas instrumentalizar quanto a gramática, mas partir de uma perspectiva mais ampla, de cunho cultural, oferecendo oportunidades reais e diárias de imersão na língua e nos hábitos dos países onde se fala tal língua. Alunos de letras precisam ler todos os dias materiais em qual língua estiverem se especializando, ouvir músicas, ter acesso a rádios e podcasts, assistir telejornais, ver filmes sem legendas em sua língua de origem (podem ter acesso a legendas em inglês, o que ajudaria muito), criar grupos de estudo de língua estrangeira pela internet com americanos ou ingleses e, também, estudar as bases gramaticais e literárias da língua de Shakespeare.

O currículo deveria prever, para realmente preparar os alunos para ler, escrever e falar em inglês, no mínimo 3 aulas de 1 hora por dia. O ideal seria que tais aulas acontecessem 5 vezes por semana num processo real de imersão, sem utilização da língua portuguesa.

Aprender com o apoio de recursos e subsídios culturais, como música, filmes, livros ou sites em inglês é muito apropriado e recomendado. Criar elos com escolas estrangeiras, promovendo o intercâmbio por cartas ou por meio de comunicadores via internet também subsidia fortemente os estudantes para que se habituem a sonoridade, a grafia, a fala e a cultura dos países de língua inglesa.

As práticas pedagógicas precisam ser ágeis e contextualizadas, fazendo com que o inglês não seja aprendido de forma mecânica, sem relação com a vida do aluno. Atividades rápidas, nas quais o aluno aprenda brincando ou se divertindo, inserindo a língua estrangeira até mesmo no intervalo, na alimentação que ocorre na escola ou em atividades físicas, como jogos ou brincadeiras, faz com que o uso recorrente consolide entre os alunos as palavras, expressões, tempos verbais e outras estruturas, além da entonação, de uma forma mais natural.

Aprender, em qualquer área do conhecimento, deve ocorrer de forma prazerosa, estimulada, provocada. O aluno tem que se sentir bem no processo e instigado a buscar cada vez mais. Isso não ocorre hoje nas aulas de inglês ministradas no Brasil. O processo é muito formal e burocrático. Prende-se a práticas que na maioria dos casos já é percebida pelos especialistas como ultrapassada. Não relaciona tal aprendizagem a cultura e ao contexto. Pouco se utiliza das tecnologias de informação e comunicação ofertadas pela internet para praticar o inglês estabelecendo conversas com nativos ou acessando sites com jornais, revistas, rádios, vídeos... como melhorar e de fato efetivar o ensino e a aprendizagem de inglês entre os brasileiros na escolarização regular se não atualizar os procedimentos, recursos, práticas pedagógicas e conexões com o resto do mundo?

Para que o país ingresse, de fato, num processo de desenvolvimento que o leve ao primeiro mundo é preciso que todas as ferramentas disponíveis e fundamentais sejam oferecidas a seus cidadãos e, entre elas, certamente o domínio de línguas estrangeiras, entre as quais a primeira a ser aprendida é o inglês, é algo urgente.



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