Planeta Educação

Cinema na Educação

João Luís de Almeida Machado é consultor em Educação e Inovação, Doutor e Mestre em Educação, historiador, pesquisador e escritor.

O Sorriso de Mona Lisa
Pela emancipação feminina

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Alguns especialistas chegaram a comparar “O Sorriso de Mona Lisa” ao vibrante e inspirador “Sociedade dos Poetas Mortos”, diziam que esse recente sucesso de Julia Roberts seria a versão feminina do bem-sucedido filme estrelado por Robin Williams e dirigido por Peter Weir. Talvez tenham sido iludidos pela atmosfera dos anos 1950 e pelo ambiente fechado de uma escola para moças, referências parecidas com aquelas percebidas em “Sociedade dos Poetas Mortos” (diferenciando-se apenas pelo fato de que “Sociedade” tem como pano de fundo uma escola de Ensino Médio, exclusiva para garotos, enquanto “Mona Lisa” retrata uma faculdade para moças).

A despeito de eventuais semelhanças, “Mona Lisa” não é um filme cujo principal enfoque está na educação libertadora, esclarecedora, em que se pretende que os estudantes percebam a riqueza da literatura ou da poesia como elementos definidores da essência da humanidade. Há alguns momentos e ações que nos levam a crer que a personagem Katherine Watson, vivida por Julia Roberts, tem perfil assemelhado ao do professor John Keating (Robin Williams) do filme de Weir (“Sociedade”).

Ela também está imbuída da idéia de que através de suas aulas é possível dar maior autonomia e preparo para que suas alunas enfrentem o mundo. Sua personagem também é obrigada a renovar o fôlego do curso que ministra com algumas variações didáticas pouco comuns ao universo da faculdade em que trabalha. A jovem professora de história da arte vivida por Roberts é, entretanto, muito mais que uma profissional em busca de renovação em seu trabalho pedagógico, ela é o protótipo de mulher moderna, livre, desimpedida e que quer quebrar as barreiras do mundo machista em que vive.

Julia encarna um feminismo antecipado em alguns anos. É uma mulher que está além de seu tempo e que não se conforma com o fato de suas alunas irem a faculdade para estudar sem as perspectivas futuras de tornarem-se profissionais e ingressarem no mercado de trabalho. Não há outro desejo nas estudantes que freqüentam suas aulas senão o de se tornarem futuras esposas, dedicadas e preparadas para transformar a vida de seus maridos numa existência confortável onde as aparências são mantidas (mesmo que cinicamente) a qualquer custo (ainda que isso signifique o sacrifício de suas honras e esperanças).

“O Sorriso de Mona Lisa” é um libelo em favor da emancipação das mulheres e uma pesada crítica ao conformismo que imperava entre as representantes do sexo feminino durante os anos 1940 e 1950. Olhamos para trás e percebemos que por trás de toda aparente felicidade dos lares americanos daquele período existiam mulheres restringidas em suas capacidades mesmo depois de terem sido convidadas a participar mais ativamente da sociedade em que viviam durante os anos da 2ª Guerra Mundial (quando os homens foram aos campos de batalha enfrentar os nazistas na Europa e muitas das funções exercidas por eles foram repassadas para mulheres).

A emancipação do jugo masculino, oferecida em virtude dos conflitos vividos em terras européias, era um blefe, uma necessidade de momento, em relação a qual houve um retrocesso considerável na década seguinte. “O Sorriso de Mona Lisa” nos leva a esse universo mascarado e também ao esforço de algumas mulheres (personificadas na professora de história da arte vivida pela estrela Julia Roberts) para não deixar que as conquistas de alguns anos atrás fossem perdidas para sempre...

O Filme

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Katherine Watson (Julia Roberts) é uma jovem professora de história da arte contratada por uma tradicional escola preparatória de jovens mulheres para ingressar em universidades. O Wellesley College realiza uma prática tradicional no ensino de 3° Grau nos Estados Unidos ao preparar de uma forma geral e ampla seus alunos para as escolhas profissionais especializadas que seguirão nas universidades. Há vários cursos oferecidos e os estudantes têm a opção de escolher aqueles que mais lhes agradam e se relacionam com as profissões que pretendem exercer no futuro.

Watson entra na instituição motivada pela possibilidade de fazer com que suas estudantes estejam bem preparadas não apenas para os futuros cursos universitários pelos quais irão optar, mas também para o exercício de cidadania e igualdade de oportunidades que deve imperar na sociedade americana. Ela mesma se sente parte da realização desses sonhos. É independente, não se casou (o que motiva comentários maldosos ao longo de sua estadia no Wellesley College), se sente profissionalmente estimulada a cada novo desafio proposto a ela,...

O que ela não imaginava era que iria encontrar em suas alunas o sonho conformista de um casamento feliz sem qualquer perspectiva profissional ou mesmo de aprofundamento nos estudos. Desafiada pelas estudantes em virtude de sua juventude, a professora de história da arte tem que comprovar sua qualidade profissional a cada nova aula, entretanto a despeito de sua luta particular, sente que seus esforços não redundarão num compromisso de superação da submissão das jovens a sociedade marcadamente machista em que vivem.

Ao invés da perspectiva de uma vida de realizações pessoais e profissionais conciliada com um casamento equilibrado, as moças parecem mais dispostas a servir de suporte para o sucesso de seus maridos e se conformar com o conforto material e a prosperidade financeira obtida pelos mesmos. O sonho da maioria delas é ter uma casa equipada com as novidades mais recentes em eletrodomésticos e uma festa de casamento celebrando socialmente uma união feliz e eterna (mesmo que isso signifique aceitar traições e ter que continuar sorrindo e fingindo desconhecimento de causa).

“O Sorriso de Mona Lisa” é instigante por nos mostrar o cinismo e a hipocrisia que reinavam em muitos lares americanos onde as mulheres eram passadas para trás e nem ao menos podiam correr atrás de suas realizações pessoais e profissionais. Parece mais com “Beleza Americana” com algumas pitadas do sonho de “Sociedade dos Poetas Mortos” percebidas na professora Katherine Watson. Ainda bem que as mulheres conseguiram superar tudo isso...

Aos Professores

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1- Há qualidades notáveis na jovem professora Katherine Watson (Julia Roberts) que podem servir de inspiração para nosso trabalho em sala de aula. Entre as principais poderíamos destacar a capacidade de superação em momentos de grande adversidade (quando é confrontada em sua primeira aula pela ‘sabedoria’ livresca de suas alunas), a paixão pelo seu trabalho ou ainda por utilizar recursos e estratégias diferenciadas. Nesse último quesito podemos lembrar da utilização de slides (imagens) e da visita a uma exposição. Valiosas lições para os professores surgem dessas aulas da personagem Katherine Watson, pois destacam o valor das imagens (e nesse ínterim podemos imaginar uso mais regular de transparências, do powerpoint ou ainda de filmes e livros de arte e fotografia) e da pesquisa de campo (visitas a museus, universidades, teatros, cinemas,...).

2- A emancipação das mulheres foi uma das maiores realizações do século XX. Pouco se fala sobre isso em sala de aula, sinal de que ainda há muito espaço e trabalho pela frente para que elas realmente possam se perceber como autênticas parceiras dos homens no comando das ações nesse nosso planeta. Contar essa história para os estudantes pode ser uma realização formidável e, a melhor maneira de realizar essa tarefa seria promover entrevistas com mulheres de diferentes gerações quanto a suas vidas e possibilidades. A realidade do mundo dos anos 1920, 1930 ou 1940 comparadas com as mudanças e transformações das décadas seguintes poderiam gerar o surgimento de um ótimo projeto.

3- O filme do diretor Mike Newell mostra em determinadas seqüências a publicidade como fator de orientação das ações das jovens estudantes, que passam a se interessar por máquinas de lavar roupas, geladeiras ou fogões modernos. Que tal examinar os mecanismos da publicidade e verificar de que forma os publicitários querem nos estimular a comprar e comprar mesmo quando não precisamos?

4- Uma outra possibilidade de trabalho interessante com esse filme (“O Sorriso de Mona Lisa”) seria a comparação entre ele e as obras dos diretores Peter Weir (“Sociedade dos Poetas Mortos”) e de Sam Mendes (“Beleza Americana”). Com isso poderíamos perceber atitudes e ações como a ironia e a hipocrisia em diferentes momentos assim como a criatividade e a capacidade de superação em outros. Pode ser importante para o fomento de debates sobre aparências e realidades, sonhos e frustrações...

Ficha Técnica

O Sorriso de Mona Lisa
(Mona Lisa Smile)

País/Ano de produção: EUA, 2003
Duração/Gênero: 125 min., Drama
Direção de Mike Newell
Roteiro de Lawrence Konner e Mark Rosenthal
Elenco: Julia Roberts, Kirsten Dunst, Julia Stiles, Maggie Gyllenhaal,
Marcia Gay Harden, John Slattery, Juliet Stevenson, Dominic West, Ginnifer Goodwin.

Links

- http://www.cinemaemcena.com.br/FICHA_FILME.ASPX?ID_FILME=1496&aba=detalhe
-http://www.adorocinema.com/filmes/sorriso-de-mona-lisa/sorriso-de-mona-lisa.asp
- http://cineclick.virgula.terra.com.br/criticas/index_texto.php?id_critica=823

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