Universo Escolar
A Educação Física em questão
João Luís de Almeida Machado
Mens sana in corpore sano (mente sã em corpo sadio).
Tão antigas quanto sábias as palavras em latim que são conhecidas por educadores e, em especial, por professores de educação física em todo o Brasil. Deveriam não apenas ilustrar ou esclarecer a importância da atividade física e do esporte para a formação de crianças e adolescentes em todo o país, mas ensejar a prática esportiva e atlética alhures a partir das escolas.
Paramos, infelizmente, na sabedoria destas palavras...
No Brasil, a Educação Física se restringe no país a 1 ou 2 aulas por semana, que tem 45 ou 50 minutos, dos quais parte do tempo acaba sendo perdido na transição dos alunos das salas de aula para as quadras, sempre em horários secundários, sem a necessária ênfase na formação atlética dos alunos ou nos exercícios como base para uma boa qualidade de vida, tantas vezes se restringindo a ações isoladas e sem maiores pretensões, como jogos de futsal ou corridas sem tanto critério ou qualidade.
Pensar além destes elementos iniciais, como por exemplo, no surgimento e estruturação de projetos perenes que transformem as escolas públicas ou privadas em espaços de criação de talentos para as diversas atividades esportivas que organizam competições em nível local, nacional ou internacional, um próximo passo nesta releitura da Educação Física nas escolas brasileiras, por sua vez, parece ousadia demais.
Somente para pensarmos naquilo que se estabelece na frase em latim que abre este artigo, a proposição e realização de aulas de Educação Física de qualidade, com escolinhas de esporte para os interessados em participar de competições de futsal, basquete, vôlei, atletismo, natação ou outras modalidades, permite as crianças e adolescentes envolvidos uma existência mais saudável, com alimentação mais regulada, exercícios que os deixem em boa forma física e distantes de males como a obesidade ou a depressão, por exemplo.
Somente isso já justificaria maior empenho e disposição para a regulamentação e aplicação de currículo em que tal disciplina fosse mais valorizada. Os ganhos em termos de saúde dos alunos representariam, além disso, gastos menores das famílias e do país com tratamentos médicos, medicamentos e outras intervenções relacionadas a saúde.
Ações regulatórias não devem, no entanto, se restringir somente a isso.
As atividades físicas regulares, numa base mínima de 3 dias alternados com aulas ou, dentro daquilo que seria realmente recomendável, com 5 aulas por semana, permitiriam que esta geração atual, tão envolvida com tecnologias e telas e pouco afeita a exercícios e jogos que exijam mobilidade e empenho corporal, fizesse desde exercícios básicos, jogos recreativos ou preparação muscular adequada e supervisionada por profissionais até treinamentos para competições federadas, contra outras escolas ou mesmo clubes.
O esporte, conforme atestado por estudos e especialistas, ajuda a dar foco inclusive nos estudos, afasta os alunos das ruas, das drogas e de más companhias, o que contribui não somente para a parte física, mas também para a social, mental e psicológica.
A atuação em equipes escolares tendo como finalidade as atividades meramente recreativas, de preparação física regular ou para participação em campeonatos federados, lega aos alunos a possibilidade de desenvolver melhores estratégias de relacionamento com os demais, estando sujeitos a regras, por exemplo, em jogos disputados, o que lhes permite entender que, como no esporte, também a vida tem regulamentos e que isso é um aspecto relevante e positivo para todos.
Escolas que criam escolinhas de esporte e oportunidades para que talentos floresçam contribuem não somente para si mesmas mas também para o país pois estes grandes esportistas podem compor equipes e jogar pela nação. Ao ter times próprios e encarar partidas ou competições a escola garante maior visibilidade para seu trabalho e envolve muito mais seus alunos, não somente os atletas, mas também todos os demais, pois estes passam a estar presentes nos jogos, agitando bandeiras, gritando o nome da escola e, certamente, se afeiçoando ainda mais das cores de seus colégios.
A cabeça de um jovem esportista o leva a agir com mais foco, correção, comprometimento, envolvimento e respeito aos demais. Além disso ele torna-se mais competitivo e capaz de buscar resultados sem se limitar, acreditando mais em si mesmo, em seu potencial, buscando superar-se sempre que possível.
Países em que a educação física não se restringe a uma obrigatoriedade legal, ou seja, na qual há real compreensão dos benefícios vários oriundos da atividade regular, seja em aulas e jogos recreativos ou em escolinhas de esporte, tornam-se referências em competições internacionais, como é o caso da maior potência olímpica do mundo, os EUA, país no qual além dos incentivos existentes para os atletas destacados entrarem nas melhores universidades, realiza-se um trabalho de base nas escolas desde a mais tenra idade, ou seja, começando com as crianças ao ingressarem nos ciclos regulares da educação.
Ainda que nem sempre surjam expoentes para a natação, vôlei, atletismo, basquete, handebol ou para qualquer outra modalidade, é certo que a implementação de projetos mais consistentes traz benefícios para a vida dos estudantes, seja no âmbito acadêmico, no social ou no pessoal.
Se tais projetos significarem somente melhor qualidade de vida para as novas gerações já terão valido a pena. Tendo em vista todos os demais ganhos percebidos fica a pergunta: porque não se investe de modo consistente em projetos sérios e perenes em Educação Física?
# Artigo: Muitas risadas em meio as tempestades