Filosofando
Geração Coca-Cola sem gás
João Luís de Almeida Machado
“Somos os filhos da revolução
Somos burgueses sem religião
Somos o futuro da nação
Geração Coca-Cola”
(Geração Coca-Cola, letra e música de Renato Russo)
Nas letras a lamuria da geração pós-revolução, ou melhor, pós-golpe militar. O futuro de uma nação são seus filhos burgueses e sem religião. Autêntica geração Coca-Cola sem gás que alienada foi ficando, ausente dos debates nacionais, de olho apenas no próprio umbigo, sem discurso, sem bandeiras, sem causas...
Shopping Centers são seus templos pois as ruas não lhes pertencem. E que mal há nisso, pensam, cientes de que se a violência grassa nas ruas mas não chega aos espaços sagrados do consumo nada afeta suas vidas.
As ilusões do dinheiro povoam suas vidas. Da hora em que acordam ao momento em que vão dormir povoam seus sonos os desejos insuflados pela mídia e marketing.
Das telas da TV, dos sites de compra, dos anúncios em rádios, da propaganda em outdoors ou de páginas de revistas as aspirações são novos modelos de carros, computadores, smartphones, geladeiras ou aspiradores de pó.
Em espaços herméticos além dos shoppings, fechados em condomínios ou em escolas e escritórios, o debate vai ou vem sobre meios efetivos para aumentar o culto ao vil metal. Como ganhar mais e com esse adicional financiar viagens para Miami, Aruba ou Bariloche locais frequentados pelos ricos e famosos, onde a moçada “Coca-Cola” se esbalda.
Trancafiados em telas a digitar um fac-símile da língua portuguesa ao qual mais e mais vocábulos do inglês se adicionam, encontraram outro universo, “terra à vista”, o virtual, em que podem se sentir seguros, limpos, distantes e ainda gritar ao universo apregoando sua presença.
Nenhum simbolismo poderia ser mais preciso que a comparação com o líquido negro do capitalismo que todos devem conhecer. Água com açúcar e gás combinada com extratos e química a compor algo que milhões ou bilhões consomem regularmente.
Equiparação esta que indica o quanto as pessoas são pressão apenas quando se rompe o lacre para depois se transformarem em algo consumível e de prazer apenas instantâneo que para o corpo se traduz somente em glicose a nada mais.
Geração Coca-Cola sem gás, alienada, feliz quando consome, triste quando não tem sonante no bolso, que diz adorar as pessoas mas que se esconde em suas igrejas sacrossantas do mundo presencial ou virtual, nos condomínios e conjuntos de lojas. E o futuro da nação repousa em suas mãos...
# Artigo: A Base Nacional Comum Curricular e as Linguagens