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João Luís de Almeida Machado é consultor em Educação e Inovação, Doutor e Mestre em Educação, historiador, pesquisador e escritor.

Internet chega a mais da metade dos lares brasileiros: A vida melhorou?
João Luís de Almeida Machado

celular na mão de uma mulher

Acesso de brasileiros a web aumenta, especialmente por meio de telefones celulares, comprova Pnad, mas isso melhora a vida dos usuários e do país?

Segundo dados da PNAD (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios) divulgada pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) neste início de março de 2016, o Brasil avança a passos largos para que até 2020 o acesso à internet seja uma realidade para a maioria dos brasileiros. (Confira matérias publicadas pela Folha e Época Negócios sobre o tema).

Os dados apresentados, relativos a levantamentos feitos em 2014, demonstram que 54,9% dos lares brasileiros já têm acesso à web. A pesquisa anterior, com informações obtidas em 2013, informava que menos da metade dos domicílios nacionais acessava a rede mundial de computadores então, atingindo um montante equivalente a 48% do total.

A novidade maior nesta nova pesquisa refere-se ao fato de que, pela primeira vez, o acesso à internet por meio de telefones celulares ultrapassou, no país, a entrada na web por meio de computadores. Segundo o levantamento - desde o ano passado - 80,4% dos acessos no país são feitos via telefonia celular enquanto o patamar daqueles que entram na web usando desktops ou notebooks é de 76,6%. O crescimento expressivo quanto ao uso de tablets como plataforma para navegação também foi percebido, atingindo o patamar de 21,9% dos lares nacionais que chegam ao conteúdo da internet com apoio deste tipo de equipamento.

Ao se pensar em números, especificamente no que se refere a habitantes, para efeitos da pesquisa contabilizados somente as pessoas com mais de 10 anos de idade, a internet já é utilizada por mais de 95 milhões de brasileiros. Proporcionalmente significa que mais da metade da população do país já navega na web.

Os dados trazidos pelo Pnad revelam que em termos de faixa etária, o acesso é maior entre os adolescentes e jovens que tem entre 15 e 18 anos de idade; outra informação pertinente refere-se ao fato de que quanto maior a escolaridade, maior o acesso e o tempo despendido na internet, seja para fins pessoais ou profissionais; a região Norte do país foi a que registrou maior crescimento proporcional de acesso à internet.

Com todos estes dados na mão, entre tantos outros disponibilizados via Pnad, cabe sempre um importantíssimo questionamento:

- Mais acesso, mais horas de uso, mais gente conectada e, afinal, que uso estamos dando para a internet?

Fora do ambiente profissional, corporativo, no qual se demanda o uso especializado, focado nos interesses dos negócios atrelados as empresas, como os brasileiros utilizam a web em seu dia a dia?

Especificamente na educação, que meios, caminhos, potencialidades, canais, plataformas e metodologias de utilização estão sendo explorados? O ensino e a aprendizagem via web estão de fato atrelados ao cotidiano das escolas? O uso da internet na educação modificou os processos ou apenas reproduziu práticas do cotidiano sem trazer benefícios e ganhos reais para estudantes e professores?

O uso das redes sociais, por exemplo, tem trazido abusos por parte dos usuários brasileiros, em especial no delicado momento político de disputas intensas entre partidários do impeachment e daqueles que defendem o atual governo. Exageros de parte a parte, com ofensas, ataques, propaganda, mentiras e verdades que se alternam, entre outras práticas, fazem com que o Facebook ou o Twitter, maiores agregadores destas mobilizações, tenham se tornado espaço cada vez menos frequentado por quem não quer estar ou participar deste intenso tiroteio.

E, o pior de tudo, nesta batalha campal no mundo virtual, entre diferentes posicionamentos políticos percebidos, é que os debates são estéreis, não tem argumentação consistente, constituindo meramente opiniões desprovidas, na maior parte dos casos, de real valor para o debate acerca das instituições políticas nacionais, da democracia e dos preceitos legais e bases republicanas.

E este é apenas um exemplo das banalidades que encontramos na web no tocante as redes sociais, não se tratando de caso isolado, o mesmo pode ser percebido em relação a vários outros temas.

No tocante a educação, especificamente, o salto percebido é pequeno em relação a melhoria da qualidade das aulas, do ensino e da aprendizagem. Criam-se recursos, aplicativos, softwares, sites, blogs, ambientes virtuais de aprendizagem e é ampliado o público que acessa estas ferramentas e meios.

O acesso a informação é evidente. O quanto deste acesso para fins educativos se transforma, efetivamente, em conhecimento e, principalmente em algo que seja aplicado a vida das pessoas é o que ainda não se percebe com clareza. Transformar toda esta informação em algo útil a vida das pessoas, seja na educação on-line ou em outras áreas, quais forem, é algo que precisamos perseguir com maior força e vigor.

Falta-nos maior foco, comprometimento e percepção da internet como algo além de uma plataforma interessante ou mesmo lúdica para um elemento que permita melhoria na qualidade de vida, estudos, trabalho, relações entre pessoas, cidadania, ética e afins.

Mais do que acesso ampliado é preciso ampliar a consciência dos usuários para o uso inteligente destes recursos e, principalmente, o que escapa a muitas pessoas, de seu próprio tempo, muitas vezes dedicados a nada ou quase isso com tantas horas desperdiçadas na web.



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