Planeta Educação

De Olho na História

João Luís de Almeida Machado é consultor em Educação e Inovação, Doutor e Mestre em Educação, historiador, pesquisador e escritor.

Em disputa pelas Coroas de Louros
As Olimpíadas da Antiguidade

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O discóbolo grego.

Hora da trégua. Tempo de paz. Ao invés de soldados em combate, vamos as arenas para assistir aos melhores atletas gregos nas mais diversificadas e emocionantes provas. Teremos a oportunidade de acompanhá-los em disputas tão diversificadas quanto o pancrácio ou a corrida de bigas, os saltos ou o arremesso de discos.

A cada quatro anos eles se reuniam em Olímpia, desde o longínquo ano de 776 a.C. para homenagear os deuses, demonstrando toda a sua agilidade, força, preparo e técnica. Praticamente todos eles se tornaram verdadeiros heróis para suas cidades, alguns atingindo até mesmo o status de lendários atletas por feitos notáveis, dignos das próprias divindades que homenageavam nos jogos. A esses fantásticos vencedores cabiam recepções no retorno a suas terras de origem com grandes festas e, eventualmente, até mesmo a construção de estátuas venerando suas glórias.

Vale lembrar que os jogos em Olímpia não eram os únicos, mas certamente foram os mais importantes, reunindo atletas de diversas localidades dominadas e colonizadas pelos helenos (gregos). Além da cidade que serviu de base para as Olimpíadas de então, e que também inspirou os jogos criados pelo Barão de Coubertin em 1896, provas esportivas eram disputadas em Corinto (em homenagem a Posêidon, Deus dos Mares, conhecidos como Jogos Ístimicos), em Delfos (em tributo ao Deus Apolo, chamados de jogos Píticos), em Atenas (em favor da deusa Atena, sendo nomeados Panatenéias) ou ainda na floresta sagrada de Neméia (homenageando Zeus e identificados como Jogos Nemáicos).

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Zeus e Hera (Deusa da Fertilidade) eram homenageados pelos gregos com os Jogos Olímpicos.

E como surgiram tais competições?

Há versões míticas e históricas para explicar o surgimento dos eventos esportivos que resultaram nas Olimpíadas. Por exemplo, segundo alguns especialistas, os jogos seriam homenagens aos guerreiros mortos em guerras locais. Outros contam lendas segundo as quais uma corrida de bigas entre Enômaos e Pélops, netos de Zeus, na qual teriam disputado uma corrida mortal pela mão de Hipodâmia teria sido a razão do surgimento dos jogos. Há menções a homenagens prestadas a deusa Hera, em busca de maior fertilidade dos solos e, conseqüentemente, colheitas mais fartas e freqüentes.

Para que os deuses se sentissem realmente homenageados pelos mortais em seus jogos, a preparação era intensa e os cuidados começavam seis meses antes da realização das competições, quando da inscrição dos atletas que iriam representar as cidades inscritas. Para que pudessem participar era prioritário que os esportistas fossem homens livres e gregos de origem (nascidos nas cidades da Grécia ou em colônias estabelecidas pelos helenos ao longo de toda a costa mediterrânea).

Os custos da preparação ao longo do período de seis meses eram, provavelmente, bancados pelas cidades de onde vinham os atletas. Para os esportistas as vitórias poderiam representar honrarias e respeito durante toda a vida, o mesmo sentimento era retransmitido a terra natal dos mesmos, por esse motivo havia a preocupação das pólis (cidades-estado) enviarem representantes muito bem treinados e aptos a conquistar as coroas de louros.

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Arco do túnel principal do estádio de Olímpia, local onde ocorriam provas de corrida e lutas.

Era comum que os atletas fossem provenientes das melhores e mais respeitadas famílias de cada cidade, em busca de reconhecimento e glórias que enaltecessem ainda mais a tradição de seus antepassados. Durante a preparação esses jovens atletas tinham que abrir mão de certos prazeres (como determinados tipos de alimentos) e deveriam se dedicar com afinco a séries e mais séries de exercícios em busca de aprimoramento físico.

Quando em disputa os esportistas passavam azeite pelo corpo todo (isso os protegia contra o calor intensivo e os efeitos dos raios solares) e competiam nus.

O desrespeito às normas dos jogos era considerado como falta gravíssima, portanto qualquer tipo de trapaça era punido com rigor pelos juízes responsáveis por cada prova, sendo os concorrentes desleais expulsos da competição e condenados a castigos físicos e multas altas.

A região dos jogos era própria para a prática de esportes, estando a disposição um estádio com espaço para acomodar aproximadamente 40 mil espectadores, templos em homenagem a Zeus e a Hera (Deusa da Fertilidade), uma palestra (local destinado às provas de luta), um hipódromo (onde se realizavam as corridas de cavalos, bigas e quadrigas) e um ginásio.

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Disputa do pentatlo na Grécia Antiga, registrada em vaso.

As provas disputadas nos jogos eram: a luta livre (no solo e de pé), o pentatlo (que constava de luta, corrida, arremesso de dardo, salto e arremesso de disco), a corrida de bigas (ou de quadrigas, em distâncias de 9 a 14 km), as corridas de cavalos (em que os cavaleiros competiam nus, sem arreios ou selas), o stadium e o diaulos (corridas que tinham percursos curtos e as quais foram acrescidas outras competições desse tipo no decorrer das várias edições dos jogos), o salto em distância (no qual os competidores tinham que saltar segurando pesos de pedra ou bronze que chegavam a ter até 4,5 kg cada), o arremesso de dardos (em duas categorias: distância e precisão), o arremesso de discos (de pedra ou bronze), o boxe (com as mãos dos lutadores envolvidas por tiras de couro e com os dedos livres) e o pancrácio (espécie de luta vale-tudo, disputada na lama e sem divisão por categorias).

Aos vencedores a glória das coroas de louros, lárea máxima dada aos atletas da Grécia Antiga, que recompensados pelos seus esforços retornavam para suas cidades de origem, onde repousavam mais próximos dos deuses...

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