Planeta Educação

Cinema na Educação

João Luís de Almeida Machado é consultor em Educação e Inovação, Doutor e Mestre em Educação, historiador, pesquisador e escritor.

O Último Samurai
Alimento para a alma e para os sentidos

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Uma das mais regulares práticas adotadas por técnicos e atletas de diversas modalidades esportivas é o levantamento de dados relativos ao rendimento e variação técnica e tática de seus principais competidores. Uma época como a nossa, marcada pela forte e constante presença de dispositivos de tecnologia de ponta (como a filmagem e edição de imagens, a descrição escrita ou a disponibilidade de fotografias, a edição de livros ou matérias em jornais e revistas,...) faz com que a existência de grandes surpresas no esporte seja cada vez menos possível.

Essa prática não é, entretanto, uma novidade na história dos homens. Já foi descrita com maestria, por exemplo, no clássico livro “A Arte da Guerra”, de Sun Tzu, um eminente estudioso chinês que desvendou caminhos e práticas assim como a própria psicologia que envolve a participação humana em conflitos bélicos. Continua atualíssimo. Trata-se de uma obra verdadeiramente imortal e bela, apesar de seu conteúdo tematizar acerca de uma das maiores desgraças que rondam o gênero humano ao longo dos tempos...

“O Último Samurai” aborda a guerra com a serenidade e a calma próprias dos orientais. Segue os passos do trabalho de Sun Tzu ao tornar poético um tema tão doloroso para a maioria das pessoas. Fala da guerra e também de disciplina, compaixão, honra, tradição e amizade.

O filme dirigido por Edward Zwick e estrelado por Tom Cruise (que se mostra cada vez mais maduro e envolvido com seus filmes e atuações), foi um dos maiores sucessos recentes do cinema, com enorme justiça. O grande público soube reconhecer a grandeza da cultura oriental e de suas tradições, indo aos cinemas para assistir uma produção esteticamente bem constituída, com atuações sólidas, fotografia envolvente e paisagens belíssimas.

Porém, acima de tudo, a repercussão muito positiva do filme se deve a história poderosa que une ocidente e oriente em torno dos ideais dos guerreiros samurais através do capitão Nathan Algren (Tom Cruise).

O que podemos perceber e deduzir dos samurais supera, com sobras, a noção estabelecida pelo senso comum (e também por outras produções do cinema), desses eminentes guerreiros japoneses como apenas autênticos “senhores” da guerra, praticamente invencíveis devido as suas várias qualidades como conhecedores das artes marciais e pelo excelente manejo de suas armas (que não incluíam revólveres, espingardas ou qualquer outra arma de fogo).

Ser samurai significava disciplina, treinamento sério e contínuo, forma física invejável, capacidade de concentração, honra e, acima de tudo, lealdade aos princípios e a seus líderes. Além disso, apesar de guerreiros de inúmeras vitórias, temidos por seus oponentes, os samurais jamais menosprezavam seus adversários, prezavam um estudo da arte da guerra e sempre entravam nos conflitos orientados quanto à estratégia para aquela batalha específica...

“A Arte da Guerra” poderia ser descrito como um livro de samurais pelos muitos pontos comuns entre o que podemos ler em suas várias páginas e o que pudemos ver nas telas com “O Último Samurai”. Ser comparado a obra imortal de Sun Tzu já nos dá uma amostra do que significa assistir ao filme. É um tremendo elogio...

O Filme

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O Capitão Nathan Algren, conceituado e condecorado militar norte-americano, veterano da Guerra de Secessão (a Guerra Civil Norte-Americana), é um decadente e desmotivado guerreiro, sem grandes perspectivas e ambições, que se refugiou em espetáculos de qualidade duvidosa e também no álcool.

Procurado por um de seus mais leais subalternos é convidado a participar do treinamento de soldados no Japão em troca de um aumento considerável em seus rendimentos. Além de alcoólatra, nesse exato momento de sua vida, Algren acaba por se tornar um mercenário...

O que o veterano capitão não sabe é que além de treinar camponeses inaptos e totalmente despreparados para compor um exército de verdade, terá pela frente alguns dos mais temidos e mortais guerreiros como inimigos. A princípio nem havia sido informado dos prazos exíguos e da premência das batalhas, o que acaba exigindo que até mesmo ele tenha que ir para essa guerra...

Apesar de mais numerosos e de contarem com o apoio das armas de fogo compradas pelo imperador japonês, Algren e seus comandados são derrotados pelos samurais e, o capitão americano é feito prisioneiro entre os algozes de seu exército oriental.

Entre os samurais, vivendo numa comunidade idílica, onde o tempo parece não passar, a natureza pródiga alimenta os sentidos e a disciplina dá o ritmo de vida a ser seguido pelas pessoas, Algren irá aprender lições dadas por seus inimigos que irão lhe marcar pelo resto de sua vida. São ensinamentos passados num ritmo lento, que vieram para ficar e que estabelecem uma relação de maior harmonia, com o mundo e com as pessoas, com as igualdades e com as diferenças...

Assista, se emocione e aprenda. Imperdível!

Aos Professores

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1- Disciplina parece significar castigo para nossos alunos. Não tem o sentido de um estado de concentração ou de trabalho ordenado, organizado. Quando abordamos tal temática junto às classes com as quais trabalhamos, invariavelmente temos como compreensão da conversa por parte de nossos estudantes a idéia de que estaremos impondo restrições ou que iremos estabelecer punições. Temos que alterar a mentalidade predominante a respeito dessa palavra. Devemos colocar o assunto de forma a resgatar disciplina como um estado de espírito onde buscamos a todo instante a energia “zen” que nos habilita a uma maior capacidade de atenção, compreensão, interação com pessoas, objetos, textos, filmes,...

2- Harmonia no contato com as pessoas e com o mundo que nos cerca só pode ser atingida a partir do momento em que possamos entender quem somos, o que queremos, o que pensamos, quais são nossos objetivos e nossa ética. A partir desse começo temos chance de estabelecer relações mais cordiais e proveitosas com as outras pessoas, que igualmente devem ser entendidas para que possamos estender-lhes nossas mãos. Encarar cada novo dia como uma oportunidade autêntica de crescimento, de prazer e satisfação, regadas pelas novas experiências vivenciadas (sejam elas boas ou ruins) pode nos fazer chegar mais perto de um ponto de equilíbrio, de harmonia...

3- Pouco sabemos do oriente e de sua rica e vasta cultura. Temos que ampliar nosso intercâmbio propondo leituras, filmes, visitas a museus, entrevistas com pessoas que representem esses países (Japão, China, Índia,...) e projetos de troca de informações via internet. Consultas a consulados e embaixadas também podem ajudar a conhecer melhor o outro lado do mundo!

4- A leitura do clássico livro “A Arte da Guerra” devia ser obrigatória nas escolas, de preferência nas aulas de filosofia. Seu conteúdo é tão rico que permite analogias e comparações com etapas de nossas vidas, com o mercado de trabalho e, até mesmo, com a educação. Paralelos com um filme da qualidade de “O Último Samurai” ou com produções cinematográficas do maior de todos os cineastas japoneses, mestre Akira Kurosawa, também são possíveis. Não deixe de ler!

Ficha Técnica

O Último Samurai
(The Last Samurai)

País/Ano de produção: EUA, 2003
Duração/Gênero: 144 min., Aventura
Direção de Edward Zwick
Roteiro de John Logan, Marshall Herskovitz e Edward Zwick
Elenco: Tom Cruise, Ken Watanabe, Billy Connolly, Tony Goldwyn, Masato Harada,
Masashi Odate, John Koyoma, Timothy Spall, Shichinosuke Nakamura.

Links

- http://www.adorocinema.com/filmes/ultimo-samurai/ultimo-samurai.asp

- http://www.cinemaemcena.com.br/FICHA_FILME.ASPX?ID_FILME=1933&aba=detalhe

- http://cineclick.virgula.terra.com.br/criticas/index_texto.php?id_critica=816

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