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João Luís de Almeida Machado é consultor em Educação e Inovação, Doutor e Mestre em Educação, historiador, pesquisador e escritor.

Pesquisa revela que 30% dos brasileiros nunca comprou um livro
João Luís de Almeida Machado

mulher lendo livro

A recente divulgação da Pesquisa Retratos da Leitura, realizada pelo Ibope a pedido do Instituto Pró-Livro e divulgada no dia 18 de maio de 2016, a partir de levantamento realizado com 5.012 pessoas (o índice de representatividade da pesquisa é de 93%) traz dados importantes quanto a leitura entre os brasileiros.

Partindo do princípio de que leitor, de acordo com a pesquisa, é a pessoa que leu um livro inteiro ou em partes nos últimos 3 meses, o primeiro dado que chama a atenção é o de que, no referido período equivalente a 90 dias, 74% da população não comprou nenhum livro. Quem não leu nenhuma obra neste montante de tempo é considerado não leitor. Entre os brasileiros que compõem o contingente daqueles que não são leitores, 30% declararam nunca ter comprado um livro. Este é um dado estarrecedor, relacionado, certamente, a falta de incentivo à leitura, igualmente comprovada na pesquisa.

O montante de entrevistados que declarou nunca ter sido incentivado a ler por outras pessoas equivale a 2/3 do total, atingindo expressivos 67% dos pesquisados. Entre os 33% que disseram ter recebido influências de alguém, as menções aos incentivadores a leitura destacaram principalmente o apoio da mãe (11%) e o de professores (7%). Ainda assim, em se considerando o essencial papel da família e da escola na formação integral dos alunos, o nível de incentivo percebido é bem reduzido.

A pesquisa revelou que as mulheres brasileiras leem mais que os homens. 59% das mulheres são leitoras. Entre os homens o índice é de 52%.

Apesar dos números ainda insatisfatórios, a pesquisa Retratos da Leitura constatou que o número de leitores no Brasil cresceu entre a última edição do levantamento, realizado em 2011 e o mais recente, com dados de 2015, sendo percebido um salto de 50% para 56% da população entre aqueles que folheiam de forma integral ou parcial um livro.

Os dados esclarecem que o brasileiro lê, em média, 4,96 livros por ano. Em 2011 a pesquisa tinha auferido um total de 4 livros por ano lidos pelos brasileiros. A maior parte destes livros são requisitados pelas escolas, equivalendo a 0,94 do total. Os leitores, por escolha própria, selecionam 2,88 volumes por ano. O restante é fruto de outras demandas, como por exemplo, trabalho ou religão.

Terminar de ler um livro ocorre em média a cada 2,43 livros enquanto a leitura parcial atinge 2,53 livros. Isso indica que os leitores não findam a leitura de um livro em mais de 50% dos casos.

Isso certamente se relaciona ao fato de que o gosto pela leitura, de acordo com a pesquisa, atinge apenas 1/4 ou 25% dos leitores brasileiros. Os demais leem principalmente por motivos relacionados a demandas externas, como atualização cultural (19%) ou profissional/exigência do trabalho (7%), exigência escolar (7%), crescimento pessoal (10%), religiosidade (11%) ou apenas para matar o tempo, como distração (15%).

Quem não lê alega falta de tempo (32%), afirma que não gosta de ler (28%), reconhece que não sabe ler (20%), diz não ter paciência para a leitura (13%), prefere outras atividades (10%), atesta dificuldades para ler (9%) ou então alega cansaço (4%), falta de bibliotecas (2%), preço dos livros (2%), falta de livrarias para comprar (1%) como motivações. Para os educadores todos os motivos são relevantes, mas principalmente devem ser observados aspectos relacionados a afirmação de que não sabem ler cerca de 1/5 dos entrevistados e que quase 1/10 dos pesquisados reconhecem ter dificuldades para realizar a leitura.

Os pesquisados indicaram suas próprias casas (81%), as escolas (25%), bibliotecas (19%), o local de trabalho (15%) como espaços onde mais realizam leituras. Há ainda que se destacar que consultórios ou salões de beleza (8%) e leitura quando em transporte (11%) são espaços onde as pessoas também leem livros.

dispositivos para leitura de e-books

O formato digital para leitura de livros cresceu, com o número de leitores de e-books passando de 30% em 2011 para 41% em 2015. Ainda assim, tendo em vista o interesse e nível de conectividade do brasileiro que 59% dos entrevistados nunca ouvira falar antes de e-book. Deste total, 7% mostraram interesse em conhecer este novo modelo de leitura.

A plataforma que foi criada para maior conforto em leitura digital, os e-readers (como o Kindle ou o Kobo) é usada por somente 4% dos leitores que afirmaram realizar leituras em dispositivos digitais. Os livros digitais são mais lidos em smartphones (56%), computadores (49%) e tablets (18%) do que nestas ferramentas. Entre os leitores no formato digital, 88% baixaram gratuitamente livros na internet e somente 15% pagaram pelo download o que acende uma luz de alerta para os editores quanto aos motivos deste alto índice de usuários que não pagam por e-books.

Como já era esperado, os e-books são mais lidos em espaços abertos ou de trânsito como praças (15%), parques (14%), shoppings (14%) e menos em locais de maior permanência como casa (6%), sala de aula (3%) ou biblioteca (2%). Livros digitais são, também, mais lidos em lan houses ou cyber cafés (42%) ou quando as pessoas estão em mobilidade ou trânsito (25%), viajando em ônibus, carros, ou aviões, por exemplo.

Livros relacionados a formação como técnicos (33%) ou escolares/didáticos (21%) respondem por mais da metade da preferência ou necessidade no país. A literatura, no entanto, isoladamente, representa 47% do total de livros indicados como preferidos pelo público leitor. Há ainda o segmento religioso, com expressivos 8% do total mencionado como livros de cabeceira.

Para entender melhor porque ainda se lê pouco no Brasil é preciso, no entanto, analisar um último dado bastante relevante da pesquisa Retratos da Leitura, relacionado as preferências quanto ao lazer do brasileiro. Neste quesito a leitura ficou em 10º lugar (empatado com praticar esportes) atrás de assistir TV, ouvir música, acessar a Internet, reunir-se com amigos ou familiares, assistir filmes ou vídeos em casa, usar Whatsapp, escrever, usar redes sociais (Facebook, Twitter ou Instagram) ou ler jornais ou revistas. Se atentarmos para o fato de que há 3 atividades relacionadas ao uso das novas tecnologias entre os mais citados, 2 ações vinculadas a televisão, uma a música, uma de caráter social presencial e duas ligadas a textos (escrever ou ler jornais), é possível perceber que o incentivo à leitura em casa e nas escolas é algo que deve ser priorizado no país. Somente assim, poderemos nos tornar um país onde o nível de compreensão e utilização da informação, com maior esclarecimento, aconteça de fato.



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