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João Luís de Almeida Machado é consultor em Educação e Inovação, Doutor e Mestre em Educação, historiador, pesquisador e escritor.

A Era da Vertigem: Um mundo sem grandes perspectivas
João Luís de Almeida Machado

imagem abstrata que causa vertigem

“Estadão - Qual a consequência dessa valorização extrema do trabalho, para homens e mulheres?

Camille Paglia - A essência de nossa identidade se transforma no que fazemos no trabalho. Mas é correto nos identificarmos pelo que é tido como sucesso? Discutimos muito essa questão nos anos 60. As pessoas se interessavam por realidades mais elevadas, a vida, a morte, o sentido do universo. Hoje, quem se pergunta isso?

Quando você coloca todo o significado na sua carreira, está fadado à superficialidade e ao vazio. Há poucos lugares no topo de cada carreira. O que acontece é que, de repente, o corpo enfraquece e o que você sempre quis não tem mais tanto valor quanto sua saúde e sua família. Falta essa perspectiva a esse sistema, mas, infelizmente, as mulheres entraram de cabeça nele. Por isso digo que as que optaram por uma família numerosa são mais felizes. Estamos nos dirigindo para a ruína espiritual quando essas mulheres, que não queriam casar nem ter filhos, percebem o vazio do sucesso na carreira que pensavam ser o ponto mais alto do universo. Elas se sentem catastroficamente sozinhas. Já os homens... São os burros de carga da história, trabalham, trabalham. Também não sabem como sair dessa roda. Mas é por isso que odeio esse feminismo antimasculino. Homens trabalharam desde sempre para as mulheres. Para suas esposas e seus filhos.” (Entrevista da professora e crítica de arte Camille Paglia ao jornal “O Estado de São Paulo”)

Quem é você? Já repararam como é muito comum as pessoas se apresentarem dizendo seus nomes e a profissão que exercem ou o cargo que ocupam numa empresa? A ilusão de força e poder contida em cargos ou profissões é cada vez mais uma fuga e/ou uma incapacidade das pessoas em perceber quem realmente são e o que, de fato, lhes apetece...

Há algum tempo comentei com um colega professor que do jeito que as coisas estão indo logo mais não teremos mais amigos, apenas contatos.

Triste constatação quanto a um mundo que, como ressalta Camille Paglia, intelectual americana relacionada ao mundo das artes e dos costumes, vive como nunca antes um período de vertigens a assolar a todos.

Somos o que fazemos e reconhecidos seremos se tivermos êxito naquilo que realizamos, esta é a estrutura vigente que leva homens e mulheres a tentar galgar posições na hierarquia das empresas, em busca de promoção, reconhecimento, salários mais altos.

E o que há além disso?

Família, vida em sociedade, propósitos mais nobres como a solidariedade, engajamento político por real crença em bandeiras e postulados e não por interesses materiais, trabalho em prol da ciência, crença religiosa, a realização nas artes, o amor... O que há além do trabalho?

Alguns podem dizer que trabalhamos pela família e que com nossos esforços individuais geramos a riqueza coletiva que permite a ordem e equilíbrio sociais muito necessários para todos os povos e países.

Quem realmente pensa desta forma? Poucos são aqueles abnegados que conseguem enxergar um pouco além de seus próprios interesses. Não há relação direta de causa e efeito nestas considerações que seja realmente proposital senão para grupo reduzido de homens e mulheres que, além da labuta diária, ainda se dignam a trabalhar em prol daquilo que é coletivo.

O olhar está focado no trabalho, na carreira e nos ganhos pessoais. Há problemas em assim pensar e agir? A princípio é possível pensar que não há nenhum... Mas a médio e longo prazos, com o passar dos anos, quando nos damos conta de todos os esforços que fizemos e de como deixamos em segundo plano as demais esferas e o que de fato é significativo para nós, é que nos damos conta do que perdemos.

As mulheres, como diz Paglia, ao despertarem para este fato, percebem o vazio de tais conquistas, efêmeras como são e que sempre despertam a necessidade de novas vitórias, num fluxo eterno na luta por estes momentos dourados que são somente circunstâncias passageiras na vida delas. A solidão é outra consequência triste e nefasta desta vertiginosa correria em direção ao Olimpo no trabalho.

Os homens então, para a ensaísta norte-americana, “trabalham, trabalham e trabalham”, sendo os “burros de carga da história”, não tendo tempo de pensar sobre o que lhes oprime tão fortemente quanto esta inescapável responsabilidade de ganhar e oferecer cada vez mais para si próprio e para os seus próximos.

Vertigem é uma sensação mais do que incomoda, que nos faz sentir o chão tremer por conta das tonturas que nos atingem. Quem quer viver assim, num mundo sem perspectivas, inebriado por conquistas passageiras e, ao final, desiludido, triste e sozinho?



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