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João Luís de Almeida Machado é consultor em Educação e Inovação, Doutor e Mestre em Educação, historiador, pesquisador e escritor.

A BNCC em discussão no 5º Seminário do Centro Lemann
João Luís de Almeida Machado

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Evento promovido neste mês de maio de 2016 pelo Centro Lemann para o empreendedorismo e inovação na Educação Brasileira, em sua 5ª edição, contou com a participação de autoridades e especialistas, além de empreendedores e representantes de escolas e empresas do segmento educacional tendo como principal objetivo fomentar discussões e apresentar ideias e soluções para a elaboração da Base Nacional Comum Curricular em sua edição final.

Depois de duas versões já apresentadas e contando com milhares de sugestões enviadas por professores, gestores, instituições e empresas de todo o Brasil para o site da Base Nacional , criado pelo MEC tendo justamente esta premissa, de contar com colaborações espontâneas provenientes do país inteiro, o seminário promovido pela Lemann reuniu de membros do legislativo e do Conselho Nacional de Educação a experts estrangeiros e nacionais para que as melhores sugestões pudessem surgir e auxiliar na redação final do documento.

Especialistas que participaram da elaboração do documento juntamente ao MEC, tanto em sua primeira versão quanto na atual, como os professores Luís Carlos Menezes e Hilda Micarello também foram mobilizados para o debate e contribuíram com importantes ponderações.

Num primeiro momento foi dada a palavra para especialistas estrangeiros, que trabalharam na elaboração de Bases Comuns em seus países, como Phil Daro, líder do Common Core em matemática naquele país – e, Sheila Byrd Carmichael, revisora do Common Core em linguagens, ambos norte-americanos. Além deles também participou desta rodada de sugestões o professor Paulo Blikstein, do Centro Lemann em Stanford, responsável por trabalhar a área de ciências. Ficou faltando alguém focado em Humanidades que pudesse dar retorno quanto a disciplinas como história, geografia, filosofia, sociologia que contemplam questões primordiais como política, ética, vida em sociedade, sustentabilidade...

Foram de Blikstein algumas das melhores contribuições pois suas proposições olharam para as ciências da natureza mas podem ser ampliadas numa leitura crítica pois permitem aplicação em outras áreas do conhecimento ou, ainda melhor, em colaboração e consonância, num processo interdisciplinar, com matemática, linguagens e humanidades.

Ao iniciar suas ponderações, Blikstein afirmou ter entrado em contato com alguns especialistas norte-americanos que pudessem colaborar com o debate sobre a BNC brasileira a partir de suas experiências com o Common Core de seu país na área de ciências. Abriu sua fala com uma excelente reflexão do professor Jonathan Osborne, da universidade de Stanford, que foi muito enfático e claro quanto a importância deste documento ao afirmar que “um currículo nacional trata do que é legítimo dizer que todos têm direito em uma sociedade”.

Ampliou desta forma o papel da BNC ao dar-lhe um sentido e uma dimensão que vão muito além da sala de aula e da própria escola, levando as pessoas a perceberem que o que se trabalha ao se elaborar documento de tal envergadura irá influenciar a vida de todas as pessoas e de diferentes gerações.

Blikstein afirmou ainda que “uma base nacional comum é ‘aspiracional’, não é um retrato do agora, é um instrumento de mudança em larga escala“. Também permitindo e ensejando todos a compreensão da questão temporal em relação ao documento, mostrando suas perspectivas em relação ao futuro e como devemos ser cuidadosos e zelosos quanto a isso. Sua fala destacou ainda que um documento de tal monta deve durar entre 15 e 20 anos, se estendendo, se qualificado, até para 3 décadas. Sua confecção, segundo o professor e pesquisador do Centro Lemann em Stanford, deve ser realizada por educadores ou cientistas da educação e não apenas por cientistas, que devem certamente colaborar com esta elaboração.

Outros importantes pontos destacados referem-se a ideia de que os estudantes devem “aprender fazendo o que os cientistas fazem, em vez de aprender sobre o que os cientistas fazem”, ou seja, que “devem ser capazes de fazer ao invés de simplesmente saber”. Dar legitimidade a professores e escolas que trabalhem de forma inovadora e combater docentes e unidades educacionais que atuam de forma ultrapassada ou que, ainda, tentem “enganar” o sistema são práticas a serem consolidadas.

Blikstein também enfocou a questão da “cobertura” e da “profundidade”, enfatizando que se houver necessidade de opção, cabe certamente as escolas olhar para o estudo aprofundado dos conteúdos ao invés de tentar inserir no currículo uma quantidade enorme de assuntos que venham a ser estudados superficialmente. Ele ainda falou sobre ideias e princípios que nos Estados Unidos estão sendo discutidos pela NGSS (Next Generation Science Standarts), entre as quais podem ser destacadas as práticas de ciência e engenharia como premissas a serem adotadas, o trabalho de conceitos transversais e o trabalho das odeias centrais das disciplinas e sua progressão nos conformes de uma “sofisticação progressiva do conteúdo e do pensamento do aluno”, conforme suas palavras.

Em matemática, o professor Phil Daro trouxe elogios a “perspectiva humana da matemática para todos”, a “atenção a evolução do aluno” e a organização da estrutura da BNC organizada em tabela nesta área do conhecimento. Sua principal recomendação foi a de que os alunos que tiverem interesse claro e específico em STEM (Science, Technology, Engineering and Mathematics) devem ter acesso e propostas de conteúdo ampliado. O planejamento destes conteúdos adicionais para os alunos interessados em STEM deve ser planejado em conjunto com as universidades, defende o professor americano.

Segundo Daro, é preciso oferecer tarefas e projetos mais ilustrativos. Somente assim seria possível elevar a autonomia dos alunos e a sua demanda cognitiva.

O que se faz até agora é limitado e pouco instiga os alunos no estudo da matemática. A própria terminologia usada é reducionista segundo ele, pois os verbos mais aplicados em matemática ainda são “reconhecer”, “localizar”, “nomear”, identificar” e “resolver”, claramente limitadores que, por conta disso, empobrecem a experiência do aluno se forem utilizadas sozinhos. É preciso Considerar ações como “formular”, “desenhar”, “construir”, “explicar”, “explorar”, “justificar”, “criar”, “traçar”, “questionar” ou “provar” como aditivos necessários e criar bancos de atividades comentadas e compartilháveis, por níveis e assuntos, passíveis de estudo gradativo dos temas.

O fechamento desta análise inicial pelos especialistas trouxe considerações de Sheila Byrd Carmichael, cujo foco foi maior em sua própria área de estudos e expertise. Sendo assim, a professora Carmichael destacou que o BNC brasileiro avança pois reconhece a importância da integração interdisciplinar entre as diferentes áreas do conhecimento, prioriza a aplicabilidade do mundo real nos objetivos educacionais ano a ano, fomenta a curiosidade dentro e fora da sala de aula, organiza os padrões curriculares por aspectos da leitura, dá maior ênfase a gramática na 2ª versão do documento e comunica a necessidade dos alunos entenderem o uso da linguagem como forma de promover a cidadania.

Entre as recomendações trazidas pela professora Carmichael devem ser consideradas a necessidade de igualar a atenção dada aos aspectos sociais, emocionais e/ou políticos da leitura, preencher as lacunas quanto a certos conteúdos e deletar as eventuais repetições, tornar a linguagem mais clara e os objetivos de aprendizagem mais específicos e refinar os verbos que introduzem os objetivos para que sejam mais mensuráveis ou observáveis.

Os professores convidados a analisar as ideias e propostas do grupo de especialistas internacionais trazidos pela Lemann consideraram pertinentes as propostas trazidas e enfatizaram que realmente são necessárias as tarefas elucidativas, a participação ativa dos educandos visando autoria e iniciativa, a compreensão do BNC como um instrumento de mudança, a tentativa de conciliar ao máximo a questão da cobertura e da profundidade, a abordagem interdisciplinar que deve permear todo o documento e a ligação com a realidade.

Foi destacado ainda que o BNC não é o currículo e que, além do documento em elaboração, há que se pensar nos termos de implementação, que exigirão rapidez por parte do governo, autoridades, escolas, professores e de toda a sociedade. O amanhã depende de tudo isso e que fique claro para todos visando maior comprometimento em relação não apenas ao BNC mas, principalmente, no que tange a educação como um todo, imprescindível para que tenhamos um país melhor e mais justo num futuro breve.


Sugestões de leitura sobre o assunto

A Base Nacional Comum Curricular e a Matemática

A Base Nacional Comum Curricular e as Ciências da Natureza

A Base Nacional Comum Curricular e as Linguagens e Códigos

A Base Nacional Comum Curricular e as Ciências Humanas



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