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João Luís de Almeida Machado é consultor em Educação e Inovação, Doutor e Mestre em Educação, historiador, pesquisador e escritor.

Mais uma dose...
João Luís de Almeida Machado

Nossos jovens e até adolescentes se perdendo em bebedeiras. O que fazer?

cartaz de divulgação da campanha contra alcoolismo de jovens

Campanhas governamentais alertam para o perigo do consumo de álcool pelos adolescentes

Passar na faculdade é uma conquista e tanto. Entrar numa universidade de ponta merece comemoração. É o início de uma nova fase na vida de um jovem recém saído da adolescência, que tem entre 18 e 20 anos.

É a chance de viver sem as amarras ou restrições da casa dos pais ou responsáveis. Numa república, alojamento universitário, pensão ou casa/apartamento alugado com pessoas em situação semelhante. Nestas horas vem à mente um milhão de coisas que será possível fazer que a mãe ou o pai certamente iriam censurar ou ao menos orientar para que não fosse assim.

Beber além da conta é uma destas práticas que entra em cena. Algumas vezes o universitário nem é tão afeito a uma cerveja ou a um copo de vinho, pelo menos não na frente da família ou em ocasiões sociais na cidade em que vive. Outras tantas já entrou na roda no Ensino Médio mesmo, nas festas de final de semana, tentando participar da festa da galera de modo descolado. Ajuda a socializar, a “chegar” naquela “gatinha” que a timidez algumas vezes afasta do pretendente.

E não são apenas os homens, ou melhor, os garotos recém-saídos da puberdade e motivados pelas conquistas amorosas e primeiras aventuras sexuais que acabam exagerando na dose. As moças também andam bem desenvoltas com as misturas alcoólicas que lhes permitem o ingresso nestas aventuras todas. E os excessos acontecem. Bebedeiras dignas de grandes ressacas e as consequentes dores de cabeça no dia seguinte. Alguns sem nem ao menos saber ao certo onde dormiram, o que fizeram, por onde andaram, com quem estiveram...

Fotos e filmagens em redes sociais no dia seguinte mostram as situações embaraçosas, algumas vezes desrespeitosas, nas quais todos os demônios que estão dentro das pessoas parecem soltos para exibições de quem ninguém quer se lembrar depois. Sobram cenas rasteiras, de humilhação mesmo, nas quais as pessoas fazem coisas das quais se arrependem, falam impropérios, soltam palavrões, ofendem até quem lhes é próximo, por quem tem consideração, quando não partem até mesmo para agressões físicas ou outros abusos.

cartaz de divulgação da campanha contra alcoolismo de jovens

Instituições como a OAB igualmente alertam a população quanto aos riscos.

A morte e os acidentes com jovens decorrentes de consumo excessivo de bebida alcoólica como a que ocorreu em Bauru, numa festa de estudantes da Unesp, em que um dos jovens tomou 25 doses de vodca, desmaiou, foi internado e faleceu, com a constatação posterior por exames que tinha problemas cardíacos (desconhecidos da família) é, infelizmente, algo que tem ocorrido com maior frequência do que deveria.

Fatos que, infelizmente, nenhum educador, familiar ou amigo queria que acontecesse, em hipótese alguma, é claro. O que fazer então para evitar ou diminuir a incidência de ocorrências de tal natureza nas universidades brasileiras ou mesmo no Ensino Médio e em cursos pré-vestibulares? Afinal, o combate ao uso de drogas ilícitas acontece e mesmo campanhas contra a ingestão de bebidas alcoólicas por menores são veiculadas regularmente, ainda assim nem a utilização de maconha, cocaína, ecstasy ou crack deixaram de ocorrer tampouco o consumo de álcool que, pelo contrário, tem até mesmo aumentado nestas faixas etárias.

O trabalho é braçal mesmo e começa dentro de casa, com os pais e responsáveis cerceando e impedindo o consumo de qualquer tipo de bebida alcoólica antes dos limites permitidos por lei, ou seja, evitando e não incentivando nem mesmo o “experimentar” uma cerveja ou um cálice de vinho. O exemplo e a ação da família são os primeiros passos para evitar que adolescentes entrem tão cedo no mundo do vício legalizado do álcool.

E quando o jovem completa 18 anos? O que fazer?

O compromisso passa a ser então o de orientar para o consumo consciente, ou seja, demonstrando a necessidade de controlar a quantidade de álcool ingerido com a finalidade de evitar constrangimentos e, principalmente, problemas de saúde.

Trabalhar no sentido de mostrar que é possível se divertir e socializar sem o uso de aditivos alcoólicos no caso de adolescentes ou com doses reduzidas entre os universitários é tarefa igualmente prioritária, neste caso, compartilhada entre familiares, educadores, autoridades e os próprios amigos.

cartaz de divulgação da campanha contra alcoolismo de jovens

O problema afeta tanto adolescentes e jovens do sexo masculino quanto feminino

O que se pretende com isso não é cercar liberdades, em especial no caso de jovens que já estão na faculdade, mas orientar, ensinar o caminho das pedras, deixar claro que excessos, em qualquer caso, causam problemas e dificuldades que podem até mesmo levar a fatalidades, seja pela ingestão exagerada que pode causar coma alcoólico ou por consequências posteriores, da ressaca a um acidente de automóvel ou uma queda com fraturas.

Beber socialmente, prática apregoada entre as famílias, que consiste no uso moderado e consciente deste produto, juntamente aos conhecidos, talvez seja a forma correta de agir. Num churrasco, por exemplo, alternando o consumo da carne, arroz, salada, maionese e outros produtos com a cerveja, bebericando água, suco ou mesmo refrigerantes para evitar que o álcool seja o único e grande protagonista, seria aconselhável.

Ao assim agir, bebendo socialmente e alternando o álcool com alimentos e outras bebidas não alcoólicas, o jovem deixaria de ser conduzido pela bebida e passaria a ser senhor de si mesmo, agindo de modo consciente quanto a seus atos e desfrutando de fato a ocasião e as companhias. Sem arrependimentos posteriores... Abaixo a ressaca!

Obs. Não faço apologia do consumo de álcool, apenas constato que isso vai acontecer entre os jovens quer queiramos ou não e que seria hipocrisia da sociedade, do mundo adulto, que utiliza tal produto, tapar os olhos ao problema ou mesmo achar normal tudo isso sendo que não é e nem deveria ser.



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