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Filosofando

João Luís de Almeida Machado é consultor em Educação e Inovação, Doutor e Mestre em Educação, historiador, pesquisador e escritor.

Ser ou não ser, um dilema para Heidegger
João Luís de Almeida Machado

garota sentada em uma pedra olhando para o horizonte

“O que vale não é o quanto se vive, mas como se vive” (Martin Heidegger)

O filósofo alemão Martin Heidegger, em sua obra mais destacada, “Ser e Tempo”, traduz a existência humana a partir de alguns termos chave, os quais explicam nossa peregrinação por esta Terra e os dilemas que tantas vezes nos consomem. Destaco a seguir, numa brevíssima explicação, tal terminologia com a finalidade de nos fazer pensar sobre a forma como estamos conduzindo nossas vidas:

– Existência Inautêntica: Segundo Heidegger a existência de cada ser humano não é resultante de sua própria vontade, neste sentido fomos “jogados no mundo” (o que o filósofo alemão associa ao termo “Facticidade”) e temos que nos adequar a esta condição/situação. Não se deve restringir a compreensão de mundo ao sentido geográfico pura e especificamente, mas a todo o contexto em que vivemos, considerando-se as variáveis culturais, econômicas, geográficas, políticas e históricas.

– Transcendência ou Existencialidade: são termos cunhados por Heidegger com o propósito de explicar a apropriação pelos homens do universo material (natural ou artificial) de seu entorno. Os termos referem-se as coisas propriamente ditas e também aos conceitos culturalmente criados que as descrevem, nomeiam e perpetuam entre os seres humanos. Caracterizam também o fato de que há uma leitura coletiva e uma individual, própria de cada pessoa, ainda que induzida pelo conceito dominante, uma leitura particular das coisas do mundo. Neste sentido é sempre bom destacar que há, entre os homens, um sentimento de incompletude, numa constante busca pelo que ele não é, pelo que não conseguiu efetivar quanto a si mesmo, preso a modelos, estereótipos e padrões gerais e coletivos, numa tentativa de se libertar e de se realizar. O homem, preso ao universo em que vive, não consegue se dissociar, está submerso, portanto, estando preso e incapaz de se superar, de ir além dos grilhões do contexto em que vive, tornando-se autêntico.

– Ruína: Quando abre mão de ser quem poderia ser, ou seja, de sua autenticidade não concretizada, o homem vive a ruína, segundo Heidegger. Sacrifica o seu eu, sua individualidade e limita sua vida e existência ao que a sociedade espera dele, ao que os outros demandam dele, vivendo para terceiros e alienando-se de si mesmo. Isso configura o que, em minha análise pessoal, seria o Exílio de Si Mesmo! E é nesse ponto que, creio, encontram-se, por vezes, muitas e muitas pessoas.

– Angústia: O ponto de transição é a compreensão desta situação, do fato de que se abre mão de quem se pode ser, de sua individualidade, de sua originalidade em prol daquilo que outros querem que o indivíduo seja. Heidegger chama isso de Angústia, o que caracterizaria ou poderia induzir ao questionamento de tudo, um verdadeiro xeque-mate na alienação do ser. Este momento que não ocorre para muita gente, que permanece adormecida, vivendo outra vida que não a sua, começa quando nos desestruturamos para que um processo de reconstrução aconteça, com a compreensão devida de cada peça que faz parte do nosso ser, inclusive aquelas que nos cegam e que nos impedem de sentir/perceber/compreender a sujeição ao mundo e aos outros. Os caminhos, a partir deste questionamento intenso conduzem o homem para duas alternativas, como no filme Matrix, ou seja, ou adormece e aceita tudo, sem voltar nunca mais a questionar ou transcende e atribui sentido, valor e norteia sua vida de uma vez por todas.

Heidegger, em seu trabalho de anos, percebe que o homem é ser inconcluso, ainda que alguns se libertem, sujeito ao mundo e a coexistência, mas que há chances de se realizar, de se potencializar, vivendo as possibilidades que se lhe oferecem. Compreender o que foi, o contexto e projetar seu futuro ativam o ser e permitem que ele supere a angústia e passe a ter em suas mãos a condução de sua vida, de sua história.



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