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A Semana - Opiniões

João Luís de Almeida Machado é consultor em Educação e Inovação, Doutor e Mestre em Educação, historiador, pesquisador e escritor.

A Base Nacional Curricular Comum e as Ciências Humanas
João Luís de Almeida Machado

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Toda a complexidade do ser humano é um desafio para as ciências. Por conta disso os estudos na área estabelecidos se dividiram em frentes que procuram esmiuçar seu objeto principal de pesquisa e análise. Da filosofia a geografia, da história a sociologia, passando por outras áreas igualmente importantes a serem trabalhadas no ensino superior, como a antropologia, a psicologia, a economia e a arqueologia, as humanidades constituem segmento de grande importância para a educação, a ciência e a cultura.

Estudar o homem a partir de suas ações individuais, entender os motivos que levaram a humanidade a organizar-se coletivamente, compreender os princípios que regem a vida particular e também as ações de caráter coletivo, esquadrinhar as organizações políticas e os movimentos sociais, estudar as diferentes culturas e etnias, perceber e interpretar a influência do meio para os seres humanos, analisar diferentes linhas de pensamento que orientam as pessoas a agir e sistematizar suas existências, entrar nos ditames das leis criadas e dos modos de produção econômica são, entre outros, grandes desafios que se colocam para quem se aventura pelas ciências humanas.

As humanas que, apesar de sua complexidade e grau de interesse grandiosos são, por vezes, consideradas como o “patinho feio” do currículo educacional ou, ainda, em alguns casos, simplificada de tal forma que venha a ser considerada área do conhecimento de fácil compreensão, a ser trabalhada basicamente por meio de memorização, sem conexão rápida e objetiva com a realidade em que vivemos.

Entre os propósitos para esta área há de se considerar a sua condição de campo interdisciplinar que agrega os caminhos existentes entre todas as áreas do conhecimento. Tudo passa pelas humanidades e a ela se integra pois que, as descobertas científicas nas ciências da natureza, em códigos e linguagens ou mesmo em matemática revertem em prol das pessoas e surgem a partir da ação destas sendo, portanto, imprescindível entender aqueles que, ao mesmo tempo são artífices e beneficiários dos andamentos vários nas demais áreas do conhecimento.

Entender os seres humanos busca, neste sentido, compreender suas nuances, a forma como reagem as intempéries do mundo em que vivem, as condicionantes culturais, as variáveis temporais, os artifícios jurídico-políticos, a estrutura de produção, os psiquismos e sua longa jornada desde o surgimento de seus primeiros antepassados na Terra.

O papel da escola e de um currículo que se proponha a verdadeiramente desvendar a humanidade e apresentar retratos em branco e preto e também coloridos para os estudantes passa então, necessariamente, por firmar compromissos de trabalhar de forma ética, responsável, cidadã e democrática. Prezar valores fundamentais como a vida, a tolerância, o comprometimento social, a preparação para a vida pública, a formação para a atuação profissional séria e responsável, a postura crítica e construtiva são, portanto, responsabilidades desta área do saber desde os primeiros passos dos alunos no ensino básico.

Criar elementos fortes de consolidação do diálogo entre as pessoas, as diferentes nações, as culturas estruturadas, as etnias existentes é, igual e idealmente, algo a ser atingido.

Prezar a diversidade de pensamentos sem impor formas de pensar mas, numa outra direção, permitindo o acesso e o conhecimento daquilo que foi construído por diferentes pensadores e que estruturou-se a partir de interesses que por vezes são divergentes mas que estão e sempre devem estar propensos ao debate e ações de entendimento em prol do melhor para todos é outra prioridade.

Orientar e estimular ao máximo a leitura que se amplia, das letras, das artes, das diferentes formas de pensar, das relações humanas, das organizações sociais e políticas e também da vida no mundo natural e daquele que é constantemente alterado pela presença humana assim como todas as consequências destas vivências é outra ação importantíssima a ser realizada em ciências humanas.

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Há, certamente, entre vários objetivos a se atingir com todos estes estudos e leituras, pesquisas e ações relacionadas as humanidades. No entanto, o que urge acima de tudo é a formação das novas gerações para o compromisso de um futuro para a vida humana e das demais espécies no planeta. Não uma vida qualquer, mas sim para um amanhã ético, justo, digno, cidadão, marcado pela tolerância, pelo diálogo, pelo crescimento sustentável, num mundo de energias limpas e por uma política que preze o bem social, com responsabilidade e sem desvios ou corrupção.

A Base Nacional Curricular Comum no que tange as Ciências Humanas deve perseguir tais metas de forma a manter-se coerente na relação entre pensamento e ação, caso contrário qualquer aprendizado não terá o real significado que a ele deve ser dado pelos educandos. Neste sentido, o documento oficial apresenta objetivos maiores em sua proposta básica que, aprofundados e enriquecidos por um amplo debate nacional, podem certamente contribuir para que o melhor seja alcançado. A seguir fazemos uma breve apreciação destes objetivos.

Objetivos

1- Conhecer princípios éticos, políticos, culturais, sociais e afetivos, sob a égide da solidariedade, atentando para a diversidade, a exclusão, avaliando e assumindo ações possíveis para o cuidado de si mesmo, da vida em sociedade, do meio ambiente e das próximas gerações.

Ao que, adicionaria, a proposta de que aos educandos devem ser oferecidos não apenas estudos que lhes permitam o conhecimento, mas também a capacidade de empreender, de buscar soluções, de atuar de forma altiva diante dos desafios que existem para a sociedade nesta área. Apresentar as moléstias ou males sem ensinar a combater e a ter postura propositiva na ação que remedia ou conserta tais problemas não é alternativa.

2- Analisar processos e fenômenos naturais, sociais, filosóficos, sociológicos, históricos, religiosos e geográficos, problematizando-os em diferentes linguagens, adotando condutas de investigação e de autoria em práticas escolares e sociais voltadas para a promoção de conhecimentos, da sustentabilidade ambiental, da interculturalidade e da vida.

Neste sentido as humanidades devem, no contexto escolar, literalmente abrir os portões da escola ou derrubar os muros que a separam ou segregam do contato com outras instituições e segmentos sociais. O diálogo deve ser uma constante para que a compreensão vá além dos livros, tarefas ou trabalhos escolares.

3- Problematizar o papel e a função de instituições sociais, culturais, políticas, econômicas e religiosas, questionando os enfrentamentos entre grupos e sociedades, bem como as práticas de atores sociais em relação ao exercício de cidadania, nos desdobramentos de poder e na relação dinâmica entre natureza e sociedade, em diferentes temporalidades e espacialidades.

Há de se estimular o entendimento em meio a diversidade ou mesmo ao embate franco e direto entre as diferentes ideologias e formas de pensar. Aceitar a opinião alheia em processos democráticos, dentro da legalidade, nos conformes das ideias e procedimentos estabelecidos culturalmente é de grande importância.

4- Compreender e aplicar pressupostos teórico-metodológicos que fundamentam saberes, conhecimentos e experiências que integrem e reflitam o percurso da Educação Básica, observando os preceitos legais referentes a políticas educacionais de inclusão, considerando o trabalho e as diversidades como princípios formativos.

Para os educadores isso significa, na prática, estudar com maior profundidade os autores e pensadores das humanidades e da educação para que, com base nestes estudos, possam assumir de forma consolidada, firme e séria seus posicionamentos na ação educacional por eles empreendida.



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