Cinema na Educação
Perdido em Marte
João Luís de Almeida Machado
Depois de um súbito e inesperado golpe que o deixou desacordado por algum tempo você acorda e se dá conta que toda a tripulação partiu, sem a sua presença. As condições atmosféricas impróprias relacionadas a chegada de uma tempestade com fortes ventos e muitas coisas ao redor sendo arrastadas o fizeram sofrer um acidente que, com certeza, para seus pares, significou sua morte. A procura pelo corpo poderia até ser feita em outro momento, mas salvar as vidas dos demais passou a ser, naquele momento, a prioridade.
A descrição acima poderia ser ambientada em diferentes cenários e épocas. O protagonista desta situação poderia ser tanto Robinson Crusoé, no clássico livro de Daniel Defoe, com pequenas adaptações ao curso da história original, mas retornando ao fato de que ficou para trás num local remoto no qual não existiam sinais de civilização ou vida humana, quanto o personagem de Tom Hanks, no premiado filme “Náufrago”, do diretor Robert Zemeckis, igualmente solitário numa ilha distante de tudo e de todos.
No entanto, a situação descrita se refere a um astronauta da NASA, a agência espacial norte-americana, protagonizado pelo talentoso e celebrado Matt Damon, no filme “Perdido em Marte”, do diretor Ridley Scott, de grandes e premiados sucessos como “1492 – A conquista do Paraíso” e “Gladiador”, entre outras produções.
E o local onde o astronauta foi deixado por sua equipe para trás foi Marte, o planeta vermelho, numa hipotética expedição conduzida pela NASA naquela localidade para averiguar condições gerais de vida e de estabelecimento de estações colonizadoras.
O acidente e a saída dos demais astronautas faz com que a notícia inicialmente divulgada na Terra pelos diretores da NASA seja a de que um de seus tripulantes morreu em ação. A comoção no mundo é grande. Não há chance de retornar a Marte para recuperar o corpo antes de 3 ou 4 anos data prevista para uma nova ação naquele planeta.
A questão primordial, no entanto, é que o astronauta Mark Watney (Matt Damon), não morreu. Ele sobreviveu ao impacto com uma peça trazida pelo vento e, apesar dos sensores indicarem que alguma parte de seu traje espacial teria se rompido e ele imediatamente sufocado, não foi o que ocorreu.
Watney se levantou, com um ferimento no abdômen, conseguiu retornar a cápsula espacial onde os astronautas estavam instalados, incomunicável com seus colegas ou com a agência espacial norte-americana e, plenamente consciente de que tinha alimentos para alguns meses no máximo e que uma nova expedição a marte ocorreria num prazo mínimo de 3 ou 4 anos...
Desesperadora para a maioria das pessoas, a situação que significava morrer sozinho num planeta distante da Terra, sem alternativa real de resgate a médio prazo, para o astronauta resultou numa incessante busca de meios de sobreviver e de se comunicar com outros seres humanos usando todos os meios que a ciência lhe oferecia naquele contexto.
Esta incrível história onde se destacam aspectos como a capacidade de superação dos seres humanos, os ensinamentos e possibilidades da ciência, a solidariedade, o poder da ação conjunta de pessoas e nações, entre outros subsídios trazidos na produção, é mais uma obra de valor criada por Ridley Scott que foi reconhecida com prêmios e também com a indicação para melhor filme no Oscar 2016. É, certamente, cinema de primeira e merece ser assistido por todos!
O filme
Uma tempestade está prestes a eclodir em Marte. Os astronautas estão cientes disso mas continuam a trabalhar. As informações iniciais dão conta de que as forças da natureza ocorrerão um pouco mais tarde. Quando os informes da NASA chegam aos membros da expedição que estão na cabine de comando destacando que a tormenta chegará antes do previsto já é tarde. Ainda assim a capitã e seus comandados iniciam a evacuação em meio aos fortes ventos e as pedras e objetos trazidos em sua esteira. Tudo vai bem até que Mark Watney (Matt Damon, a vontade no papel, em mais uma bela performance) é atingido e jogado adiante. Seus sensores acionados indicam que houve ruptura de seu capacete ou algum rasgo em seu traje espacial. Watney estaria morto. Apesar de alguns ainda assim quererem retornar para resgatar o corpo, as condições atmosféricas obrigam os tripulantes a sair do planeta vermelho.
O astronauta, no entanto, sobreviveu. Sofreu uma perfuração que ao entrar no acampamento espacial imediatamente remediou, mas estava bem para quem poderia ter morrido pouco antes. O cenário imediato para ele, no entanto, era desolador. Não tinha mais seus companheiros e nave espacial por perto, portanto, voltar para a Terra ou para a estação espacial eram impossibilidades. E o pior, a próxima viagem a Marte, segundo a NASA, ocorreria somente em 3 ou 4 anos. Para tornar ainda pior a situação, não haviam meios de comunicação para que Watney pudesse informar a Terra ou a estação orbital mais próxima que continuava vivo.
O que fazer? Primeiro verificar as provisões. Suficientes para alguns meses não seriam, no entanto, capazes de abastecê-lo até a próxima nave pousar em Marte. O que fazer? Que tal organizar os recursos e estudar possibilidades de plantar alimentos neste planeta? As condições gerais não são iguais as da Terra, pelo contrário, são desfavoráveis a reprodução de vegetais. Há, porém, recursos para que Watney tente criar uma estufa e plantar algumas espécies, como batatas, que alimentem por algum tempo.
Botânico de formação, o astronauta inicia então um ciclo de realizações notáveis para os quais conta com a ciência como aliada para sua sobrevivência. Enquanto busca alimentos, se mobiliza para tentar comunicar-se com a Terra. Enquanto isso, os satélites informam movimento na base espacial em Marte e a NASA descobre que Watney está vivo. Mais do que corrigir o anúncio de sua morte cabe a todos pensar num meio de resgatar seu astronauta...
“Perdido em Marte” é um filme que durante as suas mais de 2 horas de duração faz com que os espectadores estejam lado a lado com Watney, aprendendo com ele, torcendo pelo astronauta, esperando as soluções da NASA, querendo que a informação sobre a sobrevivência do tripulante seja transmitida para seus companheiros de expedição... É um filme em que prendemos o fôlego e, junto com Watney, celebramos a vida e a inteligência humana.
Para Refletir
1- Buscar informações sobre os projetos da NASA e de outras agências espaciais para entender o atual momento da corrida espacial é algo que o filme nos instiga a fazer. Marte realmente está próximo como meta para novas viagens espaciais. Ações de cooperação como aquela que aparece, envolvendo China e EUA, realmente acontecem? Para tanto o ideal seria entrar em contato com as agências espaciais e buscar dados diretamente na fonte.
2- Compor uma linha do tempo das viagens e demais ações do homem no espaço para melhor entender a evolução dos projetos é igualmente, uma ação mais do que necessária para compreender não apenas este filme, mas a própria essência humana, na sua saga por novas aventuras, conquistas e espaços.
3- Há vários momentos no filme de Ridley Scott em que o astronauta Watney se utiliza de conceitos científicos para garantir sua sobrevivência. Uma das oportunidades num filme como “Perdido em Marte” para os estudos é verificar o que realmente procede quanto aos experimentos e práticas realizadas por ele e o que não funcionaria na prática, em se considerando, é claro, as condições gerais daquele planeta, diferentes da Terra.
4- E o Brasil? Quais são seus projetos espaciais? Um levantamento sobre as ações de nosso país, seus acordos, ações de cooperação na área... Quais são? Que perspectivas temos quanto a isso? Explorar o espaço tem quais objetivos para os brasileiros e para o resto do mundo?
Veja o trailer do filme
Ficha Técnica
Filme: Perdido em Marte (The Martian)
País/Ano: EUA, 2015
Duração: 144 minutos
Gênero: Ficção Científica
Direção: Ridley Scott
Elenco: Matt Damon, Jessica Chastain, Chiwetel Ejiofor, Kate Mara, Kristen Wiig, Jeff Daniels, Daniel Glover, Sean Bean, Michael Peña, Sebastian Stan.